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Crédito: Ricardo Benichio
Igor realizou seis cirurgias para conseguir locomover-se normalmente
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Há cerca de dois anos, Igor Pereira, de dez anos, se preparava para encarar uma cirurgia na coluna, quando esbarrou em determinações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
Igor nasceu com mielomeningocele – espécie de atrofiamento na coluna, e realizou seis cirurgias para conseguir locomover-se normalmente. Alérgico ao látex enfrentou alguns cancelamentos cirúrgicos devido à falta de luvas no País.
Postura ereta, ágil, de cabelos longos e trejeitos tímidos, Igor Pereira, de dez anos, não parece que começou a andar mais tarde do que a maioria das crianças. Mas seus primeiros passos foram aos cinco anos de idade depois de três cirurgias nas pernas, debilitadas pela má formação na coluna, caracterizada pela mielomeningocele.
“Se não fossem as cirurgias, ele estaria se arrastando até hoje”, afirma a mãe de Igor, Sheila Pereira, que o acompanha sempre que necessário até a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Igor precisou de seis cirurgias para poder ter a flexibilidade de hoje, podendo correr normalmente.
De ônibus, a maratona de uma hora e vinte minutos de Santo André, na região do ABC, até a entidade, localizada na Vila Clementino, zona Sul de São Paulo, já foi mais constante e penosa do que atualmente. Há dois anos, Igor se preparava para encarar a primeira cirurgia na coluna, quando esbarrou em determinações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Na época o mercado brasileiro enfrentava a falta de luvas cirúrgicas sintéticas (livres do látex) devido a exigências da Agência para a importação do produto.
“O momento mais complicado foi quando a cirurgia foi cancelada três vezes em um período de dois meses. A gente se preparava, conversava na escola, e eles cancelavam por falta do material”, relembra Sheila. A exigência de certificação compulsória, passando pela aprovação do Inmetro dificultava a importação desse tipo de produto ao Brasil; o que causou cerca de 60 cancelamentos de cirurgia na AACD na época.
Estima-se que em torno de 2% da população mundial tenha alergia ao látex, estando sujeita a reações graves. Entre os grupos de maior risco estão os profissionais de saúde e pacientes com malformações. Entre àqueles com espinha bífida, caso do Igor, a incidência de alergia gira em torno de 30%.
Com 10% dos pacientes em risco de alergia, a AACD foi uma das mais impactadas pela restrição da Anvisa e, por isso, uniu forças com outras entidades e fornecedores a fim de alterar a regra de importação.
A pressão surtiu efeito e a Agência autorizou – excepcionalmente -, em março de 2010, que hospitais importassem luvas cirúrgicas sem látex sem ter que passar pelo processo de qualidade exigido desde dezembro de 2009.
Em maio de 2012, a ação civil pública proposta pela Ministério Público Federal, exigindo mudanças na regulamentação, foi arquivada após a confirmação de que a Anvisa publicou a Resolução 55/2011, isentando a importação de luvas cirúrgicas e não-cirúrgicas livres de látex da certificação compulsória.
“Hoje não faltam luvas. O atendimento às pessoas intolerantes ao látex está garantido”, afirma o gerente médico do Hospital Abreu Sodré/AACD, Mauro Morais.
Apesar de menos flexível e com preço dez vezes maior ao da luva com látex, segundo Morais, a sintética é a única que protege os pacientes suscetíveis a riscos de alergia; evitando irritação na pele, ulcerações, eczema, urticárias, rinite e até choque anafilático.
Atualmente, a Ansell, empresa de capital australiano, é a principal fornecedora de luvas livres de látex da AACD. “Hoje conseguimos importar, mas o processo ainda é burocrático principalmente na etapa de registro do produto”, diz a gerente de marketing para Produtos Médicos da Ansell no Brasil, Adriana Sena-Tramel.
Além das luvas 100% livres de látex, a fabricante, que fatura US$ 1,2 bilhão por ano, desenvolveu uma luva com uma tecnologia, batizada de SureFit Technology™, que possui um punho especial que permite cobertura extra, evitando que a luva enrole em direção à mão, mantendo-se presa ao jaleco médico. De acordo com Adriana, esta é a maior queixa dos profissionais de saúde ao utilizarem o material mais comum.
Fonte Saudeweb