Pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu (SP) desenvolveram uma nova linha de curativos à base de sangue, capazes de curar até 75% das feridas crônicas.
Os biocurativos usam plasma e plaquetas, obtidos em bancos de sangue. Esse material muitas vezes vai para o lixo porque fica inválido para a transfusão sanguínea.
Nos últimos oito anos, os curativos foram testados em 2.100 pacientes. Agora, estão na fase de patenteamento pela Unesp --por isso, ainda não estão à venda.
São três tipos de curativo: com plasma, com plaquetas e com os dois componentes na mesma fórmula. Cada um é indicado de acordo com a situação da ferida --se é extensa, por exemplo.
"Temos pacientes com feridas que não cicatrizam há 40 anos. Já usaram de tudo e não tiveram resultado. Chega a ser emocionante quando conseguem, finalmente, se curar", diz a médica Elenice Deffune, professora de hematologia da Unesp e coordenadora da pesquisa com os biocurativos.
SEM DESPERDÍCIO
A ideia dos curativos nasceu em 2001, a partir de um inconformismo de Elenice, que trabalhava no Hemocentro do HC da Unesp. Ela se incomodava com o descarte rotineiro dos derivados do sangue usados em transfusões.
As hemácias são as mais aproveitadas. Já as plaquetas e o plasma têm prazo de validade reduzido e nem sempre são utilizados. O plasma vale por 12 meses e, as plaquetas, por apenas cinco dias.
Os estudos clínicos com o produto, na forma de pomada, começaram em 2003, em pacientes com grandes feridas na região sacral e nas nádegas _em geral, acamados há muito tempo.
Na fase seguinte dos estudos, foram examinados tecidos das feridas, e os pesquisadores perceberam que, embora houvesse vascularização no local, havia poucas células-tronco.
Na última fase da pesquisa, entre outras adaptações, foram extraídas células-tronco do tecido adiposo do paciente, que foram cultivadas em laboratório e incorporadas ao curativo (gel).
O produto foi aplicado em cinco pacientes, que tinham mais de 40 feridas pelo corpo. "O resultado foi emocionante. Todos os pacientes tiveram feridas fechadas", conta Elenice.
Outra vantagem dos biocurativos, segundo a enfermeira Mariele Gobo, encarregada de atender os doentes no ambulatório da Unesp, é que não deixam coloração diferente no local da ferida e nem alteram a consistência da pele_ o que pode acontecer com outros produtos.
RISCO
Mas Elenice frisa que o produto tem suas limitações. Ele não é indicado, por exemplo, quando o paciente tem uma lesão causada por tumor porque o plasma e as plaquetas liberam fatores de crescimento, que podem aumentá-lo.
Outro risco do biocurativo_ainda que remoto_ é o de transmissão de doenças que por ventura estiverem no sangue (janela imunológica). "Mas é um risco menor do que aqueles que recebem hoje transfusão sanguínea."
O risco de a pessoa adquirir o vírus HIV durante uma transfusão, por exemplo, é de um em dois milhões.
Elenice explica que são tomados outros cuidados adicionais para reduzir ainda mais esse risco. "A gente só pega plasma securizado, de doadores fidelizados ao banco de sangue [que já doaram várias vezes]."
Para o clínico-geral da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Paulo Olzon, o biocurativo faz "total sentido" e pode ser uma opção eficaz e mais barata. "Ele imita a cicatrização natural."
Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail: biocurativo@fmb.unesp.br
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/877991-pomada-a-base-de-sangue-trata-feridas-persistentes.shtml
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