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sábado, 18 de abril de 2015

"O silicone faz um mal terrível. Se não der problema agora, vai dar um dia"

A cantora trans portuguesa Patricia Ribeiro é uma das pacientes trans satisfeitas com a intervenção do cirurgião brasileiro Luiz Paulo Barbosa.
Reprodução: A cantora trans portuguesa Patricia Ribeiro é uma
das pacientes trans satisfeitas com a intervenção do cirurgião
 brasileiro Luiz P. Barbosa. "Meu rosto estava deformado", diz ela
Experiente em cirurgias de retirada de silicone, o dr. Luiz Paulo Barbosa socorre trans e travestis com intervenções de feminilização do rosto ou para consertar procedimentos anteriores
 
O portfólio do dr. Luiz Paulo Barbosa mostra muitas daquelas cenas irresistíveis de antes e depois: um nariz grande que virou arrebitado, um bumbum murcho que ficou redondo, uma cintura reta que ganhou curvas, peitos caídos que voltaram a ser jovens. A maioria de suas pacientes são mulheres que o procuram principalmente para fazer lipoaspiração, cirurgia que ele próprio introduziu no Brasil em 1982, ou colocar prótese de mama. 
 
Mas ele tem uma outra realidade em sua clínica paulistana: transgêneros que o consultam para fazer feminilização do rosto ou para consertar procedimentos anteriores, na maior parte das vezes problemas decorrentes do uso de silicone. "O silicone faz um mal terrível. Se não der problema em seis meses, dá em um ano, em 12, em 20. Um dia vai dar", diz ele, que condena completamente o uso de silicone injetável para procedimentos estéticos. "Mesmo que o resultado fique lindo no começo, uma hora vai ter alguma consequência", diz ele.
 
Essa parte do portfólio, que continuamos não podendo mostrar aqui por conta do acordo de confidencialidade médica, é assustadora. Tem pernas com manchas pretas de necrose, com manchas vermelhas provocadas por infecção, buracos, bumbuns deformados (imagina um bumbum em que a linha que divide os glúteos não é uma reta e sim um "S"?), rostos em que (o que um dia foi) a maçã veio parar no maxilar. "Tem silicone que foi colocado nas nádegas e desce até o pé, que fica parecendo um pé de elefante", conta Luiz Paulo.
 
"Nos anos 60, as mulheres chegaram a colocar parafina nos seios e nádegas. Antes de operar para tirar silicone, já operei para tirar parafina do corpo delas", conta Luiz Paulo. "Tirei de mulheres e apareceram por acaso as travestis, muitas delas estrangeiras. Tenho clientes suíças, francesas, italianas, americanas", diz ele, que operou a cantora trans portuguesa Patrícia Ribeiro, que chegou à sua clínica com rosto e bumbuns deformados por uso de silicone.
 
"Muitas vezes, quem injeta são leigos, uns nos outros. Tem enfermeira que é especialista em silicone, PMMA e hidrogel. Nada disso você deve colocar no corpo." Para injetar no rosto, a única coisa que ele indica é o ácido hiarulônico, que faz preenchimento de vincos, rugas e aumento dos lábios de forma temporária, e o corpo vai naturalmente absorvendo a substância, até que seja preciso aplicar outra vez.
 
Segundo ele, o silicone é proibido no Brasil, mas o uso do PMMA, que tem efeito semelhante, foi autorizado anos atrás. Para tirar parcialmente o material que se moveu, deformou, endureceu, causou inflamação ou alergia, são necessárias diversas cirurgias. "Tem que abrir e raspar seguidas vezes, a pessoa fica com diversas cicatrizes. A gente toma todo o cuidado do mundo, mas cada pessoa tem um processo de cicatrização diferente. Nunca dá para tirar 100%, principalmente do que está dentro do músculo."
 
Feminilização do rosto
Luiz Paulo ri da confusão, mas muita gente que sabe que ele tem clientes trans e travestis conclui que ele faça cirurgia de readequação sexual. Ele não faz, nunca fez e não saberia fazer sozinho uma cirurgia de mudança de sexo. "Só assisti uma cirurgia desse tipo uma vez, por curiosidade, na clínica de um colega na Bélgica", esclarece (mais sobre isso mais para frente). O que ele faz sim, e bastante, é a cirurgia de feminilização do rosto, que significa transformar um rosto masculino no mais próximo possível de um feminino. "É como um lifting (no literal do inglês, "levantamento", cirurgia para reverter o efeito da flacidez e "levantar" a musculatura) feito com características especiais para deixar mais feminino o rosto masculino.
 
O custo começa em R$ 30.000,00, com modificações nos olhos, nariz, bochechas. Vai aumentando se incluir a raspagem do pomo de adão, a diminuição da testa, implante de cabelo, implante de silicone sólido no queixo ou alguma outra necessidade específica. "O rosto masculino tem algumas particularidades. Os cantos dos olhos são em geral mais baixos, assim como a sobrancelha. Na feminilização, mexo na posição dos olhos e levanto as sobrancelhas", explica. "O crânio masculino tem uma formação óssea em cima dos olhos que forma uma espécie de degrau na testa, arredondar isso é muito mais feminino. Em alguns casos é preciso mexer na parte óssea para diminuir o maxilar ou o queixo", continua.
 
"A testa grande é muito mais comum nos homens, posso diminuir cirurgicamente e posteriormente complementar com implante de cabelo. O nariz masculino é menos delicado que o feminino, mexer no nariz quase sempre dá resultado. Em alguns casos retiro uma formação gordurosa que se encontra na região mole da bochecha para afinar o rosto." Para subir a maçã do rosto ele usa prótese de silicone sólido. Para quem tem o queixo muito pequeno, outra prótese do mesmo tipo é indicada.

Luiz Paulo diz que esta é uma cirurgia difícil e trabalhosa, que dura em torno de quatro horas. Ele a realiza na clínica própria, no Itaim Bibi, ou em qualquer hospital da escolha da paciente.
 
A cicatriz do poder 
A cirurgia que Luiz Paulo assistiu na Bélgica, na cidade universitária de Ghent, foi feita em um homem trans, para transformar sua genitália feminina em masculina, com prótese de pênis. "Vi meu colega transformar uma mulher em homem", lembra.
 
Segundo ele, a intervenção foi realizada em três etapas. "Na primeira, são retirados os peitos e o útero, e se fecha a vagina. Os grandes lábios vaginais permanecem, é a partir deles que se faz os sacos escrotais." Na segunda fase, ele viu o médico fazer um corte em formato de retângulo no antebraço do paciente e retirar um pedaço subcutâneo e a pele do local. Com essa parte retirada do braço é feito um cilindro, em que se ligam vasos, veias e artérias para irrigar e se recolocam nervos. "Fica igualzinho a uma glande", diz ele. Então se faz a recanalização da uretra, para a pessoa conseguir fazer xixi com o novo órgão. Essa fase da cirurgia dura cerca de 12 horas.
 
Segundo Luiz Paulo, no mundo dos transexuais estrangeiros essa cicatriz no braço em forma de retângiulo é símbolo do poder maior, sinal de que o homem trans tem um pênis e que gastou 150.000 euros na cirurgia (cerca de 480 mil reais). "O filho da Cher tem uma", conta.
 
A terceira fase, feita depois da cicatrização dos procedimentos anteriores, é a colocação da prótese. As opções são as mesmas utilizadas para um homem que tem problemas de ereção; a prótese pode ser inflável ou dobrável.
 
iG

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