Enquanto o efeito placebo é alvo de inúmeras pesquisas, faltam informações científicas sobre o efeito nocebo e como ele afeta a prática clínica, indicam pesquisadores alemães em novo estudo.
O efeito nocebo, ao contrário do efeito placebo, é quando uma pessoa sente a piora de sintomas específicos ao ingerir um fármaco inerte, ou placebo – um comprimido de açúcar, por exemplo. Esta resposta, sublinham pesquisadores da Universidade Técnica de Munique, pode ser provocada por sugestão negativa não intencional por parte dos médicos ou enfermeiros ao informar o paciente sobre as possíveis complicações de um tratamento. “Os eventos adversos em tratamento com medicamentos, por vezes, acontece por um efeito nocebo”, apontam.
As conclusões foram feitas com base em uma metanálise – uma revisão de estudos. Foram pesquisados todos os estudos que continham como palavras-chave “efeito nocebo” e “nocebo” publicados no PudMed até 2011. O PubMed é um banco de dados que contém mais de 17 milhões de referências de artigos médicos publicados em cerca de 3,8 mil periódicos.
Só recentemente o efeito nocebo recebeu maior atenção dos pesquisadores. Em um dos resultados, os autores mostram que em cinco de outubro de 2011 haviam 151 publicações sobre o tema “nocebo”, em comparação com mais de 150 mil em “placebo”. E destas 151 publicações, apenas pouco mais de 20% eram estudos empíricos: o resto eram cartas ao editor, comentários, editoriais e opiniões.
Mecanismos psciológicos e neurobiológicos
No estudo, eles levantaram que os mesmos mecanismos psicológicos por trás do efeito placebo são também responsáveis pela resposta nocebo, que seriam a aprendizagem por condicionamento e reação às expectativas da informação verbal ou por sugestão dos possíveis efeitos colaterais.
Em um estudo experimental pesquisado, 50 pacientes com dor lombar crônica foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Antes de um teste de flexão de perna um dos grupos foi informado que o teste poderia levar a um ligeiro aumento da dor, enquanto o outro grupo foi informado de que o teste não tinha efeito sobre o nível de dor. O grupo com informações negativas, realizou menos flexões e relataram sentir dores mais fortes em comparação ao outro grupo.
Os autores descobriram também que os “mensageiros” químicos centrais responsáveis pelo efeito placebo estão envolvidos na resposta nocebo, no entanto eles agem de forma inversa. Enquanto a secreção de dopamina e os opióides endógenos é aumentada no grupo do placebo gerando a analgesia (fim da dor), no efeito nocebo, esta reação é diminuída gerando a hiperalgesia (sensibilidade à dor).
Porque o agravamento dos sintomas, por exemplo, aumento da sensibilidade à dor é frequentemente associado com a ansiedade, outros processos centrais estão envolvidos na dor. Até à data, uma predisposição genética para resposta ao placebo foi demonstrado apenas para a depressão e ansiedade social; tal predisposição para uma resposta nocebo até agora não foi mostrado.
E quais são as consequências para a prática clínica? “Os médicos encontram-se em um dilema ético entre a sua obrigação de informar o paciente sobre os possíveis efeitos colaterais de um tratamento e seu dever de minimizar o risco de uma intervenção médica e, portanto, para evitar que que se desencadeie o efeito nocebo”, respondem os autores em artigo publicado no periódico Deutsch Arztebl Int. “Como uma estratégia possível para resolver este dilema, sugere-se enfatizar a tolerância de medidas terapêuticas. Outra opção, com a permissão do paciente, seria a de não se discutir os efeitos indesejáveis”, finalizam.
Fonte O que eu tenho