Sociedade Brasileira de Dermatologia alerta a população quanto aos riscos do câncer de pele. Chegada do verão, esta semana, põe o tema em evidência
Depois do Outubro Rosa e do Novembro Azul, campanhas de conscientização sobre os cânceres de mama e próstata, respectivamente, dezembro chegou com a tarefa de alertar sobre os riscos e orientar sobre métodos de prevenção de tumores na pele. E o laranja foi a cor escolhida para a campanha organizada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), que chega a seu segundo ano. O momento é oportuno, já que, com a chegada do verão e do recesso escolar, praias, clubes, piscinas, cachoeiras, parques e praças ganham mais vida. Mas se divertir exposto a raios emitidos pelo Sol exige cuidados.
Estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) mostra que, em 2016, 175 mil novos casos de câncer de pele não melanoma serão diagnosticados no Brasil. De todos os diagnósticos da doença no país, 29% são de pele. É o tipo com maior incidência entre os brasileiros. Em segundo lugar, vem o de próstata, e, em terceiro, o de mama.
“A incidência do câncer da pele está crescendo no país e no mundo. Assim, a SBD achou que era o momento de assumir a responsabilidade de alertar a população, tanto na forma de prevenção como na de detecção precoce da doença. A cor laranja foi escolhida por representar um sol saudável, poente”, explica Gabriel Gontijo, presidente da SBD. O principal objetivo da campanha é orientar sobre a necessidade do uso correto do filtro solar e outras formas de cuidado com a pele, bem como incentivar o autoexame.
Doença provocada pelo crescimento anormal e descontrolado de células da pele, os tipos mais comuns são os carcinomas basocelulares e espinocelulares. Mais agressivo e raro que os dois primeiros – representando somente 4% dos casos –, o melanoma fica na frente dos outros quando o quesito é a letalidade. A principal responsável pelo desenvolvimento de tumores cutâneos é a radiação solar. “O mais importante é orientar a população que a melhor prevenção para o câncer na pele é o uso do filtro solar no dia a dia, não só no momento de praia, de clube, de fim de semana. O mais saudável é todos os dias, mesmo que o Dezembro Laranja aproveite o momento de as pessoas entrarem de férias e o começo do verão”, afirma Gontijo.
Cirurgião oncológico da Rede Mater Dei de Saúde, Alberto Wainstein observa que o dano causado pela exposição exagerada ao Sol não é pontual, por isso o cuidado deve ser tomado durante toda a vida do indivíduo. “Todo dano fica acumulado. Ele não vai embora depois que a pessoa descasca. É como se fosse uma poupança que não tem retirada. Esse dano que foi feito na pele já está no DNA. É irreversível”, esclarece. Wainstein explica que a incidência de tumores é maior em pessoas mais claras, e que o melanoma costuma aparecer em pessoas com a pele mais escura na planta do pé e na palma da mão, sem ter grande relação com a exposição ao sol.
Não existem muitas novidades no que diz respeito à prevenção do câncer de pele, e a maioria das pessoas já sabe de cor e salteado como se cuidar. O mais importante é o adequado e contínuo uso do protetor solar, respeitando sempre o tipo de pele. Pessoas mais claras devem usar um filtro com fator de proteção solar (FPS) de, no mínimo, 30. Quanto mais sensível for a pele, mais alto deve ser o FPS. Não se expor ao Sol no horário de maior incidência de radiação – durante o período do horário de verão, entre 10h e 16h; nas outras épocas do ano, entre 9h e 15h – é outra recomendação recorrente entre os especialistas. “Não é o Sol que faz mal, mas a atitude irresponsável das pessoas”, reforça Wainstein.
Gabriel Gontijo chama a atenção para um detalhe importante em tempos de epidemia de dengue, zika vírus e febre chikungunya. Com o aumento do uso dos repelentes de mosquito, as pessoas devem ter o cuidado de nunca aplicar a substância com o protetor solar. “É importante alertar que não se deve aplicar o filtro e o repelente ao mesmo tempo. Primeiro, se aplica o protetor. Depois de 15 a 20 minutos, use o repelente, que sempre é o último a ser usado. Sempre separado”, ensina.
Autoexame
Ao contrário dos outros tipos de câncer, o diagnóstico dos tumores da pele é rápido e de baixo custo. Não é necessária nenhuma intervenção cirúrgica, somente quando há a suspeita do problema, quando parte do tecido é retirado para a realização de biópsia. Por isso, o Dezembro Laranja busca orientar as pessoas sobre a importância do autoexame na pele, que nada mais é que uma observação cuidadosa das pintas e ferimentos.
“Uma pinta que mudou de forma, aumentou de tamanho ou alterou de cor. Uma pinta que não existia e apareceu na pele. Um pequeno caroço que surgiu ou uma ferida que não cicatriza. Qualquer um desses sinais já deve ser observado como alerta para procurar um dermatologista”, orienta Gontijo.
Alberto Wainstein explica que, geralmente, o tipo de pinta que assusta os pacientes não é grave. “É aquela que parece de bruxa, de alto-relevo, mole, com cabelo. Ela é feia, mas é absolutamente benigna. Mas o que recomendamos é que, sempre que alguma coisa na pele estiver incomodando, se vá ao dermatologista. Não é caro e, só com uma avaliação visual, podemos detectar um tumor”, acrescenta.
O cirurgião esclarece que, diferentemente de outros tumores, o melanoma não precisa atingir um tamanho específico para espalhar células cancerígenas para outras partes do corpo. Com apenas 1mm, ele já é capaz de se disseminar para outros órgãos. Causado principalmente pela exposição exagerada ao Sol, daquelas que queimam a pele e chegam a causar bolhas, esse tipo da doença atinge muitas pessoas jovens. E, mesmo que hoje existam tratamentos mais efetivos, em estágio avançado, a cura é rara.
“O bom é que, se até alguns anos atrás não existiam tratamentos efetivos para pacientes com melanoma metastático, hoje temos alguns medicamentos novos. Era até muito triste, pois chegavam muitos pacientes jovens com um quadro avançado da doença e não tínhamos nada para oferecer para eles. Nem esperança. Agora, as medicações são muito boas e efetivas, e agem não destruindo o tumor, mas ativando o sistema imunológico para que ele seja capaz de reconhecer e atacar as células cancerígenas. Temos esses tratamentos disponíveis no Hospital Mater Dei. Infelizmente, esses tratamentos não são acessíveis a todos, com muita restrição no sistema público de saúde. No privado, são poucos hospitais que têm esses remédios disponíveis e é muito caro”, conclui Wainstein.
Estado de Minas
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