Uma nova maneira de transportar para dentro da pele uma substância cosmética já amplamente utilizada em cremes antienvelhecimento, através da nanotecnologia, pode tornar mais eficiente o combate às rugas.
A constatação é de pesquisa realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Araraquara, no interior de São Paulo, que resultou no desenvolvimento de um nanocosmético.
O composto microscópico formado de cristais líquidos obtidos a partir de silicones resultou em gotículas da ordem de nanômetros.
Para se ter ideia, um nanômetro é a bilionésima parte do metro -50 mil vezes mais fino do que um fio de cabelo.
Essas estruturas, segundo o farmacêutico Marlus Chorilli, responsável pelo estudo, são capazes de penetrar nas camadas mais internas da epiderme e controlar a velocidade com que o princípio ativo será liberado.
Às nanoestruturas de silicone foi adicionada uma substância que já é usada em cremes anti-idade existentes atualmente no mercado.
Trata-se do palmitato de retinol, um tipo sintético de vitamina A usado para prevenir ou retardar mudanças associadas ao processo de envelhecimento cutâneo.
"A vantagem da nanotecnologia para incorporar essa substância é potencializar a ação", disse o pesquisador.
Além de amplificar seus efeitos, a nanotecnologia também deu mais estabilidade ao produto, conta Chorilli.
Isso é importante quando se trata do palmitato de retinol porque o princípio ativo apresenta estabilidade química limitada quando exposto a condições como umidade, oxigênio e até à luz.
Editoria de arte/Folhapress | ||
Resultados
Os testes iniciais foram feitos em coelhos e, segundo o pesquisador, indicaram que a formulação é segura.
Além disso, o produto aumentou o número de fibroblastos, células capazes de produzir fibras colágenas e elásticas responsáveis por dar melhor condição à pele.
Depois dos coelhos, foi a vez de testes em 32 voluntárias com idade entre 30 e 45 anos, que receberam o nanocosmético ao redor de um dos olhos diariamente, pelo período de um mês.
O estudo apontou redução significativa no tamanho e na profundidade das rugas, em comparação à região dos olhos que não foi tratada.
Segundo Chorilli, depois do palmitato, os estudos com nanotecnologia já estão envolvendo outras substâncias, como extrato seco de cacau orgânico e chá verde.
Para o médico Davi de Lacerda, dermatologista pelo hospital Johns Hopkins nos EUA, que avaliou o estudo a pedido da Folha, a pesquisa merece elogios.
Ele pondera, no entanto, que é preciso obter resultados de outros grupos para saber se os dados relacionados ao aumento de fibroblastos são reprodutíveis. Além disso, estudos clínicos com populações maiores são essenciais para concluir sobre o real efeito dos produtos.
Reflexos
O médico Lacerda ressalta ainda que o aumento das aplicações nanotecnológicas amplia a necessidade de se conhecer melhor os impactos dessas partículas na saúde humana e no ecossistema.
"Este desafio começa a formar uma nova 'escola científica', chamada por alguns de 'nanotoxicologia'", afirmou.
No estudo da Unesp, segundo Chorilli, não foi avaliado o risco das nanoestruturas na corrente sanguínea.
Ele cita, porém, que uma série de fármacos com nanoestrutura têm sido liberadas para uso pela FDA (agência que regula os medicamentos e os alimentos nos EUA).
Fonte Folhaonline
Nenhum comentário:
Postar um comentário