Sempre lotadas no verão, as praias são o destino preferido por grande parte dos brasileiros nas férias. Um banho no mar ou uma caminhada na areia, contudo, pode ser interrompido de maneira bastante desagradável por uma “queimadura” de cnidário, como as águas-vivas e as caravelas
Número de ocorrências é maior no verão. Em um único fim de semana de janeiro foram registrados 6.665 casos no litoral catarinense
Foi o que aconteceu com a publicitária Michellen Amancio, de 38 anos, durante as férias de 2013 no município de Piaçabuçu, em Alagoas. “Entrei no mar e senti uma ardência no braço. Passei a mão e os tentáculos ainda enrolaram no meu dedo”, relembra.
“Meu braço começou a ficar vermelho, a arder e queimar”, conta. Antes de receber auxílio médico, Michellen ouviu os mais variados conselhos dos amigos. “Todo mundo me falava para urinar em cima, mas eu não acreditei. Outros me falaram para passar vinagre. Tem muito conhecimento popular, aquelas coisas que nossa avó falava antigamente”, comenta a publicitária, que desta vez passa as férias na Bahia, onde também já viu caravelas pela praia.
As ocorrências de queimaduras com animais marinhos são recorrentes. Apenas em um fim de semana de janeiro, o Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina registrou 6.665 casos no litoral do estado. Os primeiros sintomas são vermelhidão, ardência e dor intensa no local afetado, que podem durar de 30 minutos a 24 horas.
O veneno tem ação tóxica na pele humana, podendo causar inflamação extensa e até necrose. Em casos mais graves, pode provocar ainda arritmias cardíacas, alteração no tônus vascular e insuficiência respiratória por congestão pulmonar. Há também relatos de dor de cabeça, náuseas, vômitos, febre e espasmos musculares. Em geral, a gravidade depende da extensão da área atingida.
“É fundamental prestar atenção durante as primeiras 24h após o acidente. Se a pessoa tiver um fenômeno sistêmico, como enjoo, tontura e vômitos, ela deve procurar atendimento especializado. São sinais de alerta de que outras providências serão necessárias, como o uso de antialérgicos e corticoides”, explica João Aveleira, dermatologista do Hospital Federal da Lagoa, no Rio de Janeiro (RJ).
O óbito, apesar de raro, pode ocorrer devido ao envenenamento (insuficiência respiratória e choque) ou por anafilaxia (reação alérgica grave). Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, mostram que, entre 2000 e outubro de 2015, foram registrados 18 óbitos no país após contato com plantas e animais marinhos peçonhentos, como águas-vivas, caravelas, bagres, peixes-pedra, entre outros. “São casos mais raros, mas podem acontecer”, ressalta o médico.
Primeiros socorros
Afinal, qual é o procedimento correto para os casos de queimaduras por esses animais? “É importante é que a pessoa saia logo da água. Dependendo do grau da queimadura, a dor é forte e a pessoa pode ter problema de respiração. Então a primeira coisa é sair da água e lavar a região”, recomenda João Aveleira. Já na areia, é preciso ter cuidado com o que será usado na pele, para não agravar o quadro. “Não se deve friccionar com toalha, pois isso vai irritar a pele e favorecer a penetração do veneno. O ideal é lavar com água salgada, a do mar, de preferência gelada”, orienta.
Enquanto a água marinha é capaz de lavar o veneno do local, outro produto simples é recomendado para inativar as células dos tentáculos que ainda não liberaram o veneno. “O vinagre pode neutralizar o veneno e ajudar a diminuir a dor”, acrescenta o dermatologista. Lembrando que os tentáculos do animal devem ser retirados com o uso de luvas e pinça.
O principal alerta aos banhistas é o de jamais usar água doce nessas queimaduras. “A tendência das pessoas é lavar com água doce, mas as águas-vivas e as caravelas têm pequenas espículas que vão liberar o veneno justamente com esse contato”, alerta o médico. Segundo ele, as compressas com água doce e morna só são recomendadas para queimaduras por determinados peixes venenosos ou com ferrões.
Ao contrário do popularmente pregado, também não se deve urinar na região afetada ou usar qualquer outro tipo de produto, como bebidas alcoólicas e refrigerantes. “A pessoa vai perder tempo em vez de seguir logo o procedimento correto, e algumas substâncias ainda podem irritar a pele. Qualquer irritação pode até facilitar ou aumentar a disseminação do veneno. Isso vai atrasar os cuidados e não vai melhorar em nada o indivíduo”, destaca o dermatologista.
Para avaliação do envenenamento, é importante o auxílio médico, o mais rápido possível. Se necessário, o paciente poderá receber medicamentos, como corticoides tópicos e analgésicos.
Ana Cláudia Felizola, para o Blog da Saúde
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