
As vítimas - dois homens de 36 e 39 anos e uma mulher de 29 anos - receberam por engano uma injeção na veia de 10ml cada de uma substância química usada como isolante elétrico nas indústrias que provocou uma parada cardiorrespiratória logo após as ressonâncias. O produto, o perfluorocarbono, usado pelas indústrias como isolante elétrico, como refrigerante de alta voltagem e em alguns casos em experimentos na medicina, era usado na clínica para ressonâncias de próstata sem contato com o organismo - inserido no reto por balão ou por meio de bolsas plásticas sobre a barriga, sem conhecimento das autoridades. O produto não pode entrar em contato com o sangue.
No dia 28, a substância foi confundida com soro fisiológico por uma auxiliar de enfermagem que estava em experiência há 10 dias na clínica e injetada na veia das vítimas. O produto ficava em uma gaveta, segundo a polícia apurou, sem identificação, acondicionada em bolsas plásticas de soro reutilizadas, também sem identificação.
Riscos
Os quatro indiciados, segundo o delegado José Carlos Fernandes, assumiram os riscos das mortes ao usarem o produto de forma experimental e ainda atrapalharam as investigações, induzindo a polícia ao erro. No relatório do inquérito, uma testemunha protegida pela Justiça declarou que a direção da empresa Ressonância Magnética Campinas (RMC) - que tem como sócia o hospital Vera Cruz e os dois médicos indiciados -, já sabia o que tinha causado a morte, antes da apreensão do produto.
O perfluorocarbono só foi descoberto na clínica dois meses após as mortes, depois do depoimento da testemunha. Até então, as investigações buscavam saber se as mortes tinham relação com o contraste (produto usado a base de gadolínio para melhorar as imagens dos exames) ou se havia algum produto tóxico injetado nas vítimas. Em seu depoimento, a testemunha afirma que em uma reunião fechada no Vera Cruz havia sido pedido "que fosse mantido sigilo, uma espécie de juramento para que a verdade não fosse dita". Ela declara ainda que o solvente era reaproveitado por ordem de um superior por ser um produto caro.
Pena
Os donos da clínica, os médicos Adílson Prando e José Luis Marins, e seus filhos, o médico Marcos Marins, que comandava a clínica, e Patrícia Prando, a chefe das enfermeiras, podem pegar de 6 a 20 anos de prisão se forem condenados por homicídio. Por fraude, a pena pode ser de até 4 anos de reclusão. "Todos sabiam e concordavam com a aplicação do produto da forma como era feita", afirmou o delegado. A substância era usada desde 2005 no Vera Cruz. O hospital, apesar de ser sócio da clínica, não era responsável técnico por ela, tendo apenas participação financeira, por isso não será responsabilizado criminalmente.
Os indiciados negaram para a polícia saber dos riscos de morte do uso do produto e afirmaram que um fita adesiva nas bolsas identificava o produto. "Não admito que possa ter existido crime, vontade de tirar a vida de quem quer que seja. Na minha visão, e não tem a ver com os médicos, teria existido sim um grande erro, uma falha", afirmou o advogado da clínica Ralph Tórtima Stettinger.
Vítimas
Tanto a técnica de enfermagem que trabalhava há dez dias e que preparou a injeção com o perfluorocarbono, como a funcionária que aplicou o produto, ambas acreditando se tratar de soro fisiológico como procedimento padrão antes da ressonância para o uso depois do contraste durante o exame, não foram indiciados pela polícia. O delegado considerou que foram vítimas e induzidas ao erro. "O produto estava armazenado sem identificação em uma gaveta, em uma bolsa de soro", afirmou o delegado.
O fato de o produto não ter sido entregue no dia das mortes para a polícia e só ter sido descoberto na clínica dois meses depois, em uma busca e apreensão, porque uma testemunha em sigilo denunciou seu uso, foi considerado uma omissão por parte da clínica que atrapalhou as investigações.
A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas, Brigina Kemp, afirmou que o produto era desconhecido do órgão que está apurando o caso e que a falha cometida pela funcionária deixou evidente a "fragilidade dos procedimentos de trabalho, nos procedimentos, e no atendimento no Vera Cruz."
Fonte R7
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