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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Nova técnica para reconstituição de tímpanos rompidos evita anestesia geral


Seja por acidente ou descuido, algumas pessoas perfuram o tímpano, aquela membrana fina que separa a orelha da parte média do ouvido.

Dor, zumbido, perda da audição e infecções são alguns dos problemas decorrentes, que costumam sumir depois de o buraquinho se fechar. Na maioria das vezes, isso acontece espontaneamente. Quando se passam meses sem que a cicatrização ocorra, porém, é preciso se submeter a uma cirurgia, que, embora simples, exige hospitalização e, no caso de crianças, anestesia geral. Uma técnica desenvolvida por médicos canadenses do Sainte-Justine University Hospital Centre torna o procedimento bem mais simples: em 20 minutos, o paciente vai embora, sem sequer precisar passar pelo centro cirúrgico.

O método de reconstituição do tímpano já foi aplicado em cerca de 400 pacientes a partir de 4 anos, com um índice de sucesso de 92,7%, no caso de adultos, e de 85,6% em relação às crianças. Em um estudo publicado no jornal especializado Archives of Otolaryngology – Head and Neck Surgery, o otorrinolaringologista Issam Saliba descreve o procedimento e afirma que, em comparação à técnica tradicional, a chamada miringotomia com enxerto de gordura e ácido hialurônico é tão satisfatória quanto, com a vantagem de ser mais barata, rápida e não exigir pós-operatório.

Nesta semana, Saliba apresentou o resultado do estudo à imprensa mundial, em uma entrevista transmitida pela internet em tempo real. De acordo com ele, no Canadá, cada procedimento economiza cerca de US$ 1,5 mil, e poupa os pacientes dos 10 a 15 dias que precisam ficar afastados do trabalho ou da escola pela técnica tradicional. “As técnicas tradicionais demoram entre uma ou duas horas, e é necessário preparar um centro cirúrgico. Por isso, no Canadá, geralmente as pessoas esperam um ano, um ano e meio para conseguir fazer a cirurgia. O novo procedimento dispensa anestesia geral, hospitalização e uso de sala de operação, o que faz dele mais rápido, barato e acessível”, garante Saliba.

Embora, no estudo, o médico descreva a experiência do método em adultos, ele se concentra nos pacientes pediátricos, cujos casos costumam ser mais delicados. As operações tradicionais são indicadas a partir dos 7 anos, porque as crianças precisam receber anestesia geral, o que poderia ser arriscado antes dessa idade. No enxerto com ácido hialurônico, porém, o otorrinolaringologista apenas seda os pequenos pacientes e aplica anestesia local, permitindo que o procedimento seja realizado desde os 4 anos, idade em que muitas crianças perfuram o tímpano em acidentes domésticos, como enfiar um lápis no ouvido.

Melhora sensível
Benjamin Côté, 10 anos, foi um beneficiados com a nova técnica. Ele compareceu à coletiva de imprensa para dar seu depoimento e contou que a qualidade de vida melhorou muito depois do enxerto. Devido a constantes infecções no ouvido, o tímpano esquerdo do garoto ficou lesionado, e ele perdeu 50% da audição. “Na escola, era difícil. Eu conseguia escutar os tons graves das vozes masculinas, mas os agudos femininos eram muito confusos. Minhas professoras quebravam a cabeça para tentar me colocar em uma posição na qual eu pudesse ouvir bem, mas perdi muito conteúdo e minha mãe chegou a pensar que eu tinha deficit de atenção”, relatou.

Nadar era outro problema para o menino, que evitava a água com medo de mais infecções. “Ele passou por muitos desafios na escola e no dia a dia. Os primos brincavam na piscina e o Benjamin só podia molhar os pés”, contou a mãe, Melanie Fortier. Aos 8 anos, o garoto passou pelo procedimento no Hospital Universitário de Sainte-Justine. Um ano depois, o tímpano estava completamente restabelecido. Passados quatro meses, porém, Benjamin já havia começado a recuperar a audição.

De acordo com Saliba, o procedimento é feito pelo canal auditivo e a técnica permite que o próprio corpo reconstitua a membrana em cerca de dois meses. Antes de começar o procedimento, é retirado um pedaço de tecido da parte de trás do lóbulo da orelha, com tamanho pelo menos duas vezes maior que a perfuração do tímpano. Esse enxerto vai estimular a vascularização no local e a migração de células até o buraco na membrana; ou seja, é o que fará a lesão se cicatrizar.

O ácido hialurônico, que ajuda na recuperação do tecido, é aplicado em forma de uma fina lâmina incolor, parecida com uma cola, que veda a cavidade média do ouvido. Coberta por gelatina, ela é absorvida pelo organismo em até dois meses. “As pessoas associam o ácido a procedimentos cosméticos, porque ele é usado no preenchimento de rugas e linhas de expressão”, diz John J. Voorhees, professor de dermatologia da Universidade de Michigan, que não participou do estudo de Saliba. “Na verdade, ele consegue preencher as rugas justamente porque estimula a formação de fibroblastos, as células que, na pele, produzem o colágeno.”

Recuperação
Depois do procedimento — Saliba destaca que não se trata de cirurgia —, o paciente sai da clínica e pode ir para a escola ou o trabalho no mesmo dia. Não é necessário um período de recuperação, ao contrário das cirurgias tradicionais. O método, porém, só é válido no caso de tímpanos perfurados sem comprometimento dos ossos. Caso o acidente tenha fraturado os ossinhos que também fazem parte da cavidade média do ouvido, é preciso submeter o paciente a uma operação, para regenerá-los.

Issam Saliba contou que a ideia da técnica surgiu há cinco anos — “A maçã caiu na minha cabeça”, brincou, fazendo uma referência à lenda de que a lei da gravitação universal foi postulada por Isaac Newton depois que uma fruta em cima do físico inglês enquanto ele estava sentado à sombra de uma árvore. Ele lembrou que a miringotomia com enxerto de gordura e ácido hialurônico é a fusão de duas técnicas já existentes, mas que, sozinhas, não conseguiram muito êxito. “Ambas têm suas vantagens, então imaginei que, juntas, poderiam resultar em uma excelente técnica. Acredito que conseguimos fazer com que isso virasse realidade”, disse.

"As técnicas tradicionais demoram entre uma ou duas horas, e é necessário preparar um centro cirúrgico. Por isso, no Canadá, geralmente as pessoas esperam um ano, um ano e meio para conseguir fazer a cirurgia. O novo procedimento dispensa anestesia geral, hospitalização e uso de sala de operação, o que faz dele mais rápido, barato e acessível"

Issam Saliba, otorrinolaringologista
"Na escola, era difícil. Eu conseguia escutar os tons graves das vozes masculinas, mas os agudos femininos eram muito confusos. Minhas professoras quebravam a cabeça para tentar me colocar em uma posição na qual eu pudesse ouvir bem, mas perdi muito conteúdo e minha mãe chegou a pensar que eu tinha deficit de atenção"

Fonte Correio Braziliense

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