A principal característica da dislexia é a dificuldade – lentificação – do processamento de informações, principalmente relacionados à leitura, escrita e interpretação de textos – funções fundamentais para se passar em um vestibular. Mas ter dislexia não impede que o jovem tenha sucesso na vida acadêmica – é preciso apenas adaptar o processo seletivo das universidades a este aluno.
Segundo a psicóloga Maria Inez Ocanã, especialista em neuropsicologia, da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), já existe um consenso entre as principais instituições de ensino do Brasil de que se deve dar ao disléxico condições diferenciadas no vestibular. A principal delas é um maior tempo para a realização da prova (cerca de uma hora e trinta minutos a mais). “Esta condição é fundamental se levarmos em conta a diferença apresentada pelos disléxicos em relação à velocidade de trabalho (na leitura e escrita).”
Segundo a psicóloga, isto ocorro devido ao processo de leitura utilizado pelo disléxico, que ativa áreas do cérebro não especializadas para esta função, fazendo a tarefa ser um processo de decodificação não automatizado, “o que leva à lentificação da resposta e ao cansaço excessivo relatado por alunos com dificuldades de aprendizagem em tarefas de leitura e escrita, principalmente as mais demoradas como, por exemplo, as provas de vestibular”.
Além disso, destaca, deve ser oferecido ao disléxico o direito de ter um ledor à sua disposição. “Este ledor, de preferência uma pessoa que tenha bom conhecimento do distúrbio, realiza a leitura da prova para o aluno e este, com este recurso, processa a informação mais rapidamente e registra sua resposta. O ledor não interfere nesta escolha”, diz.
Como no quadro da dislexia existe uma dificuldade de atenção, o aluno poderia marcar a resposta certa no caderno e transcrever de forma errada para a folha de respostas, este assistente de prova pode ainda revisar as anotações na folha de resposta. Inez destaca que, além da dislexia, é frequente coexistir o quadro de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o que torna ainda mais necessária esta revisão da folha de respostas.
“O ledor pode ainda ser auxiliar na redação – um dos maiores obstáculos para o disléxico numa prova de vestibular. Umas das formas de auxiliar neste momento é o aluno elaborar a redação e ditar para o ledor escrever. A nota ponderada também pode ter critério diferenciado.”
Outro ponto é o uso de calculadoras. Segundo a psicóloga, algumas universidades já permitem seu uso por jovens com dislexia, uma vez que eles demoram mais tempo, tanto na interpretação do enunciado como na resolução do problema. “Eles demoram mais, pois fazem o roteiro completo das tabuadas para cada conta que fazem”, explica.
Condições diferenciadas não são privilégio
Vale destacar que estas condutas diferenciadas não privilegiam os jovens com dislexia, mas os colocam em condições de igualdade, considerando suas necessidades diferenciadas para expressarem os conhecimentos adquiridos.
“Estas condições e possibilidades têm feito muita diferença em relação à autoestima das pessoas com dificuldades de aprendizagem, colocando-os aptos a conquistarem posições que de outra forma, talvez, não pudessem alcançar”.
Maria Inez destaca ainda que o valor do profissional disléxico já tem despertado o interesse inclusive de grandes empresas que também estão oferecendo estas mesmas condições diferenciadas aos disléxicos que participarem de concurso público para ingresso nos quadros de funcionários.
“É importante citar que estas condições diferenciadas devem ser solicitadas pelos interessados por ocasião de inscrição para o vestibular ou concurso público, além de apresentarem laudo conclusivo constando o diagnóstico de dislexia realizado por equipe multidisciplinar especializada”, finaliza.
Fonte O que eu tenho