Tumor está relacionado a água contaminada e comida sem refrigeração
O câncer de estômago é o segundo tumor mais frequente entre os homens que vivem nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Proporcionalmente, essa incidência é maior do que nas demais regiões do país, nas quais o mesmo tumor ocupa a quarta posição entre seus habitantes do sexo masculino.
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Estimativa 2012 – Incidência de Câncer no Brasil, do Inca (Instituto Nacional do Câncer), divulgada nesta quinta-feira (24). Para o ano de 2012, o Inca estima que 520 mil casos novos de câncer surjam em todo o país.
Em 2012, estima-se que 20.090 pessoas devam ser acometidas pela doença em todo o país, destas a grande maioria de homens (12. 670) e o restante de mulheres (7.420). Em todo o Brasil, o número de casos caiu em relação ao ano passado, assim como sua prevalência em homens. Em dados do Inca de 2010/2011, a previsão era de que 21.500 casos, sendo, a época, o terceiro tipo de tumor mais comum nos homens.
Na população masculina brasileira, a doença fica atrás apenas do câncer de próstata (62,54 por 100 mil/hab.), traqueia, brônquio e pulmão (17,90 por 100 mil/ hab.) e cólon e reto (14, 75 por 100 mil/ hab.).
Já nas regiões Norte (10,67 por 100 mil/hab.) e no Nordeste, (8,99 por 100 mil/hab.), a ocorrência de câncer de estômago chega à segunda colocação entre os homens por diferentes motivos, em geral socioeconômicos, segundo especialistas consultados pelo R7.
Coeficientes de Incidência estimados para 2012* para os tipos de câncer mais frequentes (exceto pele não melanoma) em homens, Brasil e regiões geográficas
| Brasil | Região
Norte | Região Nordeste | Região
Centro-Oeste | Região
Sudeste | Região
Sul |
1º | Próstata (62,54) | Próstata (29,72) | Próstata (43,08) | Próstata (74,65) | Próstata (77,89) | Próstata (68,36) |
2º | Traqueia, Brônquio e Pulmão (17,90) | Estômago (10,67) | Estômago
(8,99) | Traqueia, Brônquio e Pulmão (16,64) | Cólon e Reto (22,12) | Traqueia, Brônquio e Pulmão (37,02) |
3º | Cólon e reto (14,75) | Traqueia, Brônquio e Pulmão (8,11) | Traqueia, Brônquio e Pulmão (8,52) | Cólon e Reto (14,30) | Traqueia, Brônquio e Pulmão (19,73) | Cólon e Reto (18,07) |
4º | Estômago (13,20) | Cólon e Reto (3,99) | Cavidade Oral (6,15) | Estômago (13,84) | Estômago (15,52) | Estômago (15,72) |
5º | Cavidade Oral (10,41) | Leucemias (3,54) | Cólon e Reto (5,31) | Cavidade Oral (8,58) | Cavidade Oral (14,61) | Esôfago
(15,27) |
Fonte: *por 100 mil habitantes
MS/INCA/ Estimativa de Câncer no Brasil, 2011/ MS/INCA/Conprev/Divisão de Informação e Análise de Situação
Bactéria e falta de saneamento são fatores de risco
O câncer de estômago tem como base a infecção pela bactéria
Helicobacter pylori (a mesma da gastrite), facilmente encontrada em água contaminada e em alimentos sem refrigeração adequada.
Outro fator que contribui para o surgimento desse tipo de câncer é uma alimentação com alto consumo de alimentos industrializados, defumados, com corantes e conservados em sal, a exemplo da carne seca e de outros alimentos curtidos muito disseminados nessas regiões, explica o oncologista Felipe José Fernandez Coimbra, diretor do núcleo de cirurgia abdominal do hospital A. C. Camargo, em São Paulo.
- Sabe-se que o câncer de estômago está muito ligado a costumes alimentares das regiões e sua incidência é maior nos países em desenvolvimento do que nos desenvolvidos. Está ligado ao baixo consumo de frutas, alta ingestão de carne vermelha e de alimentos em conserva que liberam uma substância cancerígena chamada
nitrosamina.
De acordo com Luiz Porto Pinheiro, presidente do Comitê Estadual de Controle do Câncer do Ceará, a falta de saneamento básico e mesmo de geladeira em muitas casas do Estado contribui para aumentar o risco de adquirir a bactéria.
- Provavelmente os mecanismos de contaminação são mais comuns no Norte e Nordeste porque somos a área do Brasil com menos saneamento básico.
Pinheiro dá como exemplo um trabalho realizado na Rússia onde o eletrodoméstico foi doado pelo governo para diminuir os casos da doença. O alimento congelado protege contra a contaminação pela bactéria.
