Hospital A.C. Camargo Cancer Center
Laser é usado para tratar a mucosite oral, espécie de afta
causada pela quimioterapia
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Quando alguém tem câncer e tem de fazer quimioterapia, o foco desses remédios é impedir a duplicação de células do corpo (para não aumentar o tumor), e como as células da boca se duplicam rapidamente, o medicamento impede esse processo, o que faz com que as feridas apareçam. E apareçam em toda a boca. Na região interna das bochechas, perto dos lábios, na língua, no céu da boca. A dor, relatam pacientes, é intensa. Além disso, há um risco aumentado de infecções, já que a boca está completamente ferida.
Dor que, antes do laser, era aliviada à base de analgésicos fortíssimos e chegava a causar até de mortes por desnutrição. Muitas vezes, também era responsável pela extinção do prazer de comer, de saborear um alimento, forçando o paciente a ser nutrido por meio de uma sonda nasogástrica. Com o laser, essas possibilidades ruins podem ser deixadas de lado.
“São lesões muito dolorosas. Talvez o efeito mais indesejável do tratamento oncológico. Às vezes, o paciente tinha de tomar morfina devido a dor, e isso acaba aumentando os dias de internação”, explica o estomatologista do Hospital A.C. Camargo, Fábio de Abreu.
Menos dor
A professora titular da disciplina de dentística da Faculdade de Odontologia da USP, Márcia Martins Marques, explica que o laser acaba com a dor e acelera o processo de cicatrização. Ele, inclusive, consegue prevenir o aparecimento dessas lesões dolorosas na boca dos que estão em tratamento contra o câncer.
“Depois de uma aplicação, o paciente fica esperando o profissional voltar no dia seguinte, para que ele consiga comer de novo”, conta Márcia.
Abreu conta que o laser é bioestimulante. “Ele dá energia para a célula, que fica mais resistente à ação da quimioterapia e se renova mais rapidamente”, diz. “A diminuição da dor é imediata, mas o melhor é aplicar em dias consecutivos à quimioterapia”.
De acordo com Márcia, depois da comprovação que o laser podia reduzir a dor e estimular a cicatrização, pesquisadores começaram a testar se ele poderia prevenir essas lesões. E soube-se que o laser é eficaz em impedir que sequer essas feridas apareçam.
“Equipes em alguns hospitais aplicam o laser em pacientes que vão começar a se tratar, como antes de um transplante de medula ou antes da quimioterapia. Muitas vezes as lesões nem aparecem, e se aparecem, são em um grau muito menos grave do que se não tivesse sido feito o laser”, conta a professora-titular da USP.
Esse tipo de procedimento, em que a sessão dura cerca de 10 minutos, pode ser feito também em crianças ou grávidas que estejam passando por esse problema.
Márcia explica que o maior desafio da terapia com o laser atualmente é unificar os mais diversos protocolos existentes. “Tivemos muitos problemas nos últimos anos porque existem muitos parâmetros para aplicar o laser, e, como isso muda muito, não ficamos com uma grande quantidade de evidências. O que está se buscando é tentar definir parâmetros para a terapia”, conta ela, ressaltando que a Faculdade de Odontologia da USP tem uma disciplina optativa para aprender a trabalhar com o laser.
iG
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