A ferramenta para discussão de casos clínicos pela Web é inédita no serviço público e a implantação servirá de plataforma para que, nos próximos anos, a expertise do Instituto do Coração chegue a lugares mais remotos do País
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou na manhã desta sexta-feira montante de R$ 20,2 milhões para a ampliação de Serviço de Tele-emergência e Tele-UTI do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMSUP). Os serviços têm como objetivo prestar consultoria técnica, online e em tempo real, a unidades de emergência e de UTI do SUS, no atendimento de infartos e de casos cardiológicos complexos.
A ferramenta para discussão de casos clínicos pela Web é inédita no serviço público e a implantação servirá de plataforma para que, nos próximos anos, a expertise do Instituto do Coração chegue a lugares mais remotos do País. A meta inicial é implantar e manter 200 pontos remotos, em cinco estados – São Paulo (90), Bahia (35), Pernambuco (30), Paraná (30) e Distrito Federal (15). A distribuição dos pontos foi definida com os gestores estaduais, seguindo o critério populacional e as necessidades mais imediatas. Após implantação desta primeira proposta, o projeto será disponibilizado a todas as unidades federadas interessadas.
De acordo com Roberto Kalil, diretor da Divisão de Cardiologia Clínica do Incor, o Serviço de Tele-emergência e Tele-UTI do Instituto do Coração “é uma maneira efetiva de democratizar o acesso dos brasileiros aos avanços da ciência no tratamento das doenças do coração”.
Como funcionará o Serviço de Tele-emergência e Tele-UTI
A implantação do projeto ocorrerá em três etapas. A primeira, de cerca de seis meses, e que deverá ter início ainda no primeiro semestre deste ano, será a da instalação da infraestrutura física, tecnológica e de recursos humanos do Serviço.
Consta também dessa fase, a inserção dos primeiros serviços que farão parte da fase-piloto do projeto: os pronto-socorros da Lapa e do Butantã, na Zona Oeste de São Paulo. “Estimamos que no primeiro ano o serviço esteja disponível para todo o Estado de São Paulo e, ao final de dois anos, para todo o Brasil”, afirma o Dr. Múcio Tavares (diretor da Unidade Clínica de Emergência do Instituto) que, ao lado de Ludhmila Hajjar (diretora do Departamento de Pacientes Críticos do hospital), coordena o Serviço de Tele-Emergência e Tele-UTI Incor.
O ingresso das unidades de saúde no Serviço ocorrerá por indicação do Ministério da Saúde e Secretarias de Estado da Saúde. Mediante essa intermediação, as unidades admitidas receberão visita técnica da equipe do Incor para levantamento de necessidades de infraestrutura e de treinamento dos médicos, tanto para operar o sistema de discussão de casos clínicos pela Web, desenvolvido para o programa, quanto para executar o protocolo básico de diagnóstico e de tratamento da doença.
O sistema de discussão de casos clínicos é composto de equipamento de eletrocardiograma portátil, microcomputador com monitor de alta resolução, kit web, câmera full HD, microfone e headset. Possui ainda um software inédito no País, o MedCast, desenvolvido pelo Incor e pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), que integra com segurança e privacidade as informações do paciente em ambiente Web, recursos tradicionais de telemedicina (Webconferência com transmissão de dados, Chat, som e imagem) com os de um Call Center, explica Marco Antonio Gutierrez, diretor do Serviço de Informática do Incor.
Com o MedCast em um computador ao lado da maca, o médico do serviço de emergência usuário preenche os dados da ficha médica do paciente, classificando também o grau de emergência do quadro. No Incor, o médico na estação de trabalho vê na tela do computador o aviso de chamada e a classificação de sua gravidade, de maneira que os casos mais urgentes sejam priorizados.
A partir da conexão, começa a transmissão de dados, imagens e voz numa webconferência entre os médicos, com o propósito de definir o diagnóstico e, se este for cardiológico, discutir a melhor conduta terapêutica.
Toda a discussão do caso clínico e as informações sobre o paciente são armazenadas em um banco de dados para consultas e análise futuras.
Custos em vidas e recursos podem ser minimizados
“Doença cardíaca mal diagnosticada resulta em tratamento ineficaz, maior incidência de morte e pior qualidade de vida para o paciente na evolução da doença”, diz a Dra. Ludhmila, coordenadora do Serviço de Tele-Emergência e Tele-UTI Incor.
