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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Molécula pode beneficiar pacientes que tenham intolerância a nitroglicerina

Poderoso vasodilatador, a nitroglicerina é usada no tratamento de dores no peito, conhecidas como angina, e nas salas de emergência de hospitais, quando pacientes chegam com sinais de infarto agudo de miocárdio. Ela é também a base de quase todos os medicamentos usados atualmente para dilatar as coronárias de pacientes cardíacos. Entretanto, os benefícios para o coração podem ser limitados, devido ao desenvolvimento, pelo corpo, de intolerância ao composto.

Pesquisa realizada no Departamento de Química e Biologia de Sistemas da Escola de Medicina da Universidade Stanford, na Califórnia, identificou uma molécula que, administrada com a substância, pode evitar infartos mais graves em pacientes que desenvolvem essa resistência. A descoberta é fruto do projeto de doutorado do chinês Lihan Sun, realizado com o brasileiro Júlio César Batista Ferreira, também pós-doutorando na instituição.

“Nesse estudo, descobrimos que a intolerância a nitroglicerina não se deve somente à perda do efeito vasodilatador do medicamento. Na verdade, quando precedido do infarto do miocárdio, o uso de nitroglicerina pode causar efeitos devastadores ao coração”, explica Ferreira. De acordo com o pesquisador, a intolerância à nitroglicerina é resultado da inativação da aldeído-desidrogenase 2 (ALDH2), uma enzima essencial para a proteção cardíaca em vítimas de infartos. “O estudo verificou que a molécula ALDA-1, também descoberta pelo nosso grupo em Stanford, é capaz de manter o funcionamento de ALDH2 e evitar efeitos deletérios decorrentes da intolerância à nitroglicerina durante o ataque cardíaco”, diz o cientista.

A pesquisa, que consumiu os últimos três anos e foi publicada recentemente pela revista Science Translational Medicine, foi realizada em animais. O estudo foi coordenado pela professora Daria Mochly-Rosen. “Depois da administração da nitroglicerina por 16 horas, induzimos o infarto do miocárdio nos animais e observamos que o grupo com o composto apresentou disfunção cardíaca maior do que os demais ao longo de três semanas após o infarto. Porém, quando administramos a nitroglicerina combinada à ALDA-1, os efeitos deletérios da tolerância ao medicamento não se manifestaram”, acrescenta Ferreira.

O próximo passo será avaliar os benefícios da ALDA-1 em humanos. O custo do projeto é de US$ 10 milhões. Para tentar viabilizar a iniciativa, o grupo de pesquisadores de Stanford criou a empresa Aldea para arrecadar fundos para a realização dos testes em humanos.

Dinamite
O uso da nitroglicerina pela medicina foi bastante posterior à sua descoberta. Foi o químico italiano Ascanio Sobrero quem primeiro a identificou, em 1847, e batizou-a de piroglicerina. Vinte anos mais tarde, outro químico, o sueco Alfred Nobel, a utilizaria na fabricação da dinamite. Sobrero chegou a observar que a substância provocava dores de cabeça, causadas pela dilatação dos vasos. Mais tarde, o mecanismo do efeito da nitroglicerina nos doentes cardíacos foi descoberto por três cientistas norte-americanos: Robert Furchgott, Louis Ignarro e Ferid Murad.

“O grande problema é a intolerância a ela, decorrente do uso sustentado do medicamento. Os efeitos devastadores resultam da inativação da ALDH2. A ALDH2 é uma enzima mitocondrial cujas funções são essenciais no sistema cardiovascular, entre as quais catalisar a conversão da nitroglicerina ao vasodilatador óxido nítrico e remover aldeídos tóxicos produzidos durante o infarto do miocárdio. Com a inibição dessa enzima pelo excesso de nitroglicerina, esses aldeídos se acumulam no coração e passam a se ligar a proteínas, a lipídios e ao DNA, resultando na morte celular durante o infarto do miocárdio. Com a ALDH2 ativada, é possível remover com mais facilidade esses aldeídos, minimizando os danos ao coração”, explica Júlio César Ferreira, formado em educação física pela Universidade de São Paulo e PhD em química, sistemas biológicos e biodinâmica humana.

Prevenção
Setenta por cento das mortes no Brasil são decorrentes de doenças não transmissíveis: câncer, diabetes, doenças respiratórias crônicas e doenças cardiovasculares. Dessa porcentagem, quase 40% dos óbitos provêm das doenças cardiovasculares: infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca. Dados mais recentes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, referentes a 2009, dão conta de 74 mil mortes naquele ano em decorrência de infarto — metade das pessoas afetadas pelo problema não chegam ao hospital com vida.

Diante de dados alarmantes, o que fazer? “Prevenção e detecção precoce”, afirma Maria da Consolação Vieira, presidente da Sociedade Mineira de Cardiologia. “E ela deveria começar ainda na pediatria, já que, cada vez mais, as doenças cardiovasculares acometem pessoas mais jovens.” As causas são várias: obesidade, sedentarismo, hipertensão, diabetes, tabagismo e colesterol elevado, entre outras. A mudança do estilo de vida da sociedade moderna, com a consequente exposição precoce a um ou vários fatores de risco, vem acelerando o processo, de acordo com a cardiologista. Segundo a médica, a pessoa que sentir dor forte no peito deve procurar a urgência de um hospital para ser avaliada por uma equipe preparada para lidar com a situação.

"Nesse estudo, descobrimos que a intolerância a nitroglicerina não se deve somente à perda do efeito vasodilatador do medicamento. Na verdade, quando precedido do infarto do miocárdio, o uso da substância pode causar efeitos devastadores ao coração"

Júlio César Batista Ferreira, pós-doutorando da Escola de Medicina da Universidade Stanford, na Califórnia

Fonte Correio Braziliense

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