Especialistas alertam que obesidade, novas tecnologias e gases tóxicos são gatilhos de doenças oculares
A geração está mais obesa, sedentária, fuma e também enxerga pior. Além de infarto, acidente vascular cerebral, diabetes, as doenças oculares são mais recorrentes em quem está inserido em um estilo de vida não saudável, que inclui tabagismo, falta de exercícios físicos e dieta hipercalórica. O efeito do meio externo na visão ainda não é muito calculado, mas cada vez mais alvo de pesquisas.
O professor da Unifesp, Rubens Belfort Júnior – um dos criadores dos mutirões de catarata em São Paulo e um dos responsáveis pela criação da política de oftalmologia brasileira – é um dos que está empenhado em mensurar a influência externa na visão.
“Estamos recrutando irmãos gêmeos univitelinos (aqueles que são iguaizinhos) com mais de 60 anos para atestar quais problemas oculares são genéticos e quais são sequelas dos hábitos de vida. Precisamos agora achar os gêmeos”, diz.
Os especialistas reforçam ainda que os olhos sofrem mais com os ambientes poluídos, ocasionando a síndrome do olho seco. Além disso, por causa do uso cada vez mais precoce – e contínuo – de computadores, os problemas oculares também estão mais comuns, diz Belfort Júnior.
Na lista de vilões dos olhos estão ainda o uso de medicamentos por conta própria e exagero no café, hábitos inseridos na rotina dos brasileiros e que podem potencializar o glaucoma, doença que ocupa o primeiro lugar no ranking de causa de cegueira.
Além de Rubens Belfort Júnior, outros dois experts em em oftalmologia listaram os novos inimigos da visão. Confira.
Obesidade
“Os obesos têm mais propensão a desenvolver astigmatismo e problemas de visão relacionados ao diabetes”, alerta Renato Neves, presidente da Fundação Eye Care. O diabetes, apesar de figurar entre as principais causas de morte do brasileiro, é uma doença silenciosa e, segundo a própria Sociedade Brasileira de Diabetes, o número de pessoas que convivem com o problema metabólico sem saber é maior do que os atuais 11% de diabéticos que constam das estatísticas oficiais do País.
A falta de controle da glicemia também afeta a retina, membrana que cobre os olhos e pode evoluir para a cegueira. A boa notícia é que o diabetes controlado e o cuidado oftalmológico podem reverter o quadro. A outra dica é cuidar da alimentação. Isso não só preserva o corpo, mas protege os olhos.
Atividade física
Medir a pressão arterial é importante para proteger o coração de doenças como o infarto. A medição da pressão do olho – um exame simples que tem duração de 2 minutos no consultório – é também a chave para evitar o glaucoma, uma das doenças oculares que mais cega no País. E da mesma forma que as atividades físicas ajudam a pressão do organismo a permanecer dentro do normal, o coordenador do Setor Glaucoma do Hospital Medicina dos Olhos, Tiago Prata, diz que os exercícios aeróbicos também diminuem a pressão intraocular.
“Alguns estudos já constataram que pessoas que praticam corrida e ciclismo, por exemplo, apresentam melhor pressão ocular. Além disso os próprios pacientes com glaucoma têm a pressão estabilizada com a prática de exercícios”, diz.
Oespecialista alerta que o inverso também é verdadeiro: atividades como supino (levantamento de peso) e algumas posturas da musculação aumentam a pressão ocular e não são indicados para jovens com glaucoma. “O mesmo vale para aquela posição da ioga em que a pessoa fica de cabeça para baixo (Sirsasana). Em minutos, a pressão ocular sobe e para quem já tem a doença pode ser arriscado. A orientação é sempre falar com o médico.”
Computador
Rubens Belfort Júnior diz que hoje há uma epidemia de miopia (problema ocular e maior dificuldade para enxergar de longe). A primeira hipótese para os problemas nas vistas é o uso excessivo de computadores, videogames e televisão, já que a máxima “criança que brinca na rua enxerga melhor” de fato é comprovada nos consultórios clínicos. Mas além das tecnologias, o oftalmologista da Unifesp traz um outro fator para este cenário.
“Hoje as crianças com 2 anos de idade já estão na escola de inglês, fazem mil atividades que exigem esforço visual. Isso pode ser ótimo para a intelectualidade, mas pode trazer um comprometimento ocular.”
Poluição
O oftalmologista Renato Neves diz que a poluição traz mais impactos ao aparelho respiratório e à visão. O principal já conhecido é a síndrome do olho seco . “O quadro é ainda mais agravado quando há um baixo índice de umidade relativa do ar. Os olhos podem coçar e ficar avermelhados. Os poluentes podem também causar embaçamento por alteração da superfície ocular, provocando certo incômodo no paciente”, informa.
Automedicação
“Quase todos os medicamentos que podem agravar as doenças oculares são vendidos sem receita na farmácia”, alerta o oftalmologista Tiago Prata. “Mas não é apenas a automedicação o problema. Muitos médicos de outras aéreas desconhecem os possíveis efeitos oculares dos remédios. Nos EUA, por exemplo, ninguém toma medicamento para incontinência urinária sem passar por avaliação do oftalmologista (uma das drogas que traz efeitos em quem já tem glaucoma), um controle inexistente no Brasil.”
Diversos medicamentos podem levar ao aumento da pressão ocular (a inimiga do glaucoma) e, dentre eles, os mais temidos são os anti-inflamatórios a base de cortisona, utilizados frequentemente em doenças respiratórias, reumatológicas e quadros alérgicos, acrescenta Prata. Um simples exame oftalmológico é capaz de orientar o clínico sobre a existência de riscos com o uso dessas medicações.
Tabagismo
Segundo Tiago Prata, embora não exista relação direta entre tabagismo e desenvolvimento de glaucoma, o hábito de fumar causa aumento transitório da pressão intraocular. Por isso, uma das primeiras recomendações para quem tem glaucoma é abandonar o hábito.
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