Quem acompanha o atletismo e conhece os principais esportistas da categoria não deve ficar chocado quando se fala em correr descalço. Grande campeões mundiais já ganharam maratonas sem usar nenhuma tecnologia nos pés.
Há alguns anos, entretanto, o movimento mais natural da corrida vem ganhando espaço entre os amadores também. O principal medo a ser vencido é o perigo de pisar em algo que possa machucar a planta do pé. Em segundo lugar está o medo de deixar de correr com o calcanhar e aprender uma nova pisada.
Para a proteção dos pés, já há diversos equipamentos desenvolvidos. Alguns bem inusitados, outros muito similares aos tênis comuns. Já quanto à pisada, o movimento da passada parece ser o mais natural possível e correr com o calcanhar é algo que se aprende. Modificar este padrão é algo relativamente rápido.
“O barefoot running, ou corrida descalça em tradução livre, não me pareceu algo confiável no primeiro momento. Por isso botei a hipótese da corrida sem tênis à prova. Fiz uma série de testes com um equipamento de uma das marcas disponíveis no mercado. Depois de algum tempo recrutei alguns alunos e montei um grupo focal para trocar impressões sobre esse tipo de exercício, também chamado de ‘corrida minimalista’”, explica Giulliano Esperança, conselheiro da Sociedade Brasileira de Personal Trainners.
As impressões obtidas com o grupo vem sendo colhidas nos últimos seis meses, explica Esperança, que soma quase 500 quilômetros treinados com uma sapatilha do tipo “FiveFingers“. “A adaptação ao movimento foi natural e o mesmo foi observado pelo grupo focal. A musculatura da parte da frente e meio do pé e das pernas substituem o impacto no tornozelo. Essa combinação parece diminuir o impacto como um todo, absorvendo melhor o peso do corpo. Em testes em esteira, notamos, por exemplo, uma diminuição drástica no barulho decorrente das passadas. O barulho é sinônimo de impacto e, portanto, é sensível essa modificação no padrão”, observa o especialista.
Outro fator interessante, diz Esperança, é a chamada “plantificação dos dedos”, ou seja, notou-se uma maior extenção dos desdos após o treino. A hipótese de Giulliano é que as falanges, que se contraiam pelo uso do tênis, começaram a ficar mais alongadas.
“Por causa dessas modificações nas estruturas do pé e no novo padrão de pisada, todos os participantes também observaram um incômodo muscular maior – dores leves – nos primeiros dias de treino. Mas em menos de uma semana isso já estava superado.”
Em compensação, aponta o especialista em exercício, houve uma maior sensação de alívio no cansaço nos dias seguintes aos treinos. “Isso talvez porque os músculos se recuperem mais rapidamente com o tempo, já que é um conjunto muito utilizado no dia a dia e que deve ter uma taxa de recuperação mais refinada”, diz.
Mudança da corrida para o calcanhar
A mudança da passada da corrida para o calcanhar é recente. Foi somente na década de 1970 que os primeiros tênis com amortecimento começaram a ser desenvolvidos. Antes disso, basta buscar fotos históricas, e até mesmo esportes como o basquete utilizavam tênis planos, como o popular AllStar, que figurava nos pés das grandes estrelas da época.
Os novos tênis aumentaram o conforto, é verdade, mas podem ter contribuído com uma mudança que jamais foi imaginada pela natureza. Esse novo paradigma nas mudanças de pisadas mereceram até mesmo a criação de um grupo de pesquisa na Faculdade de Medicina de Harvard, nos EUA.
“Os tênis ainda são classificados com o tipo de pisada. Mas é a pisada no calcanhar, vale observar. Supindo, pronado e neutro são termos que não se aplicam quando você move essa pisada para a parte posterior do pé”, afirma Giulliano. “Essa modificação também melhora o equilíbrio durante os treinos”, completa o especialista que agora vai testar o novo padrão de exercícios em uma maratona completa.
“Os testes com o grupo focal, até o momento, trouxeram dados bastante interessantes. Analisamos treinos em esteira, em terrenos diversos e com durações variadas. A maratona é uma modalidade a ser observada também”, finaliza o especialista em exercícios.
Fonte O que eu tenho
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