Brasília – A controvérsia causada pela contratação de 4 mil médicos de Cuba
para trabalhar na atenção primária à saúde nas regiões mais carentes do país
envolve várias questões, uma delas é a formação desses profissionais.
Em Cuba, há 25 faculdades de medicina, todas públicas, e uma Escola
Latino-Americana de Medicina, na qual estudam estrangeiros de 113 países,
inclusive do Brasil. A duração do curso de medicina em Cuba, a exemplo do
Brasil, é seis anos em período integral, depois o estudante deve fazer
especialização, que dura de três a quatro anos. Pelas regras do Ministério da
Educação de Cuba, apenas os alunos que obtêm notas consideradas altas, em uma
espécie de vestibular e ao longo do ensino secundário, são aceitos nas
faculdades de medicina.
Na faculdade, o estudante tem duas chances para ser aprovado em uma
disciplina. Se for reprovado, é automaticamente desligado do curso. Na primeira
etapa do curso, há aulas de ciências biomédicas, ciências sociais,
morfofisiologia e interdisciplinaridade.
Nas etapas seguintes do curso, os estudantes têm aulas de anatomia
patológica, genética médica, microbiologia, parasitologia, semiologia,
informática e outras disciplinas. Segundo os médicos cubanos, não existe
diferença salarial entre os profissionais, exceto pela formação – os que têm
mestrado e doutorado podem ganhar mais.
O médico brasileiro Felipe Valentin, de 30 anos, que estudou em Cuba entre
2001 e 2007, disse que os estudantes passam o sexto ano do curso em período de
internato, estagiando nas principais áreas de um hospital geral. A formação dos
profissionais é voltada para a chamada saúde da família: os médicos são clínicos
gerais, mas têm conhecimento em pediatria, pequenas cirurgias e até ginecologia
e obstetrícia.
"Essa é a grande diferença [entre os cursos de medicina do Brasil e de Cuba].
Eles focam e priorizam muito a atenção primária e já no primeiro mês de aula, os
estudantes têm a cadeira chamada Medicina Geral Integral, que é sobre Saúde da
Família", disse.
Para Valentin, esse tipo de formação facilita o trabalho do profissional na
atenção básica. "Lá, desde o primeiro ano você está dentro do hospital, dos
postos de saúde, em contato com o paciente. A gente já sai da faculdade
habituado a atender e tem mais facilidade no Programa Saúde da Família do que
os colegas formados aqui no Brasil", disse o médico, que desde que concluiu a
faculdade, há seis anos, retornou ao Brasil. Ele trabalha atualmente na atenção
básica no interior do Piauí. Valentin fez a Revalidação de Diplomas Médicos
Expedidos por Instituições de Educação Superior (Revalida) logo que voltou ao
Brasil.
Desde que o governo anunciou a contratação de médicos cubanos, a medida tem
sido criticada pelas principais entidades médicas do país. Para o Conselho
Federal de Medicina (CFM), é temerária e preocupante a contratação
de médicos formados no exterior sem que passem por exame para atestar a
qualidade da formação profissional.
"O Conselho Federal de Medicina condena de forma veemente a decisão
irresponsável do Ministério da Saúde que, ao promover a vinda de médicos cubanos
sem a devida revalidação de seus diplomas e sem comprovar domínio do idioma
português, desrespeita a legislação, fere os direitos humanos e coloca em risco
a saúde dos brasileiros, especialmente os moradores das áreas mais pobres e
distantes", diz nota da entidade, divulgada no último dia 21.
Os profissionais cubanos, e das demais nacionalidades, que irão atuar no
Programa Mais Médicos não terão de passar pelo Revalida. De acordo com o
Ministério da Saúde, eles terão registro provisório por três anos para atuar na
atenção básica e com validade restrita ao local para onde forem designados.
Todos os médicos com diploma estrangeiro e sem revalidação vão passar por três
semanas de capacitação, com foco no Sistema Único de Saúde (SUS) e na língua
portuguesa, antes de começarem a trabalhar. Ainda serão supervisionados por
universidades.
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário