Imagine o seguinte cenário: alguém lhe oferece um copo de suco de laranja e, de repente, você não tem mais ideia do que a expressão “suco de laranja” significa. A cada três segundos, uma pessoa no mundo começa a apresentar sintomas como este, estreitamente relacionados à demência. Hoje, são 46,8 milhões de pessoas vivendo com o problema, das quais 1,2 milhão estão no Brasil. E a estimativa para os próximos anos é alarmante: em 2030, devem ser 74,7 milhões de pessoas com demência no mundo, e, em 2050, esse número passará para 131,5 milhões. Os dados são do Relatório Mundial de Alzheimer, publicado ontem pela federação Alzheimer’s Disease International.
A projeção para os próximos anos é feita a partir da rápida mudança ocorrida nos últimos tempos. De 2009 para cá, quase 12 milhões de novos casos surgiram. No Brasil, são cem mil a cada ano, dizem pesquisadores. — Geralmente, os sintomas aparecem depois dos 60 anos, mas o processo de demência começa cerca de três décadas antes. Como temos um número excessivo de neurônios, não sentimos. Só quando se chega ao limite é que se percebe — diz Wagner Gattaz, presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
Demência é um termo geral para doenças que afetam o cérebro e as funções cognitivas. O mal de Alzheimer, que não tem cura, é a causa de 60% desses quadros. Em segundo lugar, vêm as doenças vasculares, provocadas por obesidade, diabetes e hipertensão, por exemplo. — Para tentar evitar o problema, é preciso se alimentar bem, praticar exercícios, manter o peso ideal, controlar o estresse, beber com moderação e não fumar — elenca o geriatra Rubens de Fraga Jr., conselheiro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia ( SBGG). — E, quanto maior o grau de escolaridade, menor a chance de desenvolver qualquer tipo de demência. O melhor exercício nem é fazer palavras cruzadas, mas ler, porque estimula muito mais o raciocínio e a fantasia.
A importância do sol
O levantamento internacional destaca que 58% das pessoas com quadros de demência vivem em países em desenvolvimento ou pobres. A estimativa indica que, em 2050, esse índice chegará a 68%. A explicação vai ao encontro do que sugere Fraga Jr.: nações com baixo índice de educação, menos acesso à saúde e menos infraestrutura têm populações mais expostas às doenças que desencadeiam demência.
— Pessoas que mantêm estabilidade emocional ao lidar com as dificuldades da vida e que exercitam continuamente a área do cérebro destinada à resolução de problemas têm menos chance de desenvolver demência — diz o neurologista Cícero Galli Coimbra, professor da Unifesp.
Ele também explica que o hormônio conhecido como vitamina D, sintetizado pela pele a partir da exposição ao Sol, ajuda a manter a vitalidade dos neurônios. Quem quase não toma sol, portanto, tem mais chance de ter demência.
O relatório estima que o custo global do problema pode saltar para US$ 1 trilhão já em 2018 e, por isso, pede que os governos criem políticas públicas para tornar o diagnóstico e os possíveis tratamentos mais eficientes e baratos.
O Globo
O Globo