Teresina - O pedreiro piauiense Aílton Alves, 39 anos, enfrentou uma longa
jornada até chegar ao Hospital Getúlio Vargas (HGV), em Teresina (PI). Vítima de
um acidente de moto na cidade de Corrente, sul do estado, no início de julho,
ele percorreu aproximadamente 800 quilômetros, em uma ambulância do Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (Samu), para receber o atendimento necessário.
Segundo sua esposa, a dona de casa Givaneide Gomes, de 32 anos, durante o
trajeto foi preciso parar em hospitais de outros dois municípios para substituir
o balão de oxigênio e repor o estoque de soro. Desde que chegou ao hospital de
Teresina, especializado em alta e média complexidade, o pedreiro tem recebido
atendimento, medicação e curativos adequadamente, na avaliação de Givaneide.
"O atendimento está sendo bom, ele é medicado, não falta remédio, todo dia
fazem os curativos direitinho. Só queria que ele já tivesse feito a cirurgia,
mas como ainda não foi possível, o jeito é esperar", disse ela, enquanto
assisita, ao lado da cama do marido, a um programa de auditório na televisão
instalada no quarto que Aílton divide com três pacientes, também vítimas de
acidentes de trânsito.
De acordo com a assessoria de imprensa do hospital, a operação na bacia e a
colocação de uma prótese de platina no fêmur do pedreiro ainda não foram feitas
porque, na data em que deveriam ter ocorrido, as condições gerais de saúde do
paciente, incluindo pressão arterial e batimentos cardíacos, não eram adequadas,
o que levou adiamento cirúrgico.
Casos como o de Aílton Alves são comuns entre os pacientes que chegam
diariamente ao Hospital Getúlio Vargas. Administrada pelo governo estadual, a
unidade recebe pessoas vindas da capital, de cidades do interior do Piauí e de
estados vizinhos, como o Maranhão. A cada mês, são feitas, em média, 800
cirurgias, sendo 200 ortopédicas. O centro cirúrgico, que está sendo reformado,
conta com equipamentos de ponta, como o videolaparoscópio e arcos cirúrgicos
modernos. O hospital também tem duas salas equipadas com raio X de última
geração, que permite visualização melhor e mais detalhada das imagens, sem o uso
de produtos químicos para revelá-las, em um processo totalmente
digitalizado.
Além disso, até o fim do ano, a unidade deverá ser a única do estado a fazer
cirurgias cardíacas, graças à aquisição de um moderno equipamento de
hemodinâmica - relacionado à circulação sanguínea -, ao custo aproximado de R$ 4
milhões de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). O serviço, voltado ao
tratamento de doenças endovasculares, permite um procedimento mais simplificado,
menos invasivo e traumático para o paciente, conhecido como embolização, ou
seja, a oclusão dos vasos, com o objetivo de diminuir a vascularização de uma
região por meio da inserção de um cateter. Atualmente, os aneurismas cerebrais
já são tratados na unidade com a aplicação da técnica de embolização.
A equipe que vai operar os novos aparelhos, que já estão na unidade e ocupam uma
área do pátio do hospital, é treinada por profissionais do Hospital Alemão
Oswaldo Cruz, de São Paulo, por meio do Programa de Reestruturação de Hospitais
Públicos, do Ministério da Saúde. De acordo com a assessoria do HGV, até agora
procedimentos do tipo no estado são custeados pelo SUS em unidades privadas de
saúde. A expectativa, a partir da inauguração do equipamento, é triplicar o
número de procedimentos feitos hoje no setor de hemodinâmica, que totaliza 167
por ano.
A coordenadora da unidade de terapia intensiva (UTI), Jyselda Duarte,
ressaltou a boa estrutura geral do hospital, mas enfatizou a dificuldade de
atrair profissionais, especialmente intensivistas. Em sua avaliação, a situação
está relacionada, em parte, ao déficit desses médicos no mercado brasileiro e
também à falta de valorização por meio de remuneração diferenciada.
"Em geral, médicos de UTI ganham salários nos mesmos patamares dos demais, só
que se trata de um trabalho mais desgastante. Eles têm que dar plantão, dedicar
muito tempo ao estudo, lidar com estresse, com pacientes em estado grave. Além
disso, no serviço privado, em geral, eles têm remunerações melhores e preferem
não vir para a rede pública", disse Jyselda.
Agência Brasil
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