Estudo mostra relação entre álcool e depressão. Dois em cada dez casos de tentativa de suicídio envolviam bebidas alcoólicas
Época de emoções e também de excessos, principalmente de álcool, as festas de final de ano acendem um alerta vermelho que deve ser levado em conta pelos cidadãos, recomendou o presidente da Associação Brasileira de Alcoolismo e Outras Drogas (Abrad), psiquiatra Jorge Jaber Filho. Em entrevista, Jaber informou que do ponto de vista fisiológico, o ser humano tem necessidade de algumas substâncias químicas no cérebro, que são os neurotransmissores, que se assemelham às moléculas das drogas, como o álcool, o tabaco, a cocaína, a maconha.
“Há uma tendência na vida das pessoas, que se radicaliza nesse momento de datas festivas, de haver falta dessa substância no cérebro. Aí, a pessoa toma alguma substância, como o álcool, que é um estimulante em pequenas doses, mas que, se tomado em excesso, acaba produzindo o efeito inverso. Em vez de um estímulo ao sistema nervoso central, ela passa a ter uma inibição do sistema nervoso central, fazendo com que aumente ainda mais a depressão, decorrente muitas vezes da lembrança de pessoas queridas que não estão mais presentes”, disse o psiquiatra.
Segundo Jorge Jaber, há uma inversão de valores nas festas de fim de ano, com crescimento do aspecto mais materialista da data e não dos valores espirituais. “De maneira que as pessoas acabam abusando dessas substâncias as quais adicionam no organismo, como adicionam presentes, comidas”. A partir daí, há um abuso que pode ser o fator determinante de doenças como alcoolismo e dependência química.
Salientou que nessa época, costuma aumentar o número de internações tanto em hospitais de pronto-socorro, como em clínicas psiquiátricas. “A situação da saúde pública ainda não conseguiu resolver a questão de leitos hospitalares e, em relação à saúde mental, vigora a política da redução do dano. Ou seja, a pessoa pode usar (álcool, no caso), desde que não cometa atos que piorem a sua vida”. Jaber disse que o Brasil está experimentando esse tipo de política mas, aparentemente, ela não tem tido o sucesso esperado. Isso é constatado pela existência de cracolândias, que são acúmulos de centenas de pessoas drogadas, em especial nas grandes metrópoles, sugeriu.
Esclareceu que quase todas as pessoas que usam álcool começaram usando tabaco. “Quase todos que usam maconha, começaram usando tabaco ou álcool e da cocaína em diante, essas três drogas são fundamentais para levar ao uso dessa droga”.
De acordo com o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), feito pelo Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas da Universidade Federal de São Paulo, a proporção de bebedores frequentes (que bebem uma vez por semana ou mais) subiu 20% no país entre 2006 e 2012, passando de 45% para 54%. A expansão entre as mulheres (34,5%) foi maior do que entre os homens (14,2%), no período pesquisado.
Em termos de concentração do consumo de álcool, o Lenad mostra que 20% dos adultos brasileiros que mais bebem consomem 56% de todo o álcool consumido. A pesquisa revela ainda que quase dois de cada dez bebedores apresentaram critérios para abuso ou dependência de álcool e que 32% dos adultos que bebem relataram não terem sido capazes de parar de beber depois que começaram.
O Lenad constatou também a relação entre abuso de álcool e depressão. Dos 5% de brasileiros que tentaram tirar a própria vida entre 2006 e 2012, em mais de dois de cada dez casos, o que equivale a 24%, a tentativa estava relacionada ao consumo de bebidas alcoólicas.
Para o presidente da Abrad, a tendência é ampliação do uso de álcool pela população, no Brasil. “O que nós temos visto é um aumento do custo na saúde pública da liberação do álcool para menores de 18 anos. E isso leva a um abuso cada vez mais cedo nos jovens, gerando alterações físicas e mentais muito importantes”. Criticou a falta de fiscalização na venda de bebidas para crianças e adolescentes, principalmente em postos de gasolina, onde os jovens compram suco ou refrigerante e tomam misturado a álcool. “Todos veem isso acontecer e não há um efetivo combate a essa prática”.
Jaber informou que não há distinção de classe social ou de nível socioeconômico entre os bebedores de álcool no país. “Os mais abastados costumam misturar vodca com bebidas energéticas ou cafeínicos, enquanto os menos abastados procuram tomar cerveja com cachaça ou fazer essas misturas chamadas batidas, que misturam cachaça com refrescos ou refrigerantes”. Destacou ainda que nas comunidades carentes brasileiras, a situação econômica favorece a venda de substâncias ilícitas, como o álcool, entre menores de idade.
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário