Secretaria de Saúde apura; incidente foi no Hospital Regional de Planaltina. Mãe teve hemorragia no globo ocular e relata dormência e dor de cabeça
O pintor Cleginaldo Souza mostra radiografia do filho; o bebê teve o braço fraturado durante o parto, em Brasília
(Foto: Alexandre Bastos/G1)
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal investiga as circunstâncias que levaram à fratura do braço direito de um bebê durante o parto. O pai, o pintor Cleginaldo de Sousa, afirma que a mulher esperou além do necessário para a realização do procedimento e que o médico forçou a passagem da criança. O incidente aconteceu em 30 de abril no Hospital Regional de Planaltina. A família quer entrar na Justiça.
De acordo com o pai, todo o atendimento antes do parto foi ruim. A família chegou à unidade de saúde por volta de 19h do dia anterior, depois de a grávida reclamar de dores. O médico que a examinou afirmou que ela apresentava leve infecção, mas que ainda não estava em trabalho de parto.
O casal voltou para casa, com a filha mais velha, de 16 anos. Ainda na garagem, a adolescente notou que a bolsa da mãe havia estourado. “A gente só entrou no carro de novo e foi embora. Por volta de 3h30 ela entrou em dilatação para valer, só que só levaram para a sala bem mais tarde. O neném só nasceu depois das 10h.”
Sousa diz que viu outras famílias reclamarem e que se assustou com a situação. “Parece que trabalham de má vontade. Eu assisti o parto, foi horrível. Vi criança nascendo fora de hora lá, com afundamento de crânio, rostinho machucado, mães gritando de dor, médicos dizendo ‘na hora de fazer você não estava gritando'. Quando eu assisti o parto da minha esposa, achei que ia perder ela.”
Por causa dos incidentes durante o parto, a mãe do bebê teve uma hemorragia no globo ocupar. Ela também relata dormências e dores de um lado da cabeça. O pintor relata ainda que o bebê não parava de chorar e que, no sábado à tarde, a irmã questionou a razão de ele só mexer a mãozinha esquerda.
“Chegaram a falar que isso é normal, que neném não mexe tudo assim. Domingo, quando fui dar banho, senti que estava estralando. Ele chorava muito quando eu tocava no braço. Pedi raio X ao pediatra, e ele disse que não precisava, que foi só inflamação de quando nasceu. Insisti, aí viram realmente quebrado, o bracinho já inchado”, lembra.
“Quebraram o braço dele 10h30 de sábado e só resolveram o problema dele domingo à tarde. Foi muito mais de 24 horas depois. Dei uma de doido, invadi a emergência xingando todo mundo logo, apareceu o diretor do hospital e resolveu o problema. Colocaram tala e enfaixaram, porque não podia engessar”, completou o pai.
Bernardo Gomes de Sousa segue com o braço direito imobilizado. Em nota, a direção-geral do Hospital Regional de Planaltina nega a demora para constatar a fratura e diz que o bebê foi encaminhado à ortopedia pediátrica do Base para tratamento.
Situações semelhantes são apontadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como violência obstétrica. Uma pesquisa feita em 34 países e divulgada no ano passado apontou que há casos de maus-tratos, violência física e sexual, discriminação e restrição de acompanhamento no parto.
Mais problemas
Mais problemas
O pai afirma que a criança continuou chorando depois da alta médica. Na quinta, a família voltou ao hospital para tentar descobrir o motivo. O casal e a criança foram encaminhados para o Base e depois para o Hospital Regional da Asa Norte. No local, Sousa conta que perdeu a paciência.
“Procurei chefia para reclamar e ignoraram. Até chegou viatura, acredito que foram eles que chamaram. Aí de repente resolveram, viram que era prioridade porque ele era recém-nascido. A medica foi, diz que lesionaram também o rosto do meu filho, do lado direito, na maçã. Ele chorava quando ia mamar. Aí ela deu um remédio e parou. Não deu detalhes, mas disse que ele não precisa operar”, diz.
Em nota, o hospital de Planaltina afirma que não havia sinais de lesão no rosto do bebê. “[Mãe e] seu filho foram atendidos durante todo o procedimento por equipe médica multidisciplinar e receberam toda a assistência da rede.”