Foto: Nuno André / Deposit Photos |
Nem todo esquecimento é sinal de demência. Por isso, é importante entender quais falhas nossa memória está sujeita a apresentar ao passo em que envelhecemos e algumas situações específicas em que os lapsos são naturais.
— No paciente mais idoso, a gente avalia para ver se não foi por causa de um medicamento, como tranquilizantes, antidepressivos. Também há doenças que, quando não controladas, provocam esquecimento. Hipotireoidismo é uma delas — ressalta João Senger, especialista em neuropsiquiatria geriátrica.
Quadros de ansiedade e estresse também nos fazem acreditar que esquecemos, quando, na verdade