Angel Franco/The New York Times
Paciente é atendido no corredor do Montefiore Medical Center, em
Nova York: reforma vai sobrecarregar o sistema de saúde nos EUA
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Se a oferta e a demanda por médicos fosse medida apenas pela proporção estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como ideal, ou seja, 1 médico para cada grupo de mil habitantes, o Brasil não estaria discutindo a importação de médicos estrangeiros.
A falta de especialistas e generalistas para fazer frente a uma demanda cada vez maior por serviços de saúde é considerada pela entidade como um problema mundial, do qual padecem até mesmo nações desenvolvidas.
De acordo com a mais recente estimativa (2011) da Associação Americana de Faculdades de Medicina, os Estados Unidos enfrentam hoje a falta de nada menos que 20 mil médicos – o país tem hoje cerca de 800 mil profissionais registrados na Associação Médica Americana.
A falta de generalistas e especialistas, estimam as duas entidades, deve quintuplicar ao longo da próxima década, por conta do envelhecimento da população e da aposentadoria de muitos destes profissionais – quase metade do total de médicos que atuam nos EUA hoje tem mais de 50 anos.
Para agravar mais ainda a situação, em 2014, cerca de 16 milhões de americanos devem ingressar no sistema de saúde do país por meio do Medicaid, o programa aprovado na grande reforma de saúde proposta pelo presidente Obama no ano passado.
Desde a aprovação da reforma, entidades médicas vêm manifestando publicamente a preocupação de que o contingente atual de médicos não dará conta da demanda imposta pelo ingresso desta massa de potenciais pacientes nos hospitais e clínicas do país.
Para fazer frente a esse problemão, algumas iniciativas vêm sendo postas em prática desde o ano passado. Mais escolas de medicina foram abertas, muitas entidades de ensino já existentes aumentaram o número vagas de graduação e algumas instituições estão focando esforços em aumentar o número de estudantes interessados em atuar como generalistas ou médicos de família.
O governo anunciou também que a reforma de saúde deve aumentar o número de vagas de residência médica – hoje são 110 mil posições de residente para todo o país. A vinda de profissionais formados no Exterior, especialmente para trabalhar com saúde da família e atenção primária também pode ajudar a fazer frente a essa demanda – em 2010, 13% das vagas de residência nos EUA foram preenchidas por médicos que fizeram medicina em outros países. Neste quesito, no entanto, os americanos são irredutíveis: para praticar medicina de família por lá, é preciso completar a residência médica nos Estados Unidos.
Especialistas frustrados
Um minucioso levantamento feito em 2010 pelo Conselho Geral de Colégios Oficiais de Médicos da Espanha apontou que o país conta com 205 mil os profissionais registrados como médicos. Desse total, 174 mil estão exercendo a profissão, mas apenas um terço faz isso dentro do Sistema Nacional de Saúde. Desde 2001 o governo espanhol passou a estimular a criação de mais vagas nas faculdades de Medicina (de 4.371 em 2001 para 7.000 em 2011), o que ampliou em 12,2% o total de médicos do país. Entretanto, as medidas não foram suficientes para resolver um problema que o conselho classificou como um velho problema no país: a má distribuição de profissionais pelo território espanhol.
Embora as faculdades de medicina espanholas despejem no mercado cerca de 3,6 mil novos médicos a cada ano, o número é insuficiente para preencher as 7 mil vagas de residência médica espalhadas pelo país. Essa discrepância ocorre porque apenas os melhores colocados na prova nacional de seleção para residência médica, conhecida como MIR, conseguem escolher a área em que irão se especializar e a cidade onde cursarão a residência. Em teoria, o modelo atual da prova foi desenvolvido justamente para gerir melhor a oferta e a demanda de especialistas nas diversas regiões do país. Na prática, a grande maioria que não alcança os escores mais altos precisa se contentar literalmente com o que sobrou: uma especialização diferente daquela desejada, em uma cidade distante do local de domicílio. O resultado disso? Um grande contingente de médicos frustrados e falta de especialistas em determinadas regiões do país.
Segundo apontou o relatório, o aumento da demanda por serviços de saúde surgida com o envelhecimento da população, com a crise econômica e também com a aposentadoria de uma parte significativa de médicos atuantes foi levemente atenuado com o ingresso de especialistas e generalistas de outros países da União Europeia, mas não foi resolvido. O ministério da saúde espanhol estima que em 2050 o déficit de médicos na Espanha chegará a 25 mil.
Médicos mal distribuídos
Para estimular a ida de médicos aos rincões onde poucos se aventuram a viver, muitas províncias do Canadá estabeleceram programas de incentivo que incluem melhores salários, bônus para quem optar por praticar medicina de família, subsídios para remoção e estabelecimento dos especialistas com suas famílias em regiões remotas, redução da carga de trabalho e descentralização da figura do médico no atendimento – algumas tarefas antes atribuídas eles passaram a ser exercidas também por outros profissionais de saúde, mediante treinamento e com supervisão médica. Outra medida adotada pelo governo canadense foi aumentar a concessão de licenças para estrangeiros atuarem no país – após a aprovação em exames de acreditação.
Em 2011, 51% dos médicos canadenses atuavam como médicos de família, um aumento de 14% desde 2007, apontou o Instituto Nacional de Saúde do Canadá. A análise do levantamento feito pelo governo mostrou também que mais generalistas estão atuando nas zonas rurais do país, o segundo maior do mundo em área total depois da Rússia. Ainda assim, faltam médicos para atender a população que vive nas regiões mais remotas e inóspitas do país, o que levou ao fechamento de muitos serviços públicos de saúde nestes locais.
Investimento em atenção primária
A pequena República Dominicana começou a enfrentar a falta de médicos com planejamento, ainda no final da década de 1960. A primeira medida foi aumentar o número de vagas nos cursos de medicina, especialmente nas universidades públicas.
“Até então era difícil seguir a carreira. Havia poucas vagas e as oportunidades para estudar medicina eram muito raras”, conta Dolores Mejia de La Cruz, diretora do departamento de Medicina Interna do Hospital General de la Plaza de la Salud, de Santo Domingo.
Após a ampliação na graduação, o governo dominicano passou a obrigar os estudantes a trabalhar por um ano em áreas menos favorecidas, como uma exigência para obter a licença para praticar a medicina no país. Com isso, ampliou-se o número de clínicas de atenção primária em zonas rurais.
Além disso, o governo dominicano investiu em atenção primária, estabelecendo medicina familiar como uma especialidade e oferecendo mais oportunidades de trabalho e salários mais altos nesta área.
Hoje, conta a médica, o médico da família é valorizado e visto com respeito. Atualmente, a proporção de médicos no país é de cerca de 9 mil profissionais para uma população de 10 milhões.
Fonte iG
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