"Essa realidade faz com que a doença seja mais comum nas cidades interioranas do que nas capitais e mais mortal do que o câncer de próstata, o campeão de incidência entre os homens no Ceará e nos demais Estados nordestinos", diz Pinheiro.
No Pará, Estado com maior prevalência de casos de câncer de estômago da região Norte, médicos estão indo às escolas municipais para alertar à população sobre os riscos, afirma o oncologista Antenor Madeira, coordenador da Rede Paraense de Controle de Câncer.
- A falta de uma alimentação adequada, sem frutas e verduras, é o fator principal, sem considerar fatores genéticos, o que acomete principalmente as regiões mais pobres.
Mulheres sofrem com outros fatores de risco
Já entre as mulheres, o câncer de estômago é o sexto mais frequente no Nordeste e o quinto na região Norte, pelos dados do Inca. A causa dessa diferença, no entanto, não é consenso entre os especialistas.
De acordo com Pinheiro, a mulher nordestina está mais em contato com fatores de risco que causam outros tipos de câncer, como o de colo do útero e de mama, mexendo nos números da "balança".
- Há que se considerar aí um aspecto socioeconômico. O segundo lugar na mulher é o câncer de colo de útero, que está associado a menos higiene, mais pobreza e pela contaminação pelo HPV.
Já para o oncologista do A. C. Camargo, o fator genético pode levar os homens a serem mais suscetíveis à doença.
- Acredita-se que essa diferença se dê por uma questão de gênero, porque a incidência é de duas a três vezes maior entre os homens em todo o mundo.
Já foi constatado mundialmente que a pobreza em si é
fator de risco da doença.
De acordo com o levantamento, a região Norte lidera com 11 casos por 100 mil habitantes, seguido por Nordeste com 9 casos para cada 100 mil, 16 casos na região Sul, 15 no Sudeste e 14 no Centro-Oeste.
Como se prevenir?
Comer mais frutas e verduras, higienizar os alimentos e evitar enlatados, além de fazer exames periódicos, podem ajudar na prevenção e na descoberta precoce de um tumor no estômago, explica o oncologista.
Segundo ele, a doença tem um caráter letal no Brasil porque geralmente é descoberta em estágio muito avançado.
- Só 10% a 15% [dos pacientes] chegam ao especialista para tratar o tumor precoce no Brasil. Enquanto no Japão e na Coreia, países com os maiores índices da doença no mundo, cerca de 60% chegam na fase inicial.
A doença é descoberta por meio da endoscopia digestiva alta, geralmente realizada quando há desconforto abdominal intenso e queixas de gastrite e úlcera, sintomas que, costumam mascarar a doença.
Dado o diagnóstico, se faz a cirurgia para retirar o tumor e quimioterapia como procedimento padrão, explica Coimbra.
Estimativa do número de casos novos, segundo sexo, Brasil, 2012
Localização Primária | Casos novos | % |
Próstata | 60.180 | 30,8 |
Traqueia, Brônquio e Pulmão | 17.210 | 8,8 |
Cólon e Reto | 14.180 | 7,3 |
Estômago | 12.670 | 6,5 |
Cavidade Oral | 9.990 | 5,1 |
Esôfago | 7.770 | 4 |
Bexiga | 6.210 | 3,2 |
Laringe | 6.110 | 3,1 |
Linfoma não Hodgkin | 5.190 | 2,7 |
Sistema Nervoso Central | 4.820 | 2,5 |
Leucemias | 4.570 | 2,3 |
Pele Melanoma | 3.170 | 1,6 |
Outras Localizações | 43.120 | 22,1 |
Todas as Neoplasias sem pele* | 195.190 | |
Todas as Neoplasias | 257.870 | |
| |
Localização Primária | Casos novos | % |
Mama feminina | 52.680 | 27,9 |
Colo do útero | 17.540 | 9,3 |
Cólon e Reto | 15.960 | 8,4 |
Glândula Tireoide | 10.590 | 5,6 |
Traqueia, Brônquio e Pulmão | 10.110 | 5,3 |
Estômago | 7.420 | 3,9 |
Ovário | 6.190 | 3,3 |
Corpo do útero | 4.520 | 2,4 |
Linfoma não Hodgkin | 4.450 | 2,4 |
Sistema Nervoso Central | 4.450 | 2,4 |
Cavidade Oral | 4.180 | 2,2 |
Leucemias | 3.940 | 2,1 |
Pele Melanoma | 3.060 | 1,6 |
Bexiga | 2.690 | 1,4 |
Esôfago | 2.650 | 1,4 |
Outras Localizações | 38.720 | 20,5 |
Todas as Neoplasias sem pele* | 189.150 | |
Todas as Neoplasias | 260.640 | |
|
*Todas as neoplasias, exceto pele não melanona
MS/INCA/ Estimativa de Câncer no Brasil, 2011/MS/INCA/Conprev/Divisão de Informação e Análise de Situação
Fonte R7