Foto: Emílio Pedroso / Agencia RBS Ainda não há consenso, mas a ciência vislumbra um imenso potencial terapêutico no material obtido a partir da primeira dentição |
Quando a ciência começou a falar sobre as células-tronco, as aplicações terapêuticas ainda eram uma incógnita. Passadas mais de três décadas, o debate ético, religioso e científico continua em aberto, mas alguns avanços são patentes. O material, que antes era extraído do cordão umbilical e das células embrionárias (a fonte mais polêmica), agora pode ser obtido a partir dos dentes de leite. Há muitas vantagens nessa descoberta.
Os dentes são ricos em células do tipo mesenquimal, raras no cordão umbilical.
– As células mesenquimais são aquelas que se derivam em qualquer tecido do organismo, mas são apenas 1% das células do cordão, que têm na sua maioria células hematopoiéticas, que depois originam células sanguíneas. Por isso, descobrir uma fonte abundante e de fácil acesso é muito importante, porque elas podem ser usadas em qualquer doença que não as sanguíneas – explica Adriana Homem, diretora médica do banco de cordão umbilical BCU Brasil e coordenadora do centro de pesquisa da instituição.
Embora um pouco mais "vividas" que as células do cordão, as dos dentes podem ser igualmente úteis.
– A gente não precisa refazer as pesquisas para ver do que elas são capazes, porque são as mesmas células. Só muda a fonte – diz Adriana.
Alguns especialistas, no entanto, são mais cautelosos.
– Em tese, as células de cordão umbilical teriam mais capacidade de originar diferentes tecidos do que as dentárias. Para ter o mesmo potencial, as células de dente de leite precisariam de intervenção laboratorial – aponta Márcio Poças Fonseca, professor do Departamento de Genética e Morfologia da Universidade de Brasília e parte de um grupo de estudos focado no assunto.
Já Irina Kerkis, do Instituto Butantan, em São Paulo, chama a atenção para outra característica importante das células do dente: a sua maior imunocompatibilidade em relação às células de cordão.
– A compatibilidade é semelhante ao que ocorre com o transplante de medula óssea. Portanto, elas podem ser usadas por parentes e não parentes. Já as células mesenquimais de cordão são mais problemáticas nesse sentido – frisa.
Adriana Homem acredita que, a partir do ano que vem, os bancos privados de cordão já poderão receber também dentes. Já quanto à permissão para o uso em tratamento de pacientes no Brasil, ainda é incerto.
– Em um cenário otimista, eu diria que, em uma ou duas décadas, talvez, os pacientes já tenham acesso ao tratamento com células de dente, mas é apenas um palpite – arrisca Poças Fonseca.
Fonte Correio Braziliense
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