Em casos de contaminação, o arsênio, que é altamente tóxico, pode provocar lesões na pele, gangrena e danos a órgãos vitais
Estudo desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revela que árvore conhecida como angico vermelho (Anadenantera peregrina) é capaz de recuperar solos em áreas contaminadas com arsênio. Sem cor, cheiro ou gosto, o arsênio é um semimetal - substância mineral menos pesada e menos sólida que o metal - altamente tóxico, encontrado na água, em rochas e até em meteoritos. Em casos menos graves, a contaminação por este material provoca lesões na pele que não cicatrizam. Em níveis mais elevados, podem ocorrer gangrena, danos a órgãos vitais e câncer.
Desde 2006, a equipe da UFMG tem se dedicado a um projeto de recuperação da Bacia do Rio das Velhas, que nasce em Ouro Preto e deságua no São Francisco. Um dos afluentes do rio é o córrego Água Suja, que corta o município de Nova Lima.
Tanto a água quanto o solo dessa região apresentam altos índices de arsênio devido à atividade mineradora praticada no local desde o século 19. Ao observar que o angico vermelho (na foto de Bruna Brandão) era uma das poucas plantas capazes de crescer no ambiente, o grupo se dedicou a investigar as propriedades do vegetal, que se revelou capaz de sequestrar o arsênio presente no solo.
Intoxicação
A análise do solo feita pela equipe ao longo de quase 200 metros da extensão inicial do córrego revelou que a concentração de arsênio variava de 200mg/kg a 27.500mg/kg, enquanto a quantidade do material considerada aceitável é de cerca de apenas 50mg/kg. Os sintomas da intoxicação vão desde doenças dermatológicas até complicações neurológicas e câncer.
Segundo Maria Rita, há relatos sobre trabalhadores da mina de Morro Velho que perderam o septo nasal devido ao contato com a substância. " O que acontece naquela região é um problema muito grave" , alerta. " As plantas absorvem o arsênio, que é levado até as folhas e os frutos que servirão de alimento a pessoas e animais da região."
O desafio da equipe de pesquisadores era encontrar plantas capazes de sugar a substância e armazená-la na raiz. " A maioria das espécies descritas na literatura científica como sequestradoras de arsênio são ' hiperacumuladoras' , isto é, transferem o material para as folhas. Esse é o caso da samambaia, por exemplo" , revela Maria Rita. Entretanto, para descontaminar o solo e recuperar a área, os biólogos precisavam encontrar plantas capazes de reter e acumular a substância apenas nas raízes, pois, se houver arsênio nas folhas, o solo será novamente contaminado quando elas caírem. Além disso, as espécies selecionadas deveriam ser necessariamente arbóreas, uma vez que a proposta era recuperar a mata ciliar que não pode ser formada por vegetação herbácea, incapaz de conter a erosão.
Testes
De 25 espécies testadas pelas equipes, o angico vermelho ficou entre as poucas árvores que conseguiam se desenvolver nas áreas mais contaminadas. A partir de experimentos, observou-se que ela era capaz de sequestrar grandes quantidades de arsênio sem transportá-lo para a parte aérea e a introdução de fungos micorrízicos nas raízes otimizava esse processo, duplicando os níveis de absorção.
Financiado pelo Ministério do Meio Ambiente, o projeto produziu mudas em estufa, que foram plantadas em 2008 em Nova Lima, especialmente às margens do córrego, numa estratégia para impedir que o arsênio atingisse a água. Passados quatro anos, diversas espécies sensíveis à substância já ocupam o espaço onde, antes, havia apenas solo nu.
Segundo pesquisadores, a mudança na paisagem confirma a eficácia da estratégia. " A sobrevivência de outras plantas próximo aos exemplares de angico indica que a árvore está, de fato, descontaminando o solo" , comemora a coordenadora. O próximo passo do projeto será testar o mulungu, outra espécie vegetal que, segundo pesquisas do grupo, tem potencial para absorver arsênio.
Fonte isaude.net
Nenhum comentário:
Postar um comentário