No Brasil, diz Ludhmila, de 85% a 90% das pessoas com infarto agudo do miocárdio que são atendidas nos serviços médicos permanecem nessas unidades de saúde apenas para observação, quando já deviam estar sob tratamento intensivo, ou para tratamento de complicações decorrentes de diagnóstico tardio do infarto.
O fato resulta num péssimo prognóstico para o sistema de saúde do País. Isso porque as doenças cardiovasculares são tão mais dispendiosas quanto mais avançado é o estágio da doença. Um exemplo claro dessa relação perversa são os gastos com o tratamento da Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC), uma das sequelas mais comuns do infarto não adequadamente tratado.
Em 2011, a ICC foi a terceira causa de internação no Brasil e consumiu 2,6% de todos os recursos aplicados em saúde pelo SUS. Em 2011, o que se gastou com internação por ICC representou 27% (R$ 305 Milhões) a mais de tudo o que foi despendido em infarto agudo do miocárdio.
Telemedicina
A Rede Universitária de Telemedicina (RUTE), que promove educação em saúde a distância no país, ganhou mais cinco núcleos – dois em São Paulo, um na Bahia, um no Paraná e um no Rio de Janeiro. Com isso, a rede passa a contar com 73 núcleos, no total. A meta é ampliar para 158 até 2014.
A iniciativa é coordenada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, com o apoio do Ministério da Saúde. A rede viabiliza a realização de 600 sessões de vídeo e webconferência por ano, e, em média, duas a três sessões científicas diárias, com a participação de 300 instituições da América Latina.
Os novos núcleos foram instalados na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (BA), no Hospital Universitário Regional de Maringá da Universidade Estadual de Maringá (PR), no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into/RJ), no Incor e no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (Centrinho) da Universidade de São Paulo (SP).
Além de promover o desenvolvimento da educação e da pesquisa, o objetivo da RUTE é contribuir para a melhoria da Atenção à Saúde no país, por meio do apoio ao Telessaúde Brasil Redes. Essa é uma iniciativa do Ministério da Saúde que promove a realização de teleconsultorias, telediagnósticos e “segundas opiniões formativas” na Atenção Básica.
“Qualidade e troca de experiências. Isso foi útil recentemente na ação de apoio e socorro às vítimas do incêndio em Santa Maria (RS). Utilizamos a rede RUTE para discutir os casos e condutas e ela continuará sendo utilizada também no acompanhamento dos pacientes que já tiveram alta. Temos muitos desafios, mas a qualidade e a excelência devem ser uma obsessão para o SUS”, afirmou o ministro.
Telessaúde Brasil redes
O programa Telessaúde Brasil Redes interliga núcleos de especialistas e unidades de saúde da Atenção Básica, que trocam informações com o objetivo de melhorar o atendimento no SUS e qualificar o diagnóstico e o tratamento no nível básico da assistência. O programa está em funcionamento em 14 estados e já realizou, desde 2005, cerca de 50 mil teleconsultorias, 666 mil telediagnósticos (análise de exames de apoio a distância) e 640 “segundas opiniões formativas”.
A rede é composta por 13 núcleos localizados em instituições formadoras de referência e órgãos de gestão. Conta com aproximadamente 2 mil pontos em Unidades Básicas de Saúde (UBS) de 1.152 municípios, com 21.260 profissionais das equipes de Saúde da Família com acesso à rede. Em 2012, o Telessaúde Brasil Redes recebeu um reforço de R$ 70 milhões para implantação de novos pontos e 64 núcleos, e estará presente, até o final de 2013, em 3.266 municípios de todas as unidades federativas.
Robô
O ministro da Saúde ainda anunciou o investimento em pesquisa para avaliar a eficácia de um robô cirurgião – batizado de “Robô Da Vinci” –, que poderá ser utilizado em cirurgias oncológicas e funcionais. O Ministério da Saúde destinará R$ 8,21 milhões. Será realizado estudo comparativo entre videocirurgia com e sem o uso do robô. O objetivo é avaliar o custo-efetividade para verificar a viabilidade de o robô ser incorporado ao tratamento no SUS.
As principais vantagens da cirurgia robótica são a precisão do instrumento e a destreza, o que evita tremores na manipulação. Além disso, o robô pode apresentar imagem tridimensional, o que dá maior capacidade para localizar os vasos sanguíneos, nervos e tecidos. Também reduz a fadiga do cirurgião. O robô poderá ser usado nos campos da urologia, ginecologia, cabeça e pescoço e aparelho digestivo.
Fonte Saudeweb