A proibição dos remédios inibidores de apetite, como quer a Anvisa, pode gerar um consumo excessivo de medicamentos para hipertensão, diabetes e colesterol, dizem especialistas.
Segundo a agência, é possível tratar obesidade só com controle de doenças associadas, dieta e exercícios. Médicos que atuam nessa área discordam.
"A obesidade é uma doença complexa, multifatorial. A convicção de que só dieta e atividade física podem resolver o problema é inconsistente", diz o endocrinologista Alfredo Halpern, chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas de SP.
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Ele, que é membro da Abeso (associação para estudo da obesidade) e da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), encaminhou uma carta à Anvisa, na última quarta, em resposta ao parecer técnico que pede o cancelamento do registro dos remédios.
Até agora, diz ele, não teve uma resposta.
Na quarta, a agência vai fazer uma audiência pública para discutir o assunto. A proposta do governo é tirar do mercado medicamentos com sibutramina e com derivados de anfetamina, substâncias que agem no sistema nervoso central.
Segundo a Anvisa, os remédios têm eficácia baixa, além de trazerem riscos.
"No nosso ambulatório do HC, em funcionamento há mais de 25 anos e no qual atendemos cerca de 10 mil obesos, usamos medicamentos em mais de 90% dos nossos pacientes, que são, na maioria, portadores de doenças associadas.
Orgulho-me em dizer que, como resultado geral, obtemos em média uma perda de peso significativa e uma nítida melhora nas complicações da obesidade", escreve o médico, na carta.
De acordo com Halpern, os remédios, muitas vezes, são a diferença entre um indivíduo obeso e doente e uma pessoa saudável.
"Quando nossos pacientes deixam de tomar medicação antiobesidade por algum motivo, o ganho de peso e das comorbidades é regra."
A Sbem e a Abeso elaboraram um documento, em 2010, no qual revisaram estudos sobre as drogas para emagrecimento.
"Ficou claro pelo nosso trabalho que os medicamentos podem ser muito úteis, mas que têm contraindicações e podem causar efeitos colaterais (como qualquer remédio, em qualquer doença, de qualquer especialidade)."
As 90 páginas do parecer da vigilância não convencem os especialistas: têm dados dos mesmos estudos que defendem os remédios, mas analisados sob uma perspectiva negativa.
"É muito fácil interpretar um estudo de um jeito negativo. Se for assim, é preciso excluir o registro de vários remédios", diz Halpern.
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/878003-em-carta-medico-rebate-argumentos-contra-emagrecedores.shtml
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