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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Sob pressão de custos, companhias se unem para cortar gastos com saúde

Gestão de negócios para reduzir custos na sua oficinaOs custos com planos de saúde transformaram-se num pesadelo para as empresas. Na maioria delas, representa a segunda maior despesa com pessoal, perdendo apenas para a folha de pagamento. Em alguns casos, até mais

O descompasso entre aumentos de preços em geral e a chamada inflação médica começou em meados da década passada. Mas tornou-se mais perceptível a partir do controle inflacionário. Os reajustes nos planos de saúde equivalem hoje a duas a três vezes o índice do IPCA, segundo pesquisa feita no ano passado pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) e a Aliança para a saúde populacional (Asap).

Em conversas informais empresários perceberam que tal pressão de custos era comum a todos. Há seis meses, a ABRH e Asap – essa última representante de consultorias especializadas na gestão de saúde – criaram um fórum, que mensalmente reúne executivos para trocar experiências. As mais bem-sucedidas revelam empresas que incluíram a saúde dos empregados nos programas de gestão.

As empresas instaladas no Brasil arcam com dois terços do que se gasta com saúde no país, segundo dados da ABRH e Asap. Elaborada pela união das duas entidades, a pesquisa concluída no segundo semestre de 2017 envolveu 668 empresas que, juntas, têm 1,3 milhão de empregados e 3 milhões de beneficiados, incluindo dependentes. Um universo equivalente a quase 10% do total coberto pelos planos de saúde no país.

À pesquisa a maioria dos entrevistados respondeu que os reajustes de preços desses planos equivalem a, no mínimo, duas a três vezes a inflação e alguns garantiram que já arcaram com aumentos seis ou sete vezes acima do IPCA. “É como se a boca do jacaré não parasse de abrir”, diz o diretor de desenvolvimento de pessoas da ABRH Brasil, Luiz Edmundo Rosa. Segundo ele, o fórum reúne, por enquanto, 20 grandes grupos, entre os quais estão Itaú, Petrobras, Johnson & Johnson, Pirelli, Sherwin Williams e Natura. A união para cortar custos e incluir a saúde na estratégia empresarial provocou a necessidade de formar as equipes de recursos humanos. Em parceria com uma universidade cujo nome está em sigilo, em maio será lançado um curso de capacitação em gestão de saúde corporativa. “Antes, falávamos do problema para nós mesmos. Mas não adianta reclamar dos aumentos de preços e simplesmente delegar às operadoras o cuidado com os funcionários.

É preciso criar uma inteligência de saúde dentro da empresa”, diz a presidente da Asap, Ana Elisa Siqueira. Para Rosa, da ABRH, os empresários correm sérios riscos de não conseguir conter essa escalada de custos quando delegam a uma única pessoa a responsabilidade de gerir a segunda maior despesa da companhia. Mas muitos já se deram conta disso.

Desde outubro de 2016, a farmacêutica Biolab tem uma área interna criada pelas áreas de recursos humanos e financeira. Em parceria com uma consultoria, foram tomadas várias medidas. Uma delas consiste em fazer uma análise de todos os pedidos de procedimentos médicos e exames dos seus 6,9 mil funcionários. Às 6h da manhã, diariamente, a superintendente de RH, Luciana Lourenço, recebe uma lista dos pedidos que envolvem as principais especialidades, como ortopedia e cardiologia.

Na triagem, médicos que trabalham para a empresa podem ser acionados para dar uma segunda opinião. Mas, segundo Luciana, o sucesso desse tipo de ação depende da confiança do trabalhador na empresa. A Biolab fez parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi) para oferecer exames em clínicas ambulantes, que estacionam nos pátios das fábricas do grupo. E acompanha todas as internações.

Bosch criou um comitê que trabalha na saúde como se fosse desenvolver um novo produto da companhia.

Os resultados são gratificantes. Luciana acompanhou toda a recuperação do filho de um funcionário do Espírito Santo. O garoto ficou órfão depois de um acidente em que os pais morreram e ele ficou gravemente ferido. "No modelo antigo eu não conseguiria interferir; só saberia o que aconteceu quando recebesse o relatório do tempo que ele passou na UTI", diz.

As grandes empresas têm trocado planos pré-pagos por pós-pagos, nos quais só se paga quando usa. "O risco de fazer essa troca sem, paralelamente, criar um programa de gestão é como deixar o carro sem seguro estacionado numa rua escura", diz Luciana.

Com as duas ações, em um ano a Biolab reduziu os custos com plano de saúde em 30%. "Pagamos hoje, por beneficiado, o equivalente ao valor de três anos atrás", diz o diretor financeiro, Alexandre Iglesias. "Se as empresas não assumirem essa gestão terão que arcar com uma despesa impagável".

A preocupação dos empresários com os custos com planos de saúde não afeta apenas o Brasil. Conforme noticiado na edição de ontem do Valor, três gigantes americanas - Amazon, Berkshire Hathway e JP Morgan - uniram-se para criar uma empresa sem fins lucrativos para conter gastos com os planos de saúde de seus quase 1 milhão de funcionários.

