Medicamentos prescritos erroneamente são a causa de centenas de milhares
de mortes e lesões. Um sistema de identificação desses erros em tempo
real foi criado pela MedAware em Israel
Quando um menino israelense de 9 anos morreu porque seu médico de
primeiros socorros prescreveu acidentalmente o medicamento errado, o
internista Dr. Gidi resolveu criar uma maneira de prevenir erros de
prescrição – um fato assustadoramente comum, estimado em causar lesões e
mortes de mais de 200.000 pacientes todos os anos somente nos EUA.
Três anos após a tragédia, uma versão de teste ao vivo do
Sistema de Análise de Prescrição e de Alerta MedAware
– projetada por Stein, Tuvik Beker and Prof. Eytan Ruppin – será
instalada no Sheba Medical Center, o maior hospital de Israel, enquanto
estudos-pilotos são realizados no mundialmente renomado hospital de
Boston, no Brigham and Women’s Hospital e no Massachusetts General
Hospital.
Com base na análise de grandes volumes de dados de registros clínicos
eletrônicos, a MedAware alimenta o seu software com padrões de
prescrição usados por médicos, identificando assim potenciais erros de
prescrição em tempo real.
“A facilidade com que um menino morreu por causa de um clique
equivocado de um botão foi horrível para mim como médico e como pai”,
relata Stein a ISRAEL21c.
O nascimento da MedAware
Ele era a pessoa excepcionalmente qualificada para resolver o
problema. Antes de frequentar o curso de Medicina, Stein era um
engenheiro de software, tendo concluído mais tarde seu doutorado em
biologia computacional na Universidade de Tel Aviv, onde é docente de
Medicina Clínica e Imagem Molecular.
Ruppin é professor de Ciências da Computação e de Medicina e
autoridade internacional em Modelagem Biomédica e Aprendizado de
Máquinas. Ele foi o orientador do doutorado de Stein. Ruppin concordou
em ser cofundador da empresa em 2012, trazendo consigo o especialista em
logaritmos e aprendizado de máquinas Tuvik Beker.
“Por mais de um ano, realizamos estudos-pilotos em Israel,
trabalhando noite adentro sem receber nada por isso. No ano passado,
tivemos a sorte de sermos aceitos na aceleradora MassChallenge”, explica
Stein.
MassChallenge,
a maior aceleradora de startups do mundo, abriu recentemente a
MassChallenge Israel, seu primeiro programa oficial fora de Boston.
Durante os quatro meses de programa da aceleradora, as empresas
israelenses selecionadas tiveram acesso a mentores de nível
internacional, uma grande comunidade de empreendedores, treinamento,
eventos de networking, espaço gratuito para escritório e prêmios em
dinheiro.
“Boston é a meca das empresas da saúde. O fato de ter estado aqui por
quatro meses ajudou a expandir horizontes e a abrir novas portas”,
assim Stein.
“Após nosso sucesso lá, juntamos nossa primeira rodada de
investimentos vinda de investidores anjos israelenses. Essa rodada foi
estendida e nós praticamente dobramos o nosso investimento inicial.
Estamos agora no meio de nossa segunda rodada
OurCrowd [localizada em Jerusalém] .”
Soluções existentes que não funcionam
O sistema da MedAware assinala erros incluindo a prescrição de um
medicamento com um nome similar ao pretendido, a prescrição de um
medicamento ao paciente errado e a prescrição de um medicamento
contraindicado por dados laboratoriais/diagnósticos recentes.
Segundo Stein, é um sistema único no mundo todo.
“As soluções atuais são em sua maioria sistemas baseados em regras,
como bases de dados de interações medicamentosas”, explica Stein. “Eles
identificam vários erros, no entanto, há dois problemas: primeiro, você
somente encontra aquilo que você definiu como uma regra. Há muitos
erros aleatórios que ninguém imaginaria que fossem possíveis, como um
menino de três anos recebendo a prescrição de uma pílula
anticoncepcional ou um paciente sem câncer recebendo a prescrição de um
medicamento para quimioterapia. Esses erros realmente ocorrem.
O segundo problema é que mais de sete por cento das prescrições são
assinaladas pelos sistemas atuais, e 90% dessas identificadas são alarme
falso. Isso leva a uma “fadiga de alerta”, fazendo com que os médicos
ignorem o alerta. Na prática, as soluções atuais não funcionam, e
ninguém as usa.
Shimon Kosowitz, farmacêutico em uma filial Rishon LeZion, uma das
organizações de saúde de Israel, afirma a ISRAEL21c que, em Israel, os
controles e as estimativas pormenorizadas existentes para evitar erros
geralmente funcionam bem, sendo que em outros países há uma necessidade
mais premente para uma solução como a oferecida por MedAware. Ele
iniciou a sua carreira na Austrália, onde as prescrições ainda são
escritas a mão.
“Se a letra não é legível, as pessoas adivinham o que deve ser dado”,
conclui Kosowitz. “Muito depende da capacidade do farmacêutico em não
cometer um erro.”
Os farmacêuticos na Austrália digitam o nome do medicamento e as
instruções de uso no computador e, em seguida, buscam o medicamento na
prateleira e escaneiam o código de barras para verificar se o que foi
digitado confere. “Se lerem mal a receita e preencherem os dados de
acordo com o que leram, o código de barras estará correto, e não
perceberão o erro”, esclarece Kosowitz. “A necessidade de um sistema
melhor é indiscutível.”
Em estudos de larga escala, o Sistema de Análise de Prescrição e de
Alerta MedAware identifica erros de prescrição fatais que escaparam da
detecção de sistemas de alerta existentes em mais de 1% dos pacientes. A
tecnologia pode ser ajustada de acordo com as respostas dos médicos e
os dados atualizados de registros clínicos de pacientes ativos, obtidos
por meio de uma parceria com Elad HealthCare Solutions.