Um lugar onde vidas serão salvas e desperdícios serão eliminados porque não faltarão ferramentas e informações para que uma decisão seja tomada. Esse é o caminho definido pelos CIOs para o futuro
Imagine um hospital no futuro. As filas no atendimento foram eliminadas. Cada medicamento que sai da farmácia é rastreado e sua dosagem e validade são controladas a distância. Nos laboratórios os exames são feitos e encaminhados da forma mais rápida possível. O equipamento de diagnóstico mais complexo gera uma imagem que trafega quase instantaneamente para qualquer área. Na sala de cirurgia um paciente em estado crítico foi salvo porque o médico conseguiu tomar a decisão correta de forma rápida. Nada é desperdiçado e tudo é exemplo de boa administração e sustentabilidade.
Esse é o objetivo que as empresas do ramo estão buscando atualmente. O termo que define isso e ganha espaço no setor explica bem a situação – hospital inteligente. “Estamos trabalhando para isso, ter 100% de integração em qualquer informação que se possa imaginar e em qualquer área do hospital”, aponta o presidente da Associação dos CIOs de Saúde e gerente de TI do Hospital e Maternidade Cristovão da Gama, David Oliveira.
A diferença entre seu cargo exposto no crachá e sua função explica muito da complexidade da transformação que as instituições estão passando em busca desse futuro inteligente. Apesar de ser o homem da TI, Oliveira cuida, pelo menos de alguma forma, de tudo que possa ser enxergado como tecnologia. Os equipamentos de diagnóstico, por exemplo, são de sua responsabilidade a partir do momento que geram imagens que servem de subsídio para tomada de decisão por um médico.
Se uma máquina de suporte de vida de um paciente sofre interferência da rede wireless, é ele que se envolverá na solução desse problema. Se algo pode ser rastreado ou alguma informação captada e transferida, também. “Os CIOs de saúde têm uma rotina complexa e precisam entender que a evolução para um ‘hospital inteligente’ não é só TI”, comenta.
Tome, por exemplo, o lançamento da sala de cirurgia híbrida da Maquet, empresa do Grupo Getinge, na Hospitalar 2012. O conceito apresentado cria um ambiente no qual poderá ser realizado qualquer procedimento (neurológico, ortopédico, cardiovascular, etc) com diagnóstico por imagem, extrema esterilização, economia de energia e recursos e comunicação instantânea com qualquer profissional do lado de fora. Para isso, é preciso mexer na arquitetura, adotar novos processos, comprar máquinas modernas e montar uma infraestrutura ideal para que todas as informações digitais geradas sejam mostradas, armazenadas e enviadas de forma rápida e segura.
“Evidentemente que há TI aí, mas ela é a base sobre a qual tudo funciona”, diz a Gerente de Marketing da empresa, Jennifer Herbst. Segundo ela, o conceito foi bem aceito durante a Hospitalar e em breve deve fazer parte da oferta de alguns hospitais brasileiros. “O interesse foi grande não só pela modernidade e tecnologia que a sala expõe, os hospitais sabem que isso significa economia e diferencial no mercado”, diz.
Modernização tardia, mas promissora
O hospital inteligente é isso. Não adianta ter tecnologia de ponta para agradar aos olhos. É preciso ser uma instituição sem falhas, sem desperdícios e que dá as melhores condições para o trabalho dos profissionais e o melhor atendimento para seus pacientes. É uma complexidade que existe também em empresas de outros setores, mas nos hospitais ganha contornos ainda mais urgentes.
“Os hospitais começaram a trabalhar a TI só recentemente e nosso orçamento não é tão grande quanto bancos, fábricas ou empresas de telecomunicações. E enquanto nos atualizamos nisso, somos obrigados a lidar com uma nova forma de tecnologia que é só nossa e vem avançando de uma forma extremamente rápida”, lembra Oliveira.
Ele explica a situação. Os hospitais são diferentes de outras indústrias. Entre um servidor e um tablet na mão de um médico existem dezenas de tecnologias específicas que nos últimos anos deixaram de ser isoladas e exigem uma integração imediata. A cada dia mais informação digital é gerada por cada vez mais equipamentos em laboratórios, salas de cirurgia, balcão de atendimento e áreas de diagnóstico.
Qualquer processo demanda tecnologia. A movimentação de medicamentos numa empresa de saúde, por exemplo, é muito mais complexa do que o estoque e envio de peças numa indústria. Isso deve fazer a RFID (etiqueta inteligente) ser adotada antes no setor de saúde do que no varejo, que se pensava ser o “early adopter” para isso. Tudo num hospital está pedindo para ser integrado hoje em dia e ajudar a transformar o hospital antigo em um hospital inteligente.
Desafios e complexidade
Os desafios são grandes. “Quando falávamos em modernização há alguns anos a meta era ter uma operação sem papel ou com o melhor da TI. Isso mudou”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), Cláudio Giulliano. Para ele, a partir do momento que tudo que se possa imaginar como processo suportado por tecnologia em um hospital está interagindo, é quase impossível pensar num limite para os benefícios gerados e os novos serviços que surgirão.
“Um hospital inteligente não é assim porque tem vídeo ou smartphone na mão de funcionários, é uma série de soluções de telemetria, telemedicina que permitirão que pacientes sejam acompanhados por médicos ou parentes a distância ou que qualquer dado que se possa imaginar esteja disponível a qualquer hora e em qualquer lugar”, diz Giulliano. Para ele, um ‘hospital inteligente’ é o resultado de TI, tecnologia específica da área de saúde, cultura, transformação física das instituições, modernização de processos e gestão.
Fonte SaudeWeb