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terça-feira, 12 de maio de 2015

Pesquisa demonstra como a falta de sono afeta a tomada de decisões na crise

Privação de sono afeta tomada de decisões de maneira crucial, dizem especialistas
Privação de sono afeta tomada de decisões de maneira crucial,
 dizem especialistas
Estudo é pioneiro em mostrar impacto do cansaço em situações de risco nas quais as circunstâncias mudam constantemente e é preciso decidir o melhor caminho a seguir
 
A diferença entre a vida e a morte na sala de cirurgia, no campo de batalha ou durante um tiroteio policial muitas vezes se resume à capacidade de adaptação ao inesperado. A privação do sono – um dos grandes males da vida moderna – pode prejudicar isso, aponta um estudo da Washington State University publicado este mês na revista científica Sleep.
 
Pela primeira vez, os pesquisadores conseguiram reproduzir, em laboratório, uma simulação de como a falta de sono afeta aspectos críticos da tomada de decisão em situações-limítrofes do mundo real.
 
Os resultados fornecem pistas de como ficar sem dormir por longos períodos pode levar médicos, socorristas, soldados e outros profissionais que lidam com crises a tomarem decisões catastróficas.
 
A história recente está cheia de exemplos das consequências, por vezes devastadoras, de pessoas “funcionando” sem dormir o suficiente. Investigações sobre o colapso na usina nuclear de Chernobyl e a explosão do ônibus espacial Challenger, por exemplo, mostraram que operadores privados de sono tiveram papéis cruciais nesses acidentes.
 
Criar uma situação controlada, em laboratório, que simula suficientemente bem as circunstâncias que levaram a lapsos graves de julgamento do mundo real sempre foi um desafio para os cientistas.
 
Estudos já publicados anteriormente conseguiram mostrar como o sono compromete a atenção, mas os efeitos disso em testes de cognição e na tomada de decisões ainda são raros nesse campo de estudo.
 
Normalmente, a tomada de decisão é um processo dinâmico que exige de cada indivíduo se inteirar do que está ocorrendo em volta dela, como resultado de suas ações e de mudanças nas circunstâncias.
 
Um cirurgião, por exemplo, pode notar uma mudança nos sinais vitais de um paciente no meio de um procedimento. Ele usa essa informação, também chamada de feedback, para decidir qual o melhor caminho a seguir.
 
“Um aspecto inovador deste estudo foi o uso de uma tarefa simples de laboratório que capta o aspecto essencial da tomada de decisões no mundo real, de se adaptar a novas informações em uma situação de mudança”, disse John Hinson, professor de psicologia e um dos autores da pesquisa.
 
“Estudos anteriores sobre perda de sono e tomada de decisões não levaram em conta a importância da adaptação de cada indivíduo à evolução das circunstâncias na hora de determinar se a perda de sono pode ou não levar a falhas em tomadas de decisão.”
 
Para o experimento, foram usados 26 voluntários saudáveis, dos quais, 13 foram selecionados aleatoriamente para passar 62 horas sem dormir, enquanto a outra metade do grupo pôde descansar.  Durante seis dias e noites, os participantes viviam em um laboratório que lembrava um hotel, onde realizaram uma tarefa de aprendizagem reversa concebida para testar a capacidade deles de usar feedback para orientar decisões futuras.
 
Na tarefa, os indivíduos foram apresentados a uma série de números que, desconhecidos para eles, foram pré-definidos como “vá” (resposta) e “não vá” (não-resposta). Eles tinham menos de um segundo para decidir se respondiam ou não a cada número mostrado. Toda vez que eles identificaram corretamente um número com um valor de “vá”, recebiam uma recompensa monetária fictícia. Erros resultavam em perda.
 
Depois de algum tempo, tanto o grupo privado de sono quanto os que puderam descansar começaram a entender a tarefa e a selecionar os números certos. Em seguida veio a parte difícil. Os pesquisadores inverteram as contingências, de modo que os participantes tiveram que recusar uma resposta aos números que significavam “vá” e responder aos números que indicavam “não vá”.
 
Isso mostra, defendem os pesquisadores, que não importa o quanto uma pessoa quer fazer a escolha certa, a perda de sono faz algo com o cérebro que simplesmente impede o uso do feedback de forma eficaz. Para eles, a pesquisa fornece uma nova ferramenta para investigar como a privação do sono produz erros de decisão em situações da vida real onde a informação muda ao longo do tempo.
 
“Nossos resultados nos dizem que colocar as pessoas privadas de sono em ambientes de potencialmente perigosos é um negócio inerentemente arriscado e levanta uma série de implicações médicas, jurídicas e financeiras”, disse Hans Van Dongen, diretor do Centro de Pesquisas do Sono e da Washington State University, outro autor do estudo.
 
iG

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