Com 8,5 mil funcionários e 24 mil vidas, incluindo dependentes, a Bosch decidiu enxugar a estrutura de convênios ao perceber que o "crescimento desse custo estava desproporcional", diz o diretor de Recursos Humanos, Fernando Tourinho. "Nada sobre 20% a 22% ao ano." Também na Bosch, o custo com saúde representa a segunda maior despesa com pessoal. Há quatro anos, o número de operadoras foi reduzido de oito para três e a quantidade de planos caiu de 27 para sete.

Mas a ação que mais orgulha Tourinho foi a criação de um comitê interno que envolve gestores de RH, médicos internos e funcionários de outras áreas. Segundo o executivo, a ideia é fazer com a saúde o que um grupo de trabalho faria se tivesse que lançar um novo produto da Bosch. "Se sabemos desenvolver a inteligência artificial de um automóvel temos a obrigação de saber fazer o mesmo com a vida das nossas pessoas", destaca.

Parcerias com consultorias, Sesi e um trabalho de revisão do cardápio das fábricas para oferecer alimentos mais saudáveis e reduzir o nível do sal também fazem parte da mudança de conceito sobre saúde na Bosch. Esse esforço ajudou a cortar custos. Mas Tourinho não revela números. Segundo ele, vale mais a qualidade atingida.

O presidente do Grupo Fleury, Carlos Marinelli, defende a integração entre as operadoras, planos de saúde e hospitais. "Não temos bala de prata para resolver os problemas. Este é um setor complexo e que tem incentivos cruzados, difíceis de serem resolvidos, principalmente por ser uma área muito politizada", diz.

Nessa mudança de modelo, começa a mudar também o perfil do exame ocupacional. Os médicos que prestam esse serviço abriram o jogo e contaram à equipe da Bosch que no exame ocupacional eles não têm tempo de "ser médicos". "Se um operário me diz que está com gastrite, não dá tempo de examiná-lo", contou um deles. Para eliminar a parte das perguntas, a empresa implantou um software que leva ao médico o prontuário do funcionário antes de ele entrar na sala.

Já faz mais de oito anos que a prevenção entrou na agenda da General Electric . Com a ajuda de consultores, foi implementado um forte programa de combate ao tabagismo, sedentarismo e obesidade. Com convênios com seis operadoras, a empresa também trocou o plano pré-pago pelo pós-pago. A conduta mudou os hábitos de 33 mil vidas espalhadas pelo país, segundo a GE, que diz assistir, silenciosamente, à transformação nas pessoas e suas escolhas.

Farmacêutica promete mudanças ante crise de opioides nos EUA

O fabricante do fármaco para a dor mais vendido do mundo, Purdue Pharma, acusado de se beneficiar de uma mortífera crise de opioides que afeta a classe média dos Estados Unidos, anunciou uma mudança de rumo

A empresa assegurou que pediu a seus vendedores que não encorajem os médicos a receitarem medicamentos contra a dor, incluindo o popular analgésico OxyContin, com frequência abusados por dependentes químicos. “Reestruturamos e reduzimos significativamente nossa operação comercial e nossos representantes de vendas já não promoverão os opioides aos médicos prescritores”, afirmou a Purdue Pharma.

A prescrição excessiva de medicamentos para a dor provocou o vício de milhões de americanos, assim como uma explosão de overdoses fatais, como a do ícone pop Prince e a do roqueiro Tom Petty. A Purdue Pharma é um dos fabricantes apontados pela cidade de Nova York em um processo de 500 milhões de dólares apresentado em janeiro para recuperar custos que poderiam ajudar a combater a crescente crise de opioides.

As mortes por overdose em Nova York dobraram entre 2010 e 2016, quando mais de 1.000 pessoas faleceram por excesso de opioides. Segundo o processo, o número é maior que o das mortes de nova-iorquinos por acidentes de carro e homicídios combinadas. O processo acusa os fabricantes de propaganda enganosa e os distribuidores de abastecimento excessivo de analgésicos receitados, o que representa uma carga para a cidade pelos custos de atendimento médico, justiça penal e segurança.

Em outubro, o presidente Donald Trump descreveu a crise de opioides como uma emergência nacional de saúde pública. Estima-se que 2,4 milhões de americanos são viciados em opioides, narcóticos que incluem tanto os analgésicos receitados como a heroína. A Purdue Pharma publicou em seu site uma advertência sobre os efeitos dos opioides e disse que está comprometida “a ser parte da solução, ao se associar com a polícia local, agências do governo locais e estatais e grupos comunitários em todo o país”.

Mas segundo um informe difundido na segunda-feira pela senadora democrata Claire McCaskill, a Purdue Pharma apoiou financeiramente o Washington Legal Foundation, um grupo que em 2016 criticou as recomendações dos Centros para o Controle e Prevenção de Doenças dirigidas a limitar a prescrição de opioides em casos de dor crônica. “As organizações que recebem um financiamento sustancial dos fabricantes ampliaram e reforçaram as mensagens a favor de um maior uso de opioides”, disse McCaskill.

Istoé