GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
Neste sábado, quem passou pela tradicional feirinha de antiguidades da praça Benedito Calixto, em São Paulo, se deparou com um protesto um tanto inusitado: cerca de vinte manifestantes se reuniram para tomar uma overdose de remédios homeopáticos.
Especialistas reagem a protesto contra homeopatia
O evento faz parte de uma manifestação global que vai ocorrer em outras 79 cidades do mundo inteiro neste fim de semana --uma campanha encabeçada pelo grupo britânico 10:23.
A ideia, segundo os organizadores do movimento, é protestar contra a falta de evidências científicas que demonstrem a eficácia dessas medicações.
Às 10h23 da manhã, pontualmente, os céticos paulistanos entornaram vidros inteiros de remédios homeopáticos. O horário é uma alusão à constante de Avogadro, referência usada na química para calcular quantidades de substâncias.
"Isso é o que eu chamo de suicídio homeopático", disse um dos manifestantes após sorver todo o seu comprimido. 'Se eles realmente funcionassem, eu estaria agora caído no chão, com espuma saindo pela boca'.
O analista de sistemas Kentaro Mori, um dos coordenadores do protesto, também não parecia temer qualquer efeito colateral de uma suposta overdose.
"Todas as leis da física e da química garantem que não vai dar nenhum efeito", disse ele, após virar uma dose inteira do composto feito à base beladona, uma planta tóxica que é diluída para produzir muitos desses remédios.
"A diluição é tão grande que para se achar uma única molécula da substância teríamos que administrar 6 bilhões de doses para 6 bilhões de pessoas durante 4 bilhões de anos", completou o também analista de sistemas Carlos Bella, 38, que comprou seis frascos por R$ 50 para fazer o protesto.
"Dá pra ver que é o açúcar mais caro do mundo", ironizou o advogado Alexandre Medeiros, 40.
Alguns instantes depois, aproximou-se um grupo de terapeutas homeopatas e adeptos dessas medicações.
A designer gráfica Marisa Luiz, 53, que toma esse tipo de remédio há mais de cinco anos, classificou o protesto como uma "palhaçada".
"Eles não conhecem princípios da homeopatia. Se eles realmente quisessem uma overdose, teriam que tomar várias vezes ao dia, e não assim, de uma vez só", afirmou.
Rubens Dolce Filho, presidente da Associação Paulista de Homeopatia, concorda.
"Isso é uma bobagem enorme. Não existe overdose em homeopatia dessa forma."
A terapeuta homeopata Ana Paula Macedo começou a notar que alguns dos céticos apresentavam sinais no corpo de possíveis efeitos colaterais da superdosagem.
"Alguns estão com pontos vermelhos nas faces e estão tomando muita água porque a boca está seca. É um sinal de que está acontecendo alguma coisa".
O biólogo Yuri Grecco, 32, do grupo de manifestantes, rebate: 'Dizer isso é de uma desonestidade intelectual tremenda. Eu suo o dia inteiro porque sou obeso e o sol está bem forte'.
Bella resume a ideia do movimento: "Não estamos lutando contra um laboratório específico. Estamos alertando para uma situação em que há dinheiro público financiando tratamentos e pesquisas sem que haja demonstração de que a homeopatia tem uma base, que é uma ciência".
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/871244-manifestantes-se-reunem-para-tomar-overdose-de-remedios-homeopaticos-em-sp.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário