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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pesquisadores relacionam fenômeno climático com o vírus influenza

Pessoas usam máscara na Ucrânia durante a pandemia de gripe suína: mutação do vírus influenza surgida em 2009 deixou 17,4 mil mortos em todo o mundo (Viktor Gurniak/Reuters - 31/10/09 )Pesquisadores norte-americanos encontram relação entre o fenômeno climático e as pandemias do vírus influenza, como os milhares de casos de H1N1 em 2009. A explicação está na alteração da migração de pássaros causada pelo resfriamento do Pacífico

A pandemia da gripe A (H1N1), ocorrida em 2009, ainda está presente na memória das pessoas. O surto da influenza — que recebeu o apelido de “gripe suína” depois de testes de laboratório mostrarem que genes do vírus eram semelhantes aos do patógeno encontrado em porcos — causou 17,4 mil mortes ao redor do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Agora, cientistas afirmam que esse evento tem algo em comum com outras grandes epidemias de gripe ocorridas em 1968, 1957 e 1918, além do grande número de mortos e semelhança entre os micro-organismos fatais: foi antecedido pelo evento climático La Niña.

A relação entre muitos casos de gripe severa e o resfriamento exagerado das águas do Oceano Pacífico na região tropical foi apontada na edição mais recente da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas) por dois cientistas norte-americanos. Em entrevista ao Correio, Jeffrey Shaman, professor de saúde ambiental da Escola de Saúde Pública da Universidade de Columbia, e Marc Lipsitch, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, explicam que o La Niña se manifestou alguns meses antes das quatro mais recentes pandemias de influenza, entre as quais está incluída a disseminação da gripe espanhola, em 1918.

Os pesquisadores iniciaram o estudo baseados na hipótese de que a ocorrência do La Niña altera os padrões de migração dos pássaros, principais vetores do vírus influenza. Eles, então, avaliaram os registros das temperaturas do Pacífico na região da linha do Equador no outono e no inverno anteriores às pandemias e perceberam que os eventos estão associados. “Além do padrão de voo, descobrimos que o fenômeno modifica a condição física dos pássaros e aumenta o tempo de permanência em algumas áreas, o que propicia uma maior mistura entre as espécies”, diz Shaman. “Tais mudanças fazem com que diversas variantes genéticas (cepas) do agente infeccioso, que normalmente estariam isoladas geograficamente, fiquem reunidas”, explica. Uma vez juntas, é possível que as variantes causem uma infecção simultânea no organismo hospedeiro, ou seja, na ave que as carrega. Isso resulta no rearranjo genético do patógeno, causando o surgimento de um novo tipo de vírus.

Foi um vírus “inédito” que causou a pandemia de 1918, a mais devastadora de todos os tempos. Segundo historiadores, o surto de influenza matou entre 20 milhões e 100 milhões de pessoas no planeta. Estudos sugerem que a cepa desse vírus apareceu em 1916 e foi sofrendo mutações graduais, até chegar à forma letal que contaminou primeiro a Europa e os Estados Unidos, em fevereiro de 1918, quando ainda ocorria a Primeira Guerra Mundial. Por sinal, a gripe causou mais mortes que a guerra, na qual cerca de 15 milhões perderam a vida.

 
Previsão
De acordo com o outro autor do estudo, Marc Lipsitch, a pesquisa pode ajudar os chefes de saúde pública a prever as épocas de maior risco de surtos de influenza e planejar ações para evitar o problema. “De agora em diante, vamos estudar mais intensamente a resposta das aves migratórias às condições do fenômeno El Niño Oscilação Sul (Enos), que abrange o El Niño e o La Niña”, determina. Entre os novos pontos a serem observados estão as taxas de transmissão viral e a diversidade de vírus presentes nas águas exploradas pelos pássaros. O El Niño e a La Niña alternam-se a cada período de três a sete anos, aproximadamente, e ocorrem na região que vai do litoral do Peru à Austrália.

O chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo (Capre) do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Luiz Cavalcanti, afirma que o estudo é interessante e de alto nível. Embora inicialmente possa parecer estranho ligar alterações climáticas a doenças, o meteorologista assegura que o conceito é plausível. “Existem muitas outras doenças relacionadas com o comportamento do tempo e do clima, como a dengue, o reumatismo, as doenças respiratórias e as dores musculares”, cita.

Quanto ao La Niña influenciar no padrão de migração das aves, uma explicação é apresentada por Cavalcanti: “O fenômeno pode provocar flutuações no clima regional e globalmente, mudando os padrões de vento”. O especialista do Inmet diz que as interferências do fenômeno no clima são mais notadas nos meses de verão (dezembro, janeiro e fevereiro) e de inverno (junho, julho e agosto). É justamente no inverno que a influenza é mais frequente em países como Estados Unidos e os do norte da Europa, mais distantes dos trópicos. “Já nos países tropicais, a incidência de gripe é praticamente constante o ano inteiro, mas maiores aglomerações em ambientes fechados durante o inverno aumentam a transmissão”, detalha o infectologista especialista em medicina tropical Manuel Retamozo Palácios, da Sociedade Brasileira de Infectologia.


Porcos
Além de alterar o contato entre as espécies de aves, o La Niña também modificaria o modo como elas se aproximam de animais domésticos, como o porco, alerta a pesquisa. Isso explicaria a nova forma genética da influenza A, que, de acordo com Shaman e seu colega, resultou de uma mistura entre os genes do vírus presente em pássaros e em suínos. “A explicação de transmissão da influenza aviária para o porco, devida a essa anomalia da rotina das aves migratórias, é plausível. O Centro para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, analisou o genoma do H1N1 de 2009 e encontrou genes presentes em vírus de influenza suína da Europa e da Ásia, além de influenza aviária e influenza humana”, detalha Palácios.

A alteração genética do vírus da gripe, que ocorre com frequência, é o que torna tão difícil fazer com que as pessoas escapem da doença infecciosa. “No caso do H1N1, existem dois tipos de mutações: as ‘drift’ (menores), que acontecem a cada um ou dois anos, e as ‘shift’ (maiores), em que é mutado quase 30% do genoma viral — ou seja, criam-se novos vírus”, esclarece o infectologista. Esse é o motivo pelo qual a vacina da influenza deve ser tomada anualmente. “Cada lote no Brasil e nos países do Hemisfério Sul vem com sorotipos que foram frequentes no inverno do Hemisfério Norte”, explica. Ele esclarece, no entanto, que há possibilidade de outros agentes infecciosos originados na Ásia ou na África, contra os quais a vacina não oferece proteção, circulem no país.

Opostos
O El Niño é o oposto do fenômeno La Niña. Isso significa que, nele, as águas do Oceano Pacífico ficam mais quentes que o normal. O termo técnico El Niño Oscilação Sul (Enos) indica as interações que ocorrem entre o oceano e a atmosfera relacionadas às alterações drásticas de temperatura na superfície da água do mar, ao padrão dos ventos e à incidência das chuvas.

Chuvas irregulares
Em termos climáticos, o La Niña afeta os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias, segundo explica Luiz Cavalcanti, chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo, ligado ao Instituto Nacional de Meteorologia (Capre/Inmet). É o que vem acontecendo, nos últimos meses, no Brasil, onde há chuvas irregulares e escassas no Sul do país e temporais no Centro-Oeste e no Sudeste.

Fonte Correio Braziliense

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