A medida que entram no 9º mês de gestação, algumas mulheres começam a ter dúvidas sobre como se prepararem para o parto normal
Pensando em apoiar essas gestantes e dar a elas informações claras sobre o assunto, o Blog da Saúde conversou com a chefe da Casa de Parto de São Sebastião, no Distrito Federal, Vanessa Barbosa. Com o apoio da Coordenação Geral de Saúde das Mulheres, do Ministério da Saúde, foram elaboradas respostas sobre questionamentos comuns nesse período.
A Casa de Parto de São Sebastião (DF) oferece assistência a mulheres com baixo risco gestacional e que fizeram pré-natal na região. Atende, em média, 40 partos por mês, uma referência nacional das casas de partos no Brasil.
É certificada como Hospital Amigo da Criança por respeitar todos os passos para aleitamento materno exclusivo na primeira hora de vida e em todo o período de internação das mães e bebês. Na casa de parto não é indicado o uso de mamadeiras, chupetas ou fórmulas industriais, como orienta o Ministério da Saúde. Além disso, é a única Casa de Parto do país que funciona apenas com enfermeiros obstétricos.
Confira a seguir as perguntas e respostas sobre o preparo para o parto normal:
1.Quais são os sinais do trabalho de parto?
Resposta: Esse período pode ser iniciado com as contrações e aí a mulher vai observar se começou uma contração e dali, mais ou menos uma meia hora, ela vai ter outra. Perto da data do parto a mulher poderá sentir sua barriga endurecer, com contrações que não duram muito tempo. Antes de pensar em sair para o hospital, tome um banho, repouse e veja se essas contrações continuam fortes e regulares. Pode ser que ainda não seja o trabalho de parto, mas só um treino.
Dias antes do parto poderá sair por sua vagina um muco grosso amarelado, como uma clara de ovo, com rajas de sangue, esse é o tampão mucoso. É um sinal de que o parto está próximo e esse sangramento faz parte das etapas.Caso venha um sangramento vermelho vivo, em grande quantidade, a orientação é que ela siga imediatamente para o hospital.
Por ser um momento de muita ansiedade para a mulher, é importante que ela, em caso de dúvidas, busque o atendimento profissional para ser avaliada. Aproveite o pré-natal para se preparar para todas as etapas que virão e tire todas as dúvidas para se sentir tranquila e confiante para o parto.
2. Preciso me depilar para o parto?
Resposta: Não é obrigatório e nem necessário se depilar quando estiver em trabalho de parto. Os pelos são uma proteção natural para a vagina não havendo necessidade da retirada deles. Caso a mulher queira aparar os pelos, tudo bem, mas esse procedimento não interfere no momento do parto e se for da vontade dela fazer, que a depilação seja realizada com antecedência.
Caso ela escolha a depilação com gilete, no dia do parto, pode abrir uma pequena lesão na pele que pode ser uma porta para uma infecção. Cuidado! Não é preciso fazer a raspagem dos pelos íntimos nem em casa, nem quando chegar à maternidade.
3. Preciso ficar em jejum para o parto normal?
Resposta: O trabalho de parto é desgastante e exige muita energia da mulher. Dê preferência a comidas leves e sucos naturais, que são de fácil digestão, lembrando que as porções, tanto das bebidas quanto dos alimentos, devem ser pequenas.Não precisa ficar de jejum e nem deve ficar para que não faça a hipoglicemia (que é quando o nível de açúcar no sangue encontra-se muito baixo, levando a mulher a fraqueza, tonturas, enjoos, vômitos e até desmaios).
Se ela quiser, pode comer um chocolate ou rapadura, um doce para elevar a glicemia. É importante que ela se alimente, mesmo que esteja com náuseas.
Se ela tiver com a pressão alta ou tenha problemas de pressão alta, aí é necessário mais cuidados com a alimentação e ela deva evitar alimentos gordurosos e frituras. Caso queira se alimentar normalmente, como ela faz todos os dias, pode se alimentar. Não tem problema!
4. O que fazer se a bolsa romper?
Resposta: Não necessariamente quando a bolsa rompe significa que o bebê está prestes a nascer. Se ela tiver contrações regulares e a bolsa romper, normalmente evolui mais rápido o parto, mas a bolsa também pode romper mesmo sem contrações.
Observe alguns sinais: Caso a bolsa rompa e o liquido for claro, pode se organizar, toma um banho e ir ao local onde planejou ter o bebê com calma.
