O tratamento com os medicamentos antirretrovirais traz muitos benefícios aos pacientes: aumentam a sobrevida e melhoram a qualidade de vida de quem segue corretamente as recomendações médicas. Mas, como os medicamentos precisam ser muito fortes para impedir a multiplicação do vírus no organismo, podem causar alguns efeitos colaterais desagradáveis. Entre os mais frequentes, encontram-se: diarreia, vômitos, náuseas, manchas avermelhadas pelo corpo (chamadas pelos médicos de rash cutâneo), agitação, insônia e sonhos vívidos. Há pessoas que não sentem mal-estar. Isso pode estar relacionado com características pessoais, estilo e hábitos de vida, mas não significa que o tratamento não está dando certo. Alguns desses sintomas ocorrem no início do tratamento e tendem a desaparecer em poucos dias ou semanas. É importante saber que existem diversas alternativas para melhorá-los. Por isso, é recomendável que o soropositivo procure o serviço de saúde em que faz o acompanhamento, para que possa receber o atendimento adequado. Nesses casos, não recomenda-se a automedicação (pode piorar o mal-estar) nem o abandono do tratamento (causando a resistência do vírus ao remédio). Além dos efeitos colaterais temporários descritos acima, os pacientes podem sofrer com alterações que ocorrem a longo prazo, resultantes da ação do HIV, somados aos efeitos tóxicos provocados pelos medicamentos. Os coquetéis antiaids podem causar danos aos rins, fígado, ossos, estômago e intestino, neuropsiquiátricas. Além disso, podem modificar o metabolismo, provocando lipodistrofia (mudança na distribuição de gordura pelo corpo), diabetes, entre outras doenças. Lipodistrofia As mudanças ocorrem pela má distribuição da gordura do corpo. Existe uma perda de gordura no rosto, glúteos, pernas e braços e acúmulo no abdômen, costas, pescoço e mamas. Essas alterações podem aparecer juntas ou isoladas. Há casos em que a gordura diminui em determinadas partes do corpo e aumenta em outras. E relatos em que o paciente somente perde gordura ou aumenta em algumas dessas regiões. As pessoas em uso de antirretrovirais devem ficar atentas, principalmente, às modificações no seu corpo e conversar com o médico que faz o acompanhamento. A primeira providência do profissional pode ser mudar algum medicamento que o paciente esteja tomando, além de indicar atenção especial à alimentação e à prática de atividades físicas. Essas duas ações podem amenizar os danos da lipodistrofia e até mesmo evitar que esse efeito colateral apareça. As alterações mais graves podem ser corrigidas por cirurgias plásticas reparadoras. Elas são gratuitas e estão disponíveis em várias unidades da rede pública de saúde de todo o país. Algumas das mais frequentes são: preenchimento facial com polimetilmetacrilato, para o tratamento da perda de gordura no rosto; lipoaspiração nas mamas, abdômen, giba (abaixo da nuca) e costas; implante de prótese glútea. Na lipodistrofia, também podem ocorrer alterações nas gorduras - colesterolO colesterol é um tipo de gordura, que o corpo precisa para ajudar a manter as células saudáveis, produzir hormônios sexuais e ter uma boa digestão. Pode ser HDL, o "bom colesterol" e LDL, o "mau colesterol". O HDL impede que a gordura se acumule nas artérias, evitando entupimento. O LDL forma placas de gordura nas veias e artérias, aumentando o risco de doenças do coração. Está presente em carnes, leite e derivados, manteiga e gemas de ovos. Frutas, vegetais, e cereais não têm colesterol. e triglicéridesOs triglicérides são um tipo de gordura que formam 90% da reserva de energia do organismo e se depositam no tecido gorduroso e muscular. Fornece energia, preserva o calor do corpo e ajuda a absorver as vitaminas A, D, E e K. Quando está aumentado no sangue, pode indicar risco de doenças do coração. Estão nos óleos vegetais e na gordura animal. - e no açúcar do sangue (glicose). São chamadas de alterações metabólicas, que podem levar ao aumento do risco de doenças do coração (cardiovasculares) e ao aparecimento do diabetes. Diabetes Alterações do metabolismo podem desenvolver resistência à insulina e, em alguns casos, o surgimento da diabetes mellitus. Nesse caso, a atenção deve ser redobrada, pois a resistência à insulina é fator de risco para o aumento da pressão