Demonstrando habilidade política, ministro Alexandre Padilha convence concorrentes a desistir de disputa e acaba eleito por aclamação presidente do Conselho Nacional de Saúde, órgão encarregado de formular políticas e fiscalizar a administração da área
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, conseguiu ontem a primeira vitória de sua gestão. Depois de 40 dias de articulação, ele foi eleito por aclamação como presidente do Conselho Nacional de Saúde, colegiado encarregado de formular políticas e de fiscalizar a administração na área.
Mais do que a prerrogativa de chefiar o conselho, com a vitória Padilha torna mais distante um problema enfrentado por seu antecessor, José Gomes Temporão: a oposição constante a propostas por ele formuladas, além de críticas abertas contra a sua forma de gestão.
Desde o discurso de posse, Padilha mostrou estilo totalmente distinto. Enquanto Temporão procurou apontar problemas no conselho, o novo ministro garantiu que uma de suas principais missões seria garantir a representatividade do colegiado. "Ali ele lançou sua candidatura", afirmou um dos integrantes do conselho, Arthur Custódio Sousa. Na plataforma, a principal proposta de Padilha foi a construção de consensos.
Embora tenha sido feita por aclamação, conselheiros sabiam que a escolha do ministro poderia passar um recado que há tempos eles querem evitar: o de perda do poder. A tradição sempre foi de a presidência do conselho ser assumida pelo ministro.
Essa espécie de tabu foi quebrada em 2006 com a eleição de Francisco Batista Júnior, representante dos trabalhadores da Saúde, para o posto. Júnior foi reeleito nos anos seguintes e, este ano, não apresentou candidatura - para alguns, já prevendo a difícil batalha que enfrentaria com o ministro-candidato.
Nesta semana, foi a vez de Padilha convencer a representante de usuários, Jurema Werneck, a retirar sua candidatura. Na véspera da eleição, ele teve uma longa conversa com a candidata e com demais representantes dos usuários. Hoje pela manhã, todos estavam convictos de que Jurema sairia da disputa. O único receio do grupo seria o de passar a imagem de que a desistência representaria um sinal de "alinhamento" com o ministério.
Questionado, Padilha garantiu que o conselho continuará independente para fiscalizar. "Não sou o primeiro ministro ou o primeiro gestor a se tornar presidente", rebateu. Integrantes sabem, no entanto, que agora será preciso um esforço maior para garantir a "identidade" do colegiado.
Revisão. A representante da comunidade científica no conselho, Lígia Bahia, avalia que a vitória de Padilha vai exigir uma revisão da forma de atuação do colegiado. "É preciso maior participação. Temos de reagir aos riscos de cair na discussão burocrática", defendeu. Mas ela acredita que o resultado de ontem pode trazer benefícios. "A vitória não significa que Padilha tenha recebido um cheque em branco. O conselho não é do ministro. Temos de estar conscientes de que ele é do governo. Nosso papel de controle tem de ser mantido", explicou.
Lígia acredita, no entanto, que, passada a eleição, é preciso cobrar do ministro sua promessa de reforçar a representatividade do conselho. "Que tal cobrar dele maior participação de outros atores do governo, de outros ministérios?"
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110217/not_imp680594,0.php
Nenhum comentário:
Postar um comentário