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Orgânicos: como qualquer alimento cultivado na terra,
eles não estão livres
de bactérias |
O cultivo sem o uso de agrotóxicos os torna mais saudáveis, mas não isentos
de riscos. Saiba mais
Lutando para ganhar mais espaço nas prateleiras e cardápios saudáveis, os
alimentos orgânicos levaram duro golpe em 2011, quando brotos
de feijão orgânicos cultivados na Alemanha foram apontados como veículos da
transmissão de uma nova e poderosa variação da bactéria E.coli.
O surto de contaminação segue mantendo a Europa em estado de alerta. Até
agora, mais de três mil pessoas foram contaminadas. Pelo menos 37 morreram e um
quarto dos afetados desenvolveu uma complicação chamada Síndrome Hemolítica
Urêmica (SHU), que afeta o sangue, os rins e o sistema nervoso, causando convulsões,
AVCs
e coma.
Tudo indica que esta variante da E.coli não deve chegar ao Brasil, mas as
notícias sobre a contaminação e os efeitos
da bactéria no corpo humano vêm gerando dúvidas sobre contaminação de
alimentos e principalmente sobre o consumo de orgânicos. Para esclarecê-las, o
iG Saúde consultou especialistas no assunto. Confira.
1- O cultivo orgânico é totalmente isento de substâncias
químicas
Sim. “Para ser orgânico, o alimento deve ser cultivado sem
quaisquer substâncias químicas, sejam elas fertilizantes sintéticos solúveis,
agrotóxicos ou pesticidas e, no caso de produtos de origem animal, antibióticos
ou hormônios”, explica a nutricionista Flávia Morais, da Rede Mundo Verde.
2 - Alimentos orgânicos estão livres de contaminação por
bactérias
Não, assim como qualquer outro alimento não-orgânico.
“Você não faz agricultura em ambiente estéril, em lugar algum. Qualquer planta
que esteja no ambiente pode ter contato com uma infinidade de bactérias e
fungos”, explica Rogério Dias, coordenador do Agroecologia do Ministério da
Agricultura.
O especialista diz que o cultivo de todo tipo de hortaliça – com exceção das
cultivadas em água (hidropônicas) – necessita de adubos orgânicos (esterco).
Para minimizar os riscos de contaminação, a legislação brasileira exige que o
esterco não seja usado na parte comestível dos alimentos. “Além disso,
recomendamos aos agricultores que submetam o adubo orgânico à compostagem
(técnica para controlar a decomposição de materiais orgânicos)”.
Sobre a contaminação dos alimentos pela bactéria E.coli, ele diz: “No
alimento orgânico ou não, ela pode acontecer no solo, pelas mãos do agricultor,
no transporte, na comercialização e no próprio manuseio do consumidor. Por isso,
qualquer produto que tenha contato com solo precisa passar por um rigoroso
processo de limpeza”.
3 - Orgânicos não precisam ser higienizados para o
consumo
Renato Caleffi, chef do Le Manjue Bistrô – restaurante na
capital paulista que só utiliza alimentos orgânicos –, diz que os cuidados de
higiene com a comida orgânica em nada diferem dos exigidos na utilização de
produtos não orgânicos. “O único cuidado extra é que os produtos
industrializados orgânicos, que não utilizam conservantes, têm uma durabilidade
menor”.
“Já os alimentos in natura orgânicos, como os folhosos, têm a mesma vida
útil, precisam ser bem armazenados e devem ser muito bem lavados antes do
consumo. Uma dica neste processo de higienização é usar vinagre ou água
sanitária para eliminar as bactérias”, orienta. Caleffi acrescenta que prefere
usar toalhas de papel em vez de pano de prato já que os de tecido podem virar
moradia de microrganismos e agentes infecciosos.
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Higiene das mãos: fundamental antes do manuseio de alimentos |
4 - Orgânicos podem ser consumidos crus
O alimento,
orgânico ou não, pode ser consumido cru desde que corretamente higienizado.
“Lave em água corrente para retirar a sujeira, deixe de molho por pelo menos 20
minutos em solução clorada. Já são encontradas no mercado pastilhas de cloro
para serem diluídas em água para higienização. Ou você pode preparar a solução
com 1 colher (sopa) de água sanitária para 1 litro de água. O cozimento em
temperatura adequada, acima de 70°C também mata as bactérias”, ensina Flávia
Morais, da Rede Mundo Verde.
A higienização, o preparo e o cozimento dos orgânicos são exatamente iguais
aos dos outros alimentos, endossa Raquel Pimentel, nutricionista da Educa e
Nutre, consultoria em nutrição, em São Paulo. Para diminuir os riscos de
contaminação, ela reforça a importância de lavar as mãos antes de manusear a
comida. O ideal, defende a especialista, é usar sabonete bactericida. Na
ausência dele, detergente e sabão neutro cumprem a função.
5 - O valor nutricional do orgânico é maior do que o
não-orgânico
Os alimentos cultivados sem substâncias químicas levam
essa vantagem, sim. A pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Sonia Cachoeira Stertz, especialista em orgânicos, já comprovou que esses
produtos são realmente mais saudáveis e mais nutritivos.
“Primeiro, eles não têm resíduos de agrotóxicos. Depois, por utilizarem
fertilizantes naturais, são nutricionalmente mais equilibrados.” Ela realizou
uma pesquisa com 10 produtos diferentes, entre eles o leite, o morango e a
batata. Os resultados: o leite orgânico tem de 40% a 80% mais elementos
antioxidantes; o morango tem mais sais minerais e a batata mais nutrientes do
que os convencionais.
“Estudos mostram que os alimentos orgânicos são realmente mais ricos em
substâncias antioxidantes, que previnem o envelhecimento e diminuem o risco de
doenças cardiovasculares. Pesquisas que compararam o valor nutricional de
alimentos orgânicos mostraram que a quantidade de minerais como magnésio e ferro
eram maiores que em alimentos não orgânicos”, completa a nutricionista Flávia
Morais.
6 - Orgânicos não engordam
Em relação aos valores
calóricos, eles não têm mais, nem menos calorias do que os convencionais, embora
sejam mais ricos em micronutrientes, vitaminas e minerais. E justamente por esse
maior potencial nutritivo, segundo Rogério Dias, especialista do Ministério da
Saúde, os orgânicos podem atuar sobre a “fome oculta”, auxiliando a perda de
peso. “A fome oculta é provocada pela deficiência de nutrientes. Consumindo um
alimento mais rico, a pessoa tende a ficar em maior equilíbrio e mais
saciada”.
7 - Orgânicos devem conter selo de certificação
Não é
somente a não utilização de agrotóxicos que define se um produto é ou não
orgânico. Para ter o certificado que garante o título, produtores devem se
enquadrar em mais de 50 normas diferentes de produção e comercialização,
incluindo armazenamento, rotulagem, transporte e fiscalização. Entre as
exigências estão a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas, o
manejo correto de resíduos, o emprego de processos que incrementem a fertilidade
do solo e a inclusão de práticas sustentáveis.
Em hipótese alguma é permitido o uso de sementes transgênicas, adubos
químicos, ou hormônios e antibióticos em animais. Desde o início do ano, o
certificado de orgânico passou a ser um selo único em todo o país, o Sistema
Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (Sisorg).
Fonte iG