Agora, se a bolsa rompeu e o líquido é meio esverdeado ou amarelado, ela terá que ir imediatamente à maternidade, Centro de Parto Normal ou hospital. Se o líquido não estiver transparente pode ser uma indicação de uma emergência.
5. E se a bolsa não romper naturalmente, o médico vai precisar rompê-la?
Resposta: Se a bolsa não romper durante o trabalho de parto, mesmo na hora do parto pode romper, então, não necessariamente, ela precisa de interferência para esse processo. A própria evolução do parto pode levar ao rompimento e em casos bem raros, pode ser necessário um pique na bolsa pra ela romper.
O bebê pode, inclusive, vir dentro da bolsa que é chamado de parto empelicado. A criança sai do ventre da mãe ainda dentro da bolsa gestacional.
Raramente pode acontecer da equipe obstétrica precisar romper a bolsa ainda na barriga da mãe para fazer com que o bebê nasça. Se esse for o caso, precisa sempre ser conversado com a mulher, explicado antes o motivo. O rompimento da bolsa pode ajudar a acelerar o parto.
Isso será necessário, por exemplo, quando a mãe está há horas com dilatação completa e o bebê não desce, tem muito líquido na placenta ainda e o bebê não consegue descer totalmente. Pode ser um método usado, mas sempre com a concordância da paciente.
6. Preciso fazer lavagem intestinal?
Resposta: A mulher não precisa, de forma nenhuma, fazer a lavagem intestinal! A mãe já está tendo contrações e ter que lidar também com cólicas intestinais é bastante incomodo. Não é também necessário fazer a lavagem na semana que antecede o parto, nos dias que ela percebeu a evolução para ganhar o bebê.
Não há problema caso a mulher evacue durante o parto e isso é totalmente natural. Às vezes, há mulheres que preferem ter uma alimentação com menos resíduo sólidos no período que antecede o parto já que incomodo para se alimentar é grande e ela prefere comer alimentos de fácil digestão. Isso é pessoal.
7. Até quando deixar evoluir o parto normal? Existe limite de tempo para a evolução do parto?
Resposta: O tempo que dura o trabalho de parto pode variar para cada mulher. Considera-se parto ativo quando a grávida já está com quatro centímetros de dilatação, com contrações frequentes e regulares. No mínimo três contrações, de 30 a 35 segundos cada uma, em dez minutos. Logo, se a mulher estiver com quatro centímetros e uma contração apenas, esporádica, ela ainda não está em trabalho de parto.
Muitas mulheres, achando que já estão em trabalho de parto, afirmam que esperaram até 40 horas para o bebê nascer. Trata-se de um engano, já que ela não estava em trabalho de parto ativo, e sim no período pródromo (que antecede o período ativo – quatro centímetros de dilatação, com contrações frequentes e regulares).
Se a mulher já deu entrada no serviço de saúde, está com quatro centímetros com contrações regulares e frequentes, é normal que evolua, mais ou menos, um centímetro por hora. Com o período expulsivo, que é finalmente quando a cabeça do bebê está bem perto de sair, daria um total de 10h às 12h. Mas esse tempo é muito variável conforme o caso.
É fundamental entender cada uma das fases que envolvem o nascimento do filho. Porque muitas vezes, ainda não está em parto ativo, é que a equipe obstétrica indica que ela não fique onde escolheu ter seu bebê ainda. É muito melhor ela ficar em casa, tentar descansar.
“Às vezes a contração é irregular e demora 30 minutos pra voltar. Então ela tem de descansar, ficar no apoio da família. Então qual é a resposta aqui? Até quando deixar evoluir? Até quando estiver tudo bem”, reforça Vanessa.
Vanessa também alerta que é importante verificar o coração do bebê a cada meia hora, juntamente com os sinais maternos. Também há outro detalhe: se parou a dilatação e ela está há três ou quatro horas sem evolução nenhuma, precisa entender que pode haver a necessidade de intervenção, de uma cesariana por algum motivo.Lembrando que há mulheres que podem passar por todas as etapas do parto normal em duas horas. Não é tão comum, mas pode acontecer.
