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sábado, 1 de outubro de 2011

Gestação de risco após transplante renal

Medo de complicações na gravidez é superado pelo desejo de ser mãe

Onoelma Cardoso do Nascimento, de 32 anos, vai ter o primeiro bebê no início de agosto, quando encerra uma gravidez de risco. Ela sofre de hipertensão arterial. Tem de 15% a 20% de chance de desenvolver pré-eclampsia e pode comprometer novamente o funcionamento de seus rins.

Para ela, nada disso assusta. Onoelma enfrentou um transplante renal em novembro de 2006, dois anos depois de perder um bebê por eclampsia (convulsão). Todo esse processo quase acabou com o sonho de ser mãe.

Foram necessários dois anos de recuperação até o médico permitir que ela tentasse engravidar, e mais um ano tentando ficar grávida. “Sabia que seria difícil, mas queria muito ter um filho”, afirma.

A história de Onoelma se confunde com a de outras mulheres atendidas no ambulatório de obstetrícia da Unifesp. São cerca de 20 gestantes que recebem acompanhamento todo ano, depois de se recuperarem de um transplante de rins.

Gravidez de risco, gestante feliz
“Apesar do risco, essas gestantes estão sempre alegres. Elas venceram desafios e estão realizando um sonho”, observa Nelson Sass, professor de obstetrícia da Unifesp e médico do ambulatório.

Muitas mulheres perdem a capacidade de engravidar quando estão tratando alguma doença grave do rim, que exija diálise.

“Sempre sobram resíduos no sangue da paciente e isso pode afetar a fertilidade, interrompendo a ovulação”, explica Sass.

O transplante, apesar de todo o risco envolvido no processo, é a esperança que elas têm de recuperar a capacidade renal e, com isso, engravidar.

A gravidez de uma paciente transplantada sempre será mais arriscada e perigosa. Isso porque 50% delas passam a ter hipertensão leve, fator de risco para pré-eclampsia. A própria pré-eclampsia também tem risco aumentado; enquanto a incidência é de 5% em gestantes, o índice salta para de 15% a 20% no grupo das transplantadas.

Além disso, as mulheres transplantadas têm risco aumentando de hemorragia e de infecção urinária. O transplante torna o organismo delas mais vulnerável e exposto aos riscos da gestação.

“A gestação sobrecarrega os rins, por isso é importante estar sempre atento”, recomenda Sass. A verificação do funcionamento dos órgãos é feita por um exame de creatinina na urina, que aponta se os rins estão filtrando corretamente o sangue.

História de luta
A maioria das pacientes do ambulatório de obstetrícia da Unifesp tem de 25 a 35 anos. Antes de chegar à sonhada gestação, elas já enfrentaram uma bela jornada em hospitais e centros de diálise.

A nefropatia costuma ser gerada por diabetes e lúpus (doença do sistema imunológico), entre outros problemas. No caso de Onoelma foram repetidas infecções que prejudicaram os rins. Mas ela só descobriu isso depois de ter a primeira gestação interrompida por eclampsia.

“Tenho pressão alta desde a adolescência, mas não sabia que estava com problema nos rins”, comenta.

Depois do diagnóstico, ela entrou na fila do transplante e esperou por cerca de um ano para tratar sua insuficiência renal. O rim é o segundo órgão mais transplantado do país, com 34.640 procedimentos realizados em 2009. Ele perde apenas para córnea, que registrou 40.110 transplantes no mesmo período, de acordo com o Ministério da Saúde.

São Paulo lidera o ranking de transplantes de rim, com 10.283 procedimentos realizados no ano passado. O estado é seguido pelo Rio de Janeiro, com 3.672 cirurgias e pela Bahia, com 3.089.

Casos sem solução
O transplante é a melhor solução para tratar a doença renal crônica, mas só é recomendado para 30% dos pacientes. Isso acontece porque, na maioria dos casos, a doença já deixou o organismo debilitado demais para enfrentar uma cirurgia.

“As principais causas da doença renal crônica são diabetes e hipertensão arterial. Muitos pacientes chegam ao tratamento já com vasos sanguíneos muito alterados, alto risco de doença coronariana e idade avançada. Não dá para submeter ao transplante”, explica o nefrologista Paulo Luconi, presidente da Associação Brasileira de Clínicas de Diálise e Transplante.

Para essas mulheres, quase não há esperança de engravidar. “Elas têm alterações hormonais importantes que interferem na ovulação”, diz o nefrologista.

“É raríssimo engravidar quando se faz diálise, mas isso pode acontecer”, afirma. A chance é de 1 para 200. Se a mulher engravidar, há um risco muito elevado do bebê não nascer. “É uma situação muito complicada.”

Mas a chance de engravidar melhora bastante após o transplante renal, chegando a 1 para 50. O verdadeiro desafio está em preservar a saúde da mãe e do feto durante os nove meses de gestação.

Estudos realizados na Unifesp mostram que apenas 54% das transplantadas conseguem chegar ao nono mês de gestação, sem a necessidade de um parto prematuro. Apesar das dificuldades e dos números desfavoráveis, a Unifesp continua recebendo mulheres que não desistem do sonho de ser mãe. "Não foi fácil, mas está valendo a pena", conta Onoelma, faltando poucos dias para ter seu primeiro filho.

Fonte IG

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