arterial e de outras doenças cardíacas. Rins As alterações nos rins relacionadas ao HIV podem ser agudas (curtas, mas bastante intensas) ou crônicas (duram muito tempo). Por isso, qualquer dor na parte de baixo das costas ou ao urinar deve ser comunicada ao médico o mais rapidamente possível. Mais frequente entre as doenças, a insuficiência renal é causada pelos efeitos tóxicos da terapia antirretroviral ou por remédios usados para tratar as infecções oportunistas. Fígado Os antirretrovirais também podem causar danos ao fígado, podendo até levar à sua insuficiência. Muitos dos remédios usados no tratamento da aids e de doenças oportunistas têm seu metabolismo feito no fígado. Ou seja, para serem absorvidos pelo organismo, precisam ser “desmembrados” no fígado, o que causa sobrecarga e alterações no funcionamento do órgão. Ossos Os ossos vivem diariamente um processo de formação e reabsorção, que pode ser desregulado durante a infecção pelo HIV. Quando isso ocorre, pode surgir a osteoporose, doença que torna o osso mais frágil, aumentando o risco de fraturas. Outros fatores importantes que podem contribuir para a perda óssea são: deficiências nutricionais, baixos níveis de cálcio no organismo e hipertireoidismo (excesso de funcionamento da glândula tireoide). Alterações neuropsiquiátricas Alguns medicamentos antirretrovirais, especialmente o Efavirenz, podem desencadear agitação, alucinações, amnésia (perda da memória, temporária ou não), ansiedade, confusão mental, convulsões, depressão, dificuldade de concentração, irritabilidade, insônia, pesadelos e sonhos vívidos. Essas alterações neuropsiquiátricas são mais comuns entre os pacientes que ingerem álcool e os usuários de drogas. Portanto, é importante o soropositivo avisar ao médico se faz uso dessas substâncias. Antes da indicação dos coquetéis antiaids, será necessária a avaliação de um profissional de saúde mental. Sintomas gastrointestinais Em geral, ocorrem logo no início do tratamento e, na maioria dos casos, desaparecem ou são atenuados após o primeiro mês de uso do medicamento. Entre os mais frequentes encontram-se: diarreia, vômitos, náuseas, boca seca, dor ao engolir, azia, prisão de ventre. A alimentação é muito importante para melhorar alguns sintomas ou efeitos colaterais que podem aparecer com o uso dos medicamentos. Nesses casos, alguns cuidados adequados com a alimentação são fortes aliados e necessários para manter o equilíbrio do organismo, a hidratação do corpo e recuperar o bem-estar. Em caso de náuseas e vômitos, recomenda-se: - Não ficar de estômago vazio, pois pode piorar a sensação de náusea. - Evitar comer os alimentos preferidos, porque, quando o mal-estar passa, esses alimentos podem trazer recordações ruins. - Fazer pequenas refeições, se possível a cada 2 ou 3 horas. - Ao acordar, experimentar comer alimentos secos, como biscoitos de água e sal, de polvilho, torradas, sem tomar líquido. - Não tomar líquidos durante as refeições. - Procurar tomar bastante líquido, de preferência soro caseiroSoro caseiro para hidratação oral: 1 colher de sopa de açúcar (rasa) 1 colher de chá de sal (rasa) 1 copo de água filtrada ou fervida (200 ml). Tomar o soro em pequenas quantidades (1 colher de sopa a cada 5 / 10 minutos)., água de coco, sucos, bebidas isotônicas geladas, em pequenas quantidades. - Preferir alimentos bem cozidos e pastosos. - Evitar alimentos gordurosos (incluindo frituras), muito temperados, doces e bebidas gasosas. - Evitar alimentos quentes; preferir comidas frias ou a temperatura ambiente. - Evitar deitar-se após a refeição. Procurar descansar sentado ou recostado. Para tratar a diarreia, é indicado: - Beber bastante líquido entre as refeições: água, água de arrozReceita de água de arroz 1 colher de sopa de farinha de arroz (cheia) 1 copo de água filtrada (200 ml) ½ colher de chá de açúcar (rasa) 1 colher de chá de óleo vegetal Diluir a colher de farinha de arroz em 100 ml de água, levar ao fogo e deixar ferver de 3 a 4 minutos. Deixar esfriar, acrescentar o restante da água, o açúcar e o óleo. Misturar bem. Consumir durante o dia em pequenas porções., água de coco, chás, sucos naturais coados e especialmente soro de caseiro. - Não deixar de comer; fazer pequenas refeições de 2 em 2 horas. - Lavar e cozinhar bem os