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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Cirurgia é o único tratamento para tratar o câncer de tireoide

Operação como a realizada nesta quarta-feira, na presidente da Argentina, Cristina Kirchner, significa a cura em 90% dos casos

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, surpreendeu a todos ao anunciar ter sido diagnosticada com um câncer papilar na região da tireoide. Feitos os exames, a chefe de Estado foi submetida ontem à cirurgia, único tratamento para a doença — e procedimento que, em 90% dos casos, significa a cura. A operação, embora rápida (realizada em cerca de uma hora), deve ser feita com precisão, pelo fato de o tumor estar em uma área cheia de peculiaridades. Se detalhes como a manipulação cuidadosa dos nervos da laringe ou a verificação incansável de possíveis pontos de sangramento não forem checados, o paciente pode sair da mesa de cirurgia com problemas como rouquidão ou até mesmo sem vida. Especialistas explicam a técnica e os cuidados necessários para se obter o melhor prognóstico.

O oncologista do Instituto Oncoguia Rafael Kaliks conta que o câncer na tireoide ocorre com mais frequência em mulheres entre 40 e 50 anos. As causas podem variar de radioterapia realizada na região da cabeça e do pescoço a fatores genéticos. Segundo ele, o tumor geralmente é descoberto cedo porque o ultrassom no pescoço é um exame rotineiramente recomendado por médicos. “Dessa forma, por ser diagnosticado ainda pequeno, o tratamento é ainda mais eficaz”, explica.

Há dois tipos de cânceres na tireoide, que são classificados como diferenciados (papilar e folicular) e indiferenciados (medular e linfoma da tireoide) — os primeiros são mais comuns. Segundo Luiz Adelmo, oncologista clínico da Oncomed, o tratamento é realizado basicamente com cirurgia e iodoterapia. O cirurgião de cabeça e pescoço André Póvoa, médico do Hospital de Base, explica que a cirurgia está no rol dos procedimentos minimamente invasivos. Ele descreve que, sob efeito da anestesia geral, uma incisão transversal é feita nas dobras do pescoço do paciente, de onde se resseca e retira a tireoide. A boa cicatrização é variável, tanto por razões genéticas (pré-disposição para queloides) quanto pelos cuidados da pessoa. “Eu prescrevo cremes e faço uma sutura com pontos internos, tudo para minimizar o surgimento de cicatrizes”, afirma.

Pós-operatório
A glândula tireoide, que tem formato de escudo, fica em frente aos nervos laríngeos recorrentes, responsáveis por abrir e fechar as cordas vocais. Como toda essa estrutura é interligada e o espaço entre os órgãos é pequeno, o cuidado para não lesionar a área deve ser redobrado. “Se a área for lesionada, o paciente pode apresentar rouquidão transitória ou permanente”, salienta Póvoa. A estatística é que de 1% a 2% dos pacientes sofram do primeiro problema. A retirada do tubo de oxigênio pode também irritar a região.

Segundo Póvoa, a rouquidão transitória faz parte do pós-operatório, uma vez que, só de serem manipulados, os nervos ficam inchados. Uma lesão em outro nervo ligado à voz, o laríngeo superior, poderá afetar o timbre da voz. “Essa é uma das preocupações mais constantes dos pacientes que se submetem a essa cirurgia. Com muito cuidado, porém, diminuímos a chance de as alterações serem permanentes”, relata.

Outro problema ainda muito comum é a hipocalcemia. Rafael Kaliks descreve que, grudadas à tireoide, estão as glândulas paratireoides, responsáveis pela regulação dos níveis de cálcio no sangue. Quando retiradas, os pacientes podem desenvolver problemas ocasionados pela queda de cálcio no organismo, acarretando o chamado hipoparatireoidismo, que provoca sintomas como formigamento nas extremidades e na boca, que podem evoluir para cãibras. “No ato da cirurgia, a glândula é descolada da tireoide e recolocada no pescoço, sem dano algum para o paciente”, ressalta.

Póvoa conta que, no ato cirúrgico, o especialista deve ter sempre em mente a identificação e a preservação da paratireoide. Ele explica que, normalmente, cada pessoa tem quatro dessas glândulas, que medem cerca de 6mm. O cirurgião acostumado com o procedimento, no entanto, consegue vê-las rapidamente e autoimplantá-las sem riscos de surgimento de novos pontos de câncer. “Raramente, o tumor maligno atinge a paratireoide”, confirma.

Feita a cirurgia, o paciente ainda corre o risco de passar uma complicação que, se não sanada a tempo, pode levar à morte: o hematoma. Ele é provocado por sangramentos que, em alguns casos, não são detectados pelo cirurgião. Póvoa relata que esse hematoma pode ocorrer devido à ruptura de algum vaso sanguíneo e, como no momento da operação a pressão do paciente está baixa, ao voltar ao normal o sangramento vem à tona. “O acúmulo de sangue no pescoço pode comprimir a traqueia e a jugular e, assim, impedir que a pessoa respire, mas esse também é um cenário raro”, afirma. Os sintomas do hematoma são dor e dificuldade de respirar.

Radioativo
Após a operação, o paciente é submetido à tireoglobulina, um exame de sangue que avalia a quantidade de células da tireoide ainda presentes no organismo. O médico nuclear do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e da Clínica Nuclear Dalton Alexandre dos Anjos explica que, por mais habilidoso que seja o cirurgião, ele não conseguirá remover toda a tireoide do organismo pelo fato de a glândula estar situada em uma região muito delicada.

Se detectado que ainda existem células da glândula, o especialista explica que o paciente é submetido a iodoterapia. Cerca de 30 dias depois do procedimento cirúrgico, ele toma por via intravenosa ou oral uma aplicação de iodo 131-radioativo. A dosagem pode ser pequena, média ou alta, de acordo com a quantidade de células e o tipo de câncer. A pessoa passa por uma dieta restritiva de iodo (sem sal iodado ou frutos do mar), deixando as células restantes com “fome” da substância. A partir daí, quando os resquícios de tireoide consomem o iodo ingerido, a substância radioativa queima as células restantes. “A tireoide é o único órgão que consome o iodo do organismo”, explica Dalton dos Anjos..

Para evitar que outras pessoas sejam expostas às radiações, o paciente que irá passar pelo processo fica isolado em sala especial. “Essa é uma exigência da legislação brasileira”, conta. Anjos diz que, após todo esse processo, o paciente pode se considerar curado. “Não há necessidade de quimioterapia — que, aliás, nunca é utilizada por não ser tão eficiente nesse caso”, esclarece.

Fonte Correio Braziliense

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