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Ouvir os amigos brincando "mostra os peitinhos" passou a ser um incômodo para o jovem V.S.M*, 24, que se submeteu a cirurgia recentemente para retirar o excesso de glândula e tecido gorduroso na região mamária. A ginecomastia foi detectada na adolescência, mas o rapaz imaginou que ao perder peso, o problema seria solucionado.
“Não adiantou e isso começou a me causar muita vergonha. Minha estratégia era nunca tirar a camisa em público, mas ainda assim, as pessoas faziam brincadeiras e isso me deixava envergonhado e triste”, conta.
Evitar lugares como clubes e praias passou a ser recorrente e o jovem percebeu que estava cada vez mais se isolando. “Decidi buscar orientação médica e, só não fiz isso antes, porque não imaginei que houvesse solução. Há cerca de um mês fiz a cirurgia e já me sinto aliviado”, relata.
E é essa a função de uma consulta com um médico especializado: buscar orientação e tratamento para uma disfunção que, em geral, não causa riscos à saúde masculina, mas pode provocar uma série de situações constrangedoras interferindo na autoestima e, consequentemente, deixando muitos homens deprimidos e com vergonha de se expor.
Segundo o médico Eduardo Porto Leite, especialista e membro da Sociedade Brasileira e Cirurgia Plástica (SBCP) e Associação Médica Brasileira (AMB), a ginecomastia pode afetar homens em diferentes faixas etárias. “A incidência entre adolescentes chega a 65%, em adultos pode ocorre em até 32% e, após os 60 anos de idade, em 40% dos homens. Na puberdade, o problema tende a regredir espontaneamente, sendo que apenas 7% dos jovens permanecem com o diagnóstico e são indicados para acompanhamento e tratamento”, explica.
O especialista afirma que estudos científicos comprovam alterações psicológicas em boa parte dos jovens que apresentam ginecomastia. “O sentimento de vergonha faz com que estes rapazes curvem os ombros causando alteração postural e na coluna (escoliose), evitando ainda ficar sem camisa em praias e vestiários, o que pode causar grave dano psicológico em decorrência do isolamento social”, ressalta.
Para o médico, essa tormenta em uma fase de autoafirmação da virilidade masculina, tende a gerar traumas irreparáveis no futuro. Por isso, não renegar o problema é uma decisão importante. O tratamento indicado pode restaurar a autoestima, melhorando o convívio social e evitando traumas futuros.
Entenda o problema e suas causas
A ginecomastia é o aumento benigno do tecido mamário masculino. “É uma alteração do tamanho e formato das mamas masculinas, causada pela proliferação da glândula mamária e também pelo acúmulo de gordura na região do tórax”, define Leite.
Segundo o cirurgião plástico Daniel Rufatto, integrante do Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro (SP), a principal causa para o surgimento do problema ocorre devido a uma alteração na relação hormonal estrogênio/androgênio e que apresenta três causas: fisiológica, patológica e exógena.
A primeira refere-se ao desenvolvimento masculino em diferentes etapas: após o nascimento, devido à presença de hormônios maternos; na puberdade por questões hormonais; e na senil, pela queda da testosterona.
“O aumento da mama também pode ser decorrente de fatores patológicos, como algumas neoplasias, alterações metabólicas hepáticas e renais, desnutrição e hipogonadismo”, completa Rufatto. E em último caso, ser decorrente do uso de drogas e anabolizantes.
Portanto, é importante destacar que obesidade não está ligada necessariamente ao surgimento da ginecomastia. “Em pacientes acima do peso, é possível identificar um acúmulo de gordura na região mamária, sem que ocorra o aumento da glândula”, diz o cirurgião plástico.
O tratamento cirúrgico é o mais indicado
Segundo o médico Luiz Wanna, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o tratamento clínico é indicado e se não houver resultado, encaminha-se o paciente para a cirurgia.
“Se for detectado apenas excesso de gordura é realizada uma lipoaspiração; se a ginecomastia estiver diagnosticada, é necessário retirar essa glândula mamária por meio de um corte de aproximadamente 4 cm na aréola”, explica o médico.
Em 75% dos casos, o problema regride espontaneamente em até três anos. Por isso, Rufatto comenta que é válido realizar acompanhamento clínico. “Para os casos persistentes, a cirurgia é o tratamento mais adequado. Neste caso, é feita uma pequena incisão periareolar em meia lua para acessar e retirar o excesso de glândula. Também é possível associar uma lipoaspiração local para retirada de excesso de tecido gorduroso”, completa o especialista.
A cicatriz normalmente permanece camuflada na parte inferior da aréola. Já a cirurgia é realizada com anestesia local ou geral, de acordo com a avaliação médica, sendo que o paciente costuma ficar internado apenas um dia. Para ser submetido à cirurgia, é importante realizar uma avaliação clínica que inclui uma bateria de exames laboratoriais, eletrocardiograma e ultrassom das mamas.
A recuperação costuma ser rápida, exigindo repouso na primeira semana e o uso de cinta pós-operatória no primeiro mês.
“A glândula dificilmente retorna, exceto se ocorrer grande desequilíbrio hormonal”, afirma Wanna. E o tecido gorduroso lipoaspirado também não pode ser recuperado, podendo ocorrer novos depósitos de gordura caso ocorra excessivo ganho de peso pós-cirurgia. “O paciente bem orientado pelo cirurgião plástico no pós-operatório mantém o resultado de maneira definitiva”, garante Leite.
* O nome não foi divulgado para resguardar a identidade do entrevistado
iG
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