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terça-feira, 12 de agosto de 2014

OMS enfrenta dilema ético sobre quem receberá tratamento para ebola

Foto: EPA - Quadro mostra ebola 'goleando' ações do governo na Libéria
Em encontro nesta segunda-feira, profissionais discutiram liberação de droga que está sendo usada em americanos 

Após o aparente sucesso de um tratamento de ebola feito em médicos americanos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reuniu especialistas em ética nesta segunda-feira, em Genebra, para discutir se é certo usar remédios que nunca foram testados em humanos -e, neste caso, quem deve receber o medicamento, já que a oferta é limitada.

A decisão da OMS é complexa. Se a organização não aprovar o uso do medicamento por ele ainda ser experimental, pode enfrentar acusações de ter restringido o uso de droga com potencial de salvar vidas a trabalhadores de saúde de países ricos.
Por outro lado, liberar o uso da droga pode trazer acusações de que a maior organização de saúde do mundo autorizou experimentos com medicamentos potencialmente prejudiciais em parte da população mais pobre do mundo.

Dois profissionais de saúde americanos infectados pelos vírus aparentemente melhoraram após receber doses deste medicamento. A melhora nos seus quadros, porém, também pode estar ligada às condições de tratamento nos EUA, para onde foram levados.

No domingo, autoridades espanholas autorizaram o uso da mesma droga para um sacerdote espanhol infectado pelo vírus na Libéria, que foi levado para Madri.

Não há nenhum tratamento ou vacina conhecidos para o ebola.

Na discussão na OMS, será preciso antecipar o que poderá acontecer se o medicamento for adotado mas se provar ineficaz ou até mesmo prejudicial, de acordo com o especialista em ética médica Daniel Sokol, do 12 King's Bench Walk Chambers, de Londres.

"É preciso discutir como a mídia e a comunidade local irão reagir e as consequências dessa reação para as vítimas, profissionais de saúde e outros, e como deve ser o processo de seleção de candidatos ao tratamento", disse.

A preocupação com os danos que um tratamento mal-sucedido podem causar se explica porque já existe uma desconfiança em relação a profissionais de saúde, o que prejudica a contenção da epidemia.

No passado, muitos profissionais de saúde foram contaminados, e os hospitais, sem condições adequadas de infraestrutura, ajudaram a propagar a doença.

De acordo com Sokol, na epidemia de 1995 em Kikwit, na República Democrática do Congo, a relação entre o hospital e mortes de ebola era tão clara que gerou um boato de que os médicos estavam assassinando os pacientes que haviam roubado diamantes de minas locais.

Já na epidemia de Uganda, moradores acreditam que pessoas brancas roubavam parte do corpo das vítimas para lucrar. Médicos ocidentais eram vistos como suspeitos e acreditava-se que estavam trazendo a doença.

Em janeiro de 2002, um grupo de especialistas teve que fugir da vila de Mekambo, no Gabão, ao ser ameaçado por moradores.
 
Foto: EPA - Enfermeiro orienta parentes de vítimas na Libéria
Estigma
A desconfiança em relação aos profissionais estrangeiros vem desde o início do século XX, quando os colonizadores desprezavam os costumes locais. Quando houve uma epidemia de doença do sono no então Congo Belga, os moradores, obrigados a tomar remédios de cuja eficácia duvidavam, se revoltaram.

Além da desconfiança em relação a profissionais de saúde, há ainda a questão do estigma que aqueles que se curam do ebola carregam. Apesar de não existir um remédio em uso para a doença, o corpo dos pacientes pode reagir sozinho e combater o vírus.

Em epidemias anteriores, afirma Sokol, alguns sobreviventes não foram aceitos de volta em sua comunidades. Outros não conseguiram mais encontrar trabalho ou foram abandonados por seus parceiros. Após a epidemia de 2000/2001 em Uganda, as casas de alguns sobreviventes foram queimadas.

"É contra esse passado complexo historicamente, culturalmente e socialmente que os especialistas em ética terão que tomar uma decisão. As normas de ética médica, como a permissão para tratamento, também podem ser diferentes lá, e existe o perigo de transpor normas ocidentais para culturas diferentes", afirma.

G1

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