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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Embrapa Cerrados planeja colocar no mercado espécies de maracujá melhoradas

Na história da humanidade, o rico arsenal de sabedoria popular norteou a lapidação científica de seus elementos culturais mais preciosos, em todas as áreas do conhecimento. Foi assim com a medicina, a música, a engenharia e a literatura, que nasceram do saber comum e consolidaram sua forma erudita e sofisticada a partir das raízes do passado e da ciência rústica do próprio povo.

Dentro desse espectro de criatividade e de transformações, a Embrapa Cerrados é um dos mais bem estruturados laboratórios para explorar a passagem do antigo para o novo e confirmar que, das fontes populares, é possível reinventar os frutos da natureza.

Muitos desses alimentos, que nascem e crescem no mato, parecem ásperos, pequenos e pobres em substâncias bioativas, mas, depois, como num passe de mágica, revelam vigor e riqueza energética na pele, na raiz, nas folhas e na polpa. Um simples maracujá nativo como o da espécie Passiflora setacea, por exemplo, esbanja substâncias como flavonoides, poliaminas, esteróis (o colesterol das plantas, precursor de hormônios), vitaminas e sais minerais que ajudam a regular o organismo, e agora está pronto para ganhar espaço nas feiras, mercados e frutarias. Para isso, foi executado um delicado trabalho de melhoramento genético pelo agrônomo José Orlando de Melo Madalena e sua equipe da Embrapa Cerrados, um trabalho que durou dois anos e meio, desde a revelação de suas qualidades.

Hoje, a variedade BRS Pérola do Cerrado, como passou a ser chamado esse pequeno e redondo maracujá esverdeado, está em vias de entrar na cadeia produtiva da região. “Não adianta mostrar que um determinado fruto ou planta faz bem para a saúde, se as pessoas não têm como comprá-los — seja porque não existe a produção comercial sustentável, seja por não existir condições de logística para colocar o produto no mercado”, observa Ana Maria Costa, que coordena o projeto das passifloras nativas. Quem pode tornar possível o acesso à Pérola do Cerrado — de sabor adocicado, mais acentuado do que o da Passiflora alata, o maracujá-doce — é a Rede Passitec, que reúne 27 instituições de pesquisa públicas e privadas e mais de 100 colaboradores.

De acordo com Ana Maria, a rede procura parceiros para viabilizar a venda no mercado do P. setacea e da BRS Vita, ou P. tenuifila. “Concentramos esforços nessas duas variedades em virtude do potencial funcional e medicinal. As pesquisas mostraram que as duas são ricas em compostos antioxidantes e fenólicos (veja arte), importantes para prevenir doenças cardiovasculares, e podem ter efeito benéfico ao sistema nervoso”, explica a agrônoma. Segundo ela, a Rede Passitec existe para gerar tecnologias e fomentar todas as etapas do sistema produtivo, até a cadeia comercial.

Ela destaca o avanço agronômico para o sucesso da rede, que levará as frutas ao mercado tanto para o consumo in natura como para a fabricação de ingredientes para uso em alimentos. Diante desse rico potencial de cerca de 200 espécies nativas conhecidas no Brasil, os técnicos da Embrapa e de instituições parceiras, como Universidade de Brasília (UnB), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre outras, se debruçam na análise de cinco passifloras — edulis (maracujá azedo), incarnata (cujos frutos não são comestíveis), alata, tenuifila e setacea. A mais conhecida é a edulis, de forte apelo comercial, não apenas na indústria de sucos e de sorvetes. Sua casca é usada na produção de farinha funcional; as folhas, aproveitadas na elaboração de fitoterápicos; e o óleo das sementes entra na composição de cosméticos.

“Além de nutrir, as espécies poderão trazer benefícios para a manutenção da saúde, evitando problemas de obesidade, prevenindo doenças e ajudando o bom funcionamento do sistema nervoso devido à presença dos antioxidantes e das fibras em sua composição”, afirma Ana Maria Costa. Ela considera que o projeto está na reta final e que as variedades chegarão em breve ao mercado. “Acreditamos que seja apenas uma questão de tempo a consolidação de parcerias com o setor privado para a finalização tecnológica para esses produtos começarem a chegar ao consumidor.”

Sono e estresse
Para confirmar o que o ideário popular manifesta sobre a fruta em termos de poderes curativos e preventivos, a Embrapa e o Hospital Universitário de Brasília (HUB) iniciaram este ano uma parceria para testar os efeitos de quatro passifloras no controle do estresse, da enxaqueca, de tremores em idosos e da obesidade, além de avaliar o poder do fruto na recuperação pós-trauma, no equilíbrio do sono, na regeneração celular e como regulador cardiovascular. No projeto-piloto, foi usado o Laboratório do Sono do HUB, onde 21 voluntários se submeteram aos testes. Enquanto o projeto não estiver concluído, os técnicos da Embrapa e HUB não poderão divulgar os nomes das variedades examinadas ou dizer em que situação atuam melhor.

É um estudo do tipo cego, em que os voluntários não sabem se estão ingerindo a verdadeira polpa do maracujá ou uma mistura inócua, com sabor semelhante. No teste-piloto, foi observada apenas a questão do estresse; e em uma segunda etapa, que começa em fevereiro, será a vez da sonolência. Os primeiros resultados são considerados satisfatórios. “Percebemos que houve uma melhora funcional nas pessoas e uma evidente redução de estresse”, afirma a psicóloga Mônica Müller, que coordena a aplicação dos testes no HUB.

O neurologista Nonato Rodrigues, também da UnB, aplica os exames de polissonografia nos voluntários. Esse exame avalia os parâmetros do sono, tais como o tempo que a pessoa leva para adormecer, os estágios do sono REM e RAM, entre outros aspectos. “As pessoas que participam não podem tomar medicamentos que causem sonolência ou apneia do sono. Também não participam aquelas com problemas de epilepsia ou de narcolepsia”, explica Mônica.

As inscrições para o recrutamento para a etapa final do projeto, desta vez para avaliação do sono, terminam em 5 de fevereiro de 2012 (veja serviço). Os voluntários têm de ter disponibilidade para dormir no laboratório do sono por dois fins de semana, com intervalo de duas semanas. Segundo Mônica, o projeto, além de reafirmar as qualidades funcionais e medicinais das plantas, permite que as pessoas se tratem de distúrbios do sono e do estresse.

Serviço
Interessados em participar do grupo de voluntários para testes do efeito de polpas de maracujá sobre o estresse e o sono devem se inscrever pelo email muller.clinica@gmail.com.

Efeitos
Os flavonoides são compostos presentes em abundância nas frutas, verduras e legumes. Os benefícios causados pela ingestão de frutas e outros vegetais se deve a esse composto, que auxilia na absorção de vitamina C, tem ação anti-inflamatória, antialérgica, anti-hemorrágica e antioxidante. As poliaminas, por sua vez, são moléculas presentes tanto em plantas como em animais e micro-organismos e estão relacionadas a diversas respostas fisiológicas, como a senescência — processo natural de envelhecimento celular — e o estresse.

Fonte Correio Braziliense

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