Uma pesquisa publicada recentemente no periódico Schizophrenia Bulletin aponta que abusos sexuais, físicos e emocionais, assim como o bullying sofrido na escola e a negligência por parte dos pais durante a fase de desenvolvimento infantil aumentam em até três vezes o risco do desenvolvimento da esquizofrenia e eventos psicóticos na idade adulta.
O estudo, noticiado pelo jornal The Guardian, chegou a essa conclusão após analisar os dados de mais de 80 mil pessoas no Reino Unido e compará-los com os resultados de testes feitos com indivíduos que não sofreram qualquer tipo de abuso físico ou psicológico na infância.
De acordo com o jornal inglês, os resultados se somam aos de diversas outras pesquisas que relacionam maus tratos e abusos na infância com o aparecimento ou o aumento do risco para diversos transtornos mentais, incluindo depressão, transtornos de personalidade e ansiedade.
O responsável pelo estudo, Richard Bentall, pesquisador da Universidade de Liverpool, demonstrou que, no caso do desenvolvimento de psicose, esses riscos – quando comparados a crianças com uma infância saudável – são até 50% maiores. No caso da esquizofrenia (transtorno que atinge entre 1% e 3% da população mundial) estes riscos são até três vezes maior.
Metanálise de mais de 30 anos de estudos
Os resultados da equipe de Bentall vieram de uma metanálise – revisão de diversos outros estudos anteriores – de 36 pesquisas sobre maus tratos infantis (incluindo abusos sexuais, físicos, emocionais, impacto da morte dos pais, bullying e negligência por parte dos pais) realizados nos últimos 30 anos.
Crianças que sofreram mais de um tipo de abuso tinham o risco aumentado ainda mais. De acordo com o pesquisador, pessoas que tiveram traumas intensos e de diversos tipos durante suas vidas, apontaram os estudos, tiveram os riscos aumentados em até 50 vezes para psicose na idade adulta.
“Não há fatores genéticos que possam ser tão devastadores, em termos de efeitos na saúde mental, quanto esses que obervamos e os efeitos foram observados em diversos estudos diferentes, então é um problema bastante claro”, afirma Bentall.
Os mecanismos por trás da relação entre maus tratos infantis e esquizofrenia, entretanto, ainda não são claros. Uma hipótese, apontada por pesquisadores da Universidade de Harvard, indica mudanças na estrutura cerebral.
“É possível que essas mudanças no cérebro observada nos pacientes possa ser resultado de suas experiências de vida”, indica Bentall. “Mas ainda não sabemos se esse é o caso.”
“Estas conclusões trágicas podem nos ajudar a desenvolver novas soluções [para esses transtornos mentais]. Se entendermos como estas adversidades enfrentadas na infância influenciam o risco para trantornos psicóticos, nós renovaremos as esperanças para o desenvolvimento de intervenções visando a prevenção e o tratamento destes transtornos mentais”, aponta Andrea Danese, pesquisadora do Instituto de Psicologia da Universidade de Liverpool, o mesmo de Bentall.
Fonte O que eu tenho
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