BBC: Kieran Sorkin, 9 anos, se incomodava com a malformação de suas orelhas, agora arrumadas |
Britânico Kieran Sorkin, 9 anos, nasceu com uma anomalia genética caracterizada pela malformação dos órgãos
Kieran Sorkin é um garoto inglês de apenas nove anos que até pouco tempo
atrás tinha que lidar com o bullying diário na escola por conta de um
problema estético: ele não tinha a maior parte das orelhas.
O jovem nasceu com uma anomalia genética chamada microtia,
que caracteriza por uma malformação das orelhas. No local onde elas
deveriam estar, Kieran tinha apenas os lóbulos.
Passando por uma
cirurgia estética reconstrutiva no hospital infantil Great Ormond Street
de Londres, Kieran ganhou orelhas, foram criadas a partir de pedaços da
cartilagem de seis das suas costelas.
Os pedaços foram cortados,
moldados e costurados para depois serem inseridos em pedaços de pele do
garoto. Em seguida, usando a técnica da sucção, eles assumiram a forma
das orelhas direita e esquerda do menino.
Risadas doloridas
O resultado da operação foi considerado muito positivo por Kieran, que saiu aliviado por não ter de ouvir mais piadas dos colegas por causa de sua anomalia.
O resultado da operação foi considerado muito positivo por Kieran, que saiu aliviado por não ter de ouvir mais piadas dos colegas por causa de sua anomalia.
“Eu quero que as pessoas parem de me fazer
perguntas. Eu apenas queria parecer igual aos meus amigos”, disse o
menino. “Eu queria também poder usar óculos de sol e fones de ouvido.”
Próteses das orelhas feitas a partir da cartilagem das costelas do menino britânico |
Três dias depois da cirurgia, Kieran recebeu um espelho
para ver as novas orelhas. Sua primeira reação foi de surpresa: “Uau!”. O
garoto começou a rir incontrolavelmente, mas a operação feita também na
costela fazia com que ele sentisse dor com as risadas.
Kieran
ainda vai precisar de uma segunda operação nos próximos seis meses para
deixar as orelhas mais separadas do couro cabeludo.
Benefícios psicológicos
Kieran também nasceu surdo, mas já tinha resolvido o problema da audição com uma cirurgia prévia. A questão estética, porém, ainda o incomodava.
Kieran também nasceu surdo, mas já tinha resolvido o problema da audição com uma cirurgia prévia. A questão estética, porém, ainda o incomodava.
“Ele
é um garoto muito sociável e esperou anos por essa operação. Eu não
quero crianças fazendo bullying com ele porque ele é diferente. Só
queria que todos o aceitassem”, comentou Louise Sorkin, mãe de Kieran.
Na
manhã da operação, o cirurgião plástico Neil Bulstrode usou como modelo
a orelha de Louise para moldar o novo órgão do filho. “Quando um
paciente tem uma orelha, nós podemos imitá-la na nova orelha. Ainda bem
que a mãe de Kieran tinha uma orelha muito bonita, então isso funcionou
bem”, explicou o médico.
O
hospital Great Ormond Street faz 40 dessas operações de reconstrução de
orelha por ano, sendo a maioria para criar apenas uma orelha “ausente”.
A cirurgia é estética e não serve para melhorar as condições auditivas.
Mas o doutor Bulstrode explica que ela traz benefícios psicológicos
impactantes.
“Se você pode mudar a confiança de um paciente nessa
idade tão jovem, pode mudar a trajetória inteira da vida dele”, conta.
“Você pode perceber isso quando eles voltam. É um incentivo enorme para
eles.”
Engenharia dos tecidos
Avanços na “engenharia dos tecidos” indicam que esse tipo de cirurgia reconstrutiva poderá ser feito de uma forma diferente em uma década. Cientistas do Instituto de Saúde para Crianças da Universidade de Londres, estão criando células-tronco a partir do tecido de gordura dos pacientes.
Avanços na “engenharia dos tecidos” indicam que esse tipo de cirurgia reconstrutiva poderá ser feito de uma forma diferente em uma década. Cientistas do Instituto de Saúde para Crianças da Universidade de Londres, estão criando células-tronco a partir do tecido de gordura dos pacientes.
O Instituto, que é um parceiro de pesquisa do hospital de Great Ormond Street, induz as células a produzirem cartilagem ou osso.
Uma
das líderes do grupo de estudos em desenvolvimento e regeneração do
Instituto, a doutora Patrizia Ferretti, disse que “esse tipo de
abordagem seria bem menos ‘invasivo’ do que o atual método de colheita
de cartilagem da costela de uma criança."
No ano passado,
cientistas dos Estados Unidos implantaram uma orelha semelhante à humana
criada a partir de células de vacas e ovelhas em um rato.
Mas
estudos como esse ainda estão apenas nos estágios iniciais e, para um
futuro próximo, crianças que necessitem de novas orelhas ainda
precisarão passar pelo mesmo procedimento usado no hospital de Great
Ormond Street.
BBC Brasil / iG
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