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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Aprendendo a fala dos hospitais

Enfermeira norte-americana conta como aprendeu a linguagem usada na comunicação entre profissionais de saúde
The New York Times Nos hospitais, há um tipo especial de comunicação entre médicos e enfermeiros muito difícil de aprender. Eu a apelidei de “tagarelice”. Na tagarelice, a velocidade é muito mais importante que o estilo e as conversas contêm jargões incompreensíveis para quem não trabalha na área – são termos médicos de difícil compreensão, cuidadosamente organizados para relatar a história de um paciente. Você precisa falar rapidamente e existe uma pressão enorme para acertar. Se você não falar direito, informações importantes podem ser perdidas e – sem querer exagerar – o paciente pode morrer. Aprendi esta lição no início de minha carreira como enfermeira. Certa vez, uma paciente soltou um gemido repentino, parecido com o de um animal. Sua cabeça balançava descontroladamente. O episódio durou poucos segundos e então ela passou a se queixar de que seu braço direito estava dormente. Isso aconteceu no momento da mudança de turnos, de modo que outra enfermeira estava no quarto comigo e testemunhou o ocorrido. Assustadas com o estranho estado da paciente, resolvemos acionar uma equipe de emergência para se dirigir ao quarto. Quando a equipe chegou, uma enfermeira do setor de tratamento intensivo perguntou se a paciente havia perdido a consciência. Recordando meu passado como professora de redação, levei um tempo para pensar sobre o que aconteceu, a fim de que pudesse descrever os fatos com exatidão. A paciente desmaiou? Foi um ataque epilético? Será que ela teve um derrame cerebral? Foi então que percebi que meu esforço para dar uma resposta sensata estava incomodando a enfermeira da UTI. Ela me olhou exasperada. O tempo estava passando. Ela não queria a resposta perfeita, mas apenas uma resposta. Naquele instante entrou Julie, a enfermeira que estivera no quarto comigo. “Ela parece ter desmaiado”, disse ela num impulso. Foi neste momento que descobri que as narrativas dentro do hospital tinham mais a ver com E.E. Cummings do que com Tolstoy. Outro paciente precisava ser transferido para a UTI. A médica residente planejava relatar ao médico da UTI sobre a transferência. Porém, como ela precisou se afastar, coube a mim fazer o relatório e tagarelar. Os médicos da UTI não concedem leitos com muita facilidade, por isso eu precisava convencê-los de que este paciente realmente precisava ser transferido. Eu conhecia o médico, porém não sabia que tipo de pressões ele sofria e se poderiam contrabalancear com meu pedido. Então apelei para a tagarelice: “paciente IL-2, hipotenso, PA variando entre 7 por 4 e 6 por 3, taquicardia ocasional, medicação pela manhã para pressão de 8 por 5, recebendo mais medicação neste momento, sobrecarga de líquidos presente, crepitações nas bases.” Respirei por um instante e então perguntei blefando: “Existe algo mais que gostaria de saber?” Eu tinha acabado de informar o médico que, como resultado da quimioterapia, o paciente apresentava uma pressão extremamente baixa, seus batimentos cardíacos estavam muito acelerados, e nós já havíamos ministrado mais medicação intravenosa que seu corpo poderia suportar. Eu não tinha mais nada a acrescentar, nenhum outro problema médico, mas pensei que seria bom sugerir que seus problemas eram sérios o bastante para que se dissesse mais alguma coisa. “Não”, respondeu o médico. Ele permaneceu em silêncio por um minuto até que, à sua maneira, aceitou meu blefe. “Geralmente estes casos são terapias de altos e baixos”, disse ele, lembrando que aquela crise poderia ser resolvida assim que o paciente fosse para a UTI. “Mas ele pode ser transferido para um quarto, sim.” “Sério?!”, disse eu, abandonando meu papel de profissional segura e determinada e comemorando como uma criança de cinco anos que vai ganhar um cachorro de presente. Fiquei feliz e aliviada – a tagarelice havia funcionado. O alívio durou pouco. Enquanto nos preparávamos para transferir o paciente para a UTI, ocorreu uma chamada no outro andar, o que significava que meu paciente poderia perder o leito que lhe fora prometido. Me senti fisicamente mal. De tempos em tempos, os enfermeiros precisam cuidar de pacientes que deveriam estar na UTI , porém não há leitos disponíveis. É um trabalho difícil e desgastante. Depois de longos cinco minutos, recebi o sinal verde da enfermeira responsável. Seja lá o que tenha ocorrido naquela chamada, o leito na UTI ainda era do meu paciente. Pegamos o elevador. A pressão arterial do paciente ainda estava perigosamente baixa. Finalmente chegamos à UTI e, muito embora eu lhes tenha fornecido um boletim gravado em fita sobre o paciente, a enfermeira queria saber mais. Respirei fundo e comecei a tagarelar. * Theresa Brown é enfermeira especializada em oncologia e contribui com um blog de saúde para o New York Times. http://saude.ig.com.br/minhasaude/historiasdemedico/aprendendo+a+fala+dos+hospitais/n1237962128447.html

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