8. Quando é necessário fazer a epsiotomia?
Resposta: A epsiotomia é um corte feito na região do períneo (área muscular entre a vagina e o ânus) para abrir o canal de parto. Alguns estudos mais recentes sobre o assunto avaliaram que não há indicação que o procedimento seja benéfico para a mulher, salvo os casos, excepcionais, onde seja preciso fazer alguma manobra para auxiliar a saída do bebê. Por exemplo, um distorce de ombro, que é quando nasce a cabeça e o ombro fica preso, nesse caso é necessário ampliar o espaço para ajudar a fazer a manobra que irá virar o bebê. Não é nem pra tirar o ombro porque a pele do canal vaginal não prende o bebê.
Logo, a episiotomia não é um procedimento comum, cientificamente comprovado como benéfico, em casos de parto normal.
9. Como e quando se deve fazer força durante o parto normal?
Resposta: A mulher não precisa fazer força durante o trabalho de parto como um todo. O corpo dela já está dilatando e quando vem a contração, o que ela precisa fazer e respirar e esperar a contração passar.
Só fará força quando o corpo dela demandar. E que horas vai ser essa? Quando o bebê estiver saindo e é só nesse momento. Então ela não precisa fazer força com dilatação de oito centímetros, com dez centímetros. Porém, se ela está com dez centímetros - dilatação total, o bebê coroou e a cabeça do bebê pressionou o assoalho pélvico naturalmente ela vai sentir vontade de fazer força, o corpo mandará que ela faça isso. Em via de regra a mulher terá uma vontade incontrolável de fazer força. Ela segue seus instintos e, quando a vontade chegar, faz força da forma que for mais natural para ela.
“Então nada de fazer força antes, porque se ela fizer, não vai respirar direito, o corpo vai liberando hormônios que não fazem bem para o momento do parto, ela vai ficar ansiosa, mais nervosa esperando por um resultado que ainda não virá”, explica Vanessa.
Para lidar com essa etapa é importante que a mulher use os recursos disponíveis durante a dilatação como exercícios de bola (pilates), andar, agachar, banho morno, aquilo que tranquilizará, reduzirá a ansiedade e a apoiará para que ela espere o momento certo.
10. Qual a diferença entre uma contração verdadeira e uma falsa?
Resposta: Essa contração de treino, chamada de Braxton Hicks, são contrações normalmente indolores chamadas de falsas. A barriga endurece toda, mas a mulher não sente dor ou ela pode sentir um pequeno incomodo, depende da sensibilidade da mulher. A contração esta presente durante toda a gestação, mas são esporádicas, indolores, curtas, irregulares e sem direção.
As outras contrações que estão já estimulando o parto são dolorosas, intensas e regulares. A intensidade da dor depende. Pode ser bem leve, como uma cólica, ou com dores mais intensas.
11. Quando o fórceps é usado no parto?
Resposta: O fórceps não é uma prática usual no Sistema Único de Saúde (SUS). A ferramenta pode causar lesões neurológicas graves no bebê.
12. Como é o parto induzido e quando ele é necessário?
Resposta: O parto pode ser induzido quando se utilizar de fármacos que estimulem a dilatação e a contração. Podem ser usados medicamentos diretamente na vagina ou intravenosos, combinados ou não. Há indicação quando a mulher chegou a 41 semanas de gestação e ainda não entrou em trabalho de parto. Ou a bolsa rompeu, mas ela não está com contrações eficazes, fortes e aguardou 12 horas, 18 horas e não entrou em trabalho de parto ativo.
13. O que é parto humanizado?
Resposta: O parto humanizado pode ser normal, natural ou pode ser uma cesárea, por exemplo. Ser humanizado é respeitar a mulher, a pessoa como um ser com especificidades, é não aplicar métodos e padrões indiscriminadamente, individualizando a assistência para cada um, de acordo com a sua necessidade. É oferecer uma assistência personalizada, ouvir, escutar, atender, dentro do possível, as necessidades da mulher, os desejos dessa mulher.
“Por exemplo: o bebê pode ser colocado pele a pele após uma cesárea. Isso é humanizar”, explica Vanessa. Não será humanizado quando a mulher não for ouvida e for obrigada a ficar numa posição, durante o parto, porque é melhor apenas para o profissional médico e não para ela. Isso é considerado uma violência obstétrica. Parto com menor intervenção, com respeito à fisiologia e empoderamento da mulher como protagonista do parto, é parto humanizado”, finaliza a chefe da Casa de Parto de São Sebastião, no Distrito Federal, Vanessa Barbosa.
Gabi Kopko, para o Blog da Saúde
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