alimentos. - Evitar açúcar e doces. Quem está com feridas na boca ou sente dor ao engolir pode: - Comer alimentos macios ou bem cozidos como sopas cremosas, purê de batata, maçã cozida, banana amassada, pão de forma, miolo de pão, gelatina, pudins e flãs. - Umedecer pão ou biscoito no leite, chá (camomila, erva doce, erva cidreira, hortelã), sopa ou outros líquidos para ficarem macios. - Tomar suco natural de caju, goiaba ou laranja lima como fonte de vitamina C. Eles ajudam na cicatrização das feridas. - Usar canudo ou copo para as comidas líquidas (sopa, mingau), ao invés de colher. - Evitar alimentos apimentados ou ácidos. - Evitar alimentos e bebidas muito quentes. Preferir alimentos à temperatura ambiente, frios e bebidas geladas. Aqueles com boca seca precisam: - Beber de 6 a 8 copos de água por dia. - Chupar bala do tipo azedinha, de gengibre ou mascar chiclete sem açúcar. - Umedecer os alimentos (pão, torrada e outros) antes de comê-los. - Dar preferência a alimentos cozidos com caldos ou molhos. - Enxaguar a boca com frequência, isso ajudará a refrescá-la. Atenção: alimentos ácidos ou doces podem estimular a produção de saliva, mas podem também causar irritação na boca se tiver alguma ferida. Pacientes que sofrem de azia ou queimação no estômago podem tomar chás digestivos após a refeição (verde, hortelã ou boldo) e devem evitar: - Condimentos, pimenta de todos os tipos, alimentos gordurosos e café. - Deitar-se após a refeição. Procurar descansar sentado ou recostado. - Comer doces. Quando os remédios causam gases intestinais, é preciso: - Evitar refrigerantes, cervejas, doces, brócolis, couve-flor, couve, feijão, batata-doce. - Diminuir o consumo de milho, grão-de-bico, casca de frutas e verduras (alface, couve) - Seguir os horários habituais das refeições. - Mastigar de boca fechada e não falar enquanto come, pois isso faz engolir ar, aumentando os gases intestinais. Para evitar intestino preso, é prudente: - Aumentar o consumo de fibras na dieta, comendo mais saladas de folhas e adicionando nas refeições farelo de aveia, arroz ou linhaça. - Aumentar a ingestão de água para, pelo menos, 3 litros por dia. - Praticar alguma atividade física, o movimento estimula a musculatura intestinal. - Usar azeite ou óleo vegetal nas verduras cruas. Em situações onde há febre e suores noturnos, é necessário: - Aumentar a ingestão de líquidos. Tomar mais água, sucos de frutas frescas, sucos de vegetais ou água de coco, para repor os minerais perdidos pelo suor ou pela febre. - Manter uma alimentação variada, nos horários habituais. - Aumentar o consumo de massas, pães, cereais e arroz. Alimentos mais indicados
- Alimentos ricos em potássio como banana, batata e carnes brancas. - Pão branco, torradas, bolachas (maisena, água e sal, leite). - Arroz, macarrão com molho caseiro (tomate sem casca e sem sementes) - Batata, mandioquinha, cenoura, cará, inhame, mandioca, chuchu, abobrinha sem semente. - Carnes magras em geral (vaca, peixe, frango sem pele), de preferência grelhadas, assadas ou cozidas. - Leite de soja, leite sem lactose, iogurte natural desnatado, queijo branco ou ricota. - Frutas cruas ou cozidas sem casca como maçã, banana, pera e goiaba sem sementes. - Sucos de frutas naturais – limão, maracujá, maçã, goiaba e acerola. - Gelatina, maisena, aveia e tapioca. Evitar
-Frituras e alimentos gordurosos: maionese, linguiça, salsicha, toucinho, queijos amarelos, chocolate, sorvetes cremosos e creme de leite. - Enlatados em geral: sucos artificiais, doces e salgadinhos. - Alimentos que formam gases: repolho, brócolis, couve-flor, milho, pepino, pimentão, rabanete, nabo, salsão, cebola, alho-poró e refrigerantes. - Cereais integrais, legumes e verduras cruas, frutas secas. - Leite integral ou desnatado. - Alimentos crus. Outras alterações frequentes O tratamento da aids pode levar ao aparecimento de algumas condições associadas, como a dislipidemia (aumento das gorduras no sangue), hipertensão arterial e intolerância à glicose. A dislipidemia é caracterizada por níveis altos de triglicérides, aumento do colesterol total e do colesterol LDL (mau colesterol) e diminuição do colesterol HDL (bom colesterol). http://www.aids.gov.br/pagina/efeitos-colaterais
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