Em um teste com macacos, uma nova terapia que usa anticorpos moléculas do sistema imune obteve bom resultado em combater a beta-amiloide, a proteína que causa o mal de Alzheimer quando se acumula no cérebro
A nova técnica, desenvolvida pela Genentech, empresa de biotecnologia incorporada pelo laboratório Roche, solucionou um dos principais obstáculos no desenvolvimento de drogas contra essa doença, caracterizada pela perda de neurônios e por problemas de memória.
Em tubos de ensaio, outros medicamentos já haviam se mostrado eficazes contra a beta-amiloide, mas é difícil fazer com que uma substância injetada no sangue chegue até os neurônios que deve tratar. Para tal, é preciso cruzar a chamada barreira hematoencefálica, que protege neurônios de toxinas do sangue. Quando se trata de moléculas grandes, só aquelas com um tipo de “chave” química conseguem fazê-lo.
No trabalho desenvolvido pela Genentech, o grupo do neurocientista Ryan Watts desenvolveu um anticorpo híbrido, que possui dois braços, com diferentes funções. Um deles tem a tarefa de agarrar a proteína transferrina uma dessas “chaves” que abrem a barreira hematoencefálica.
O outro braço do anticorpo é o medicamento propriamente dito, que atua contra o acúmulo da beta-amiloide.
Força ideal
Para desenvolver a técnica, Watts juntou-se a Mark Dennis, “engenheiro de anticorpos” da Genentech. Os dois conceberam uma molécula capaz de penetrar o cérebro e, lá dentro, desativar uma proteína chamada beta-secretase 1, envolvida na produção da beta-amiloide.
Os dois já vinham desenvolvendo essa estratégia havia tempos, mas tinham dificuldade em fazer os anticorpos largarem a transferrina depois de entrarem no cérebro, o que atrapalhava seu ataque final à beta-secretase.
Em estudo publicado nesta quarta-feira (5) na revista “Science Translational Medicine”, Watts e Dennis explicam como contornaram o problema. O truque foi criar um anticorpo que não agarra a transferrina com tanta força e é capaz de largá-la depois de entrar no cérebro.
Os cientistas relatam no trabalho que haviam feito o primeiro teste da terapia em 2011, em camundongos, mas a terapia havia se revelado um pouco tóxica, pois a droga acabava atacando também células produtoras de sangue como efeito colateral.
No teste realizado agora, com dez macacos-cinomolgos, os cientistas relataram que esse problema não ocorreu, pois ajustes feitos na molécula evitaram o problema.
Usando injeções intravenosas periódicas de anticorpos, Watts conseguiu reduzir em 50% a contagem de beta-amiloide dos macacos medida no plasma sanguíneo. “Essa plataforma pode entregar anticorpos terapêuticos de maneira robusta e segura através da barreira hematoencefálica de primatas”, escreveu.
O próximo passo, segundo a Genentech, é produzir os anticorpos com pureza suficiente e pedir licença para um teste em humanos. Como macacos não desenvolvem alzheimer, será preciso ver se a terapia tem efeito sobre sintomas da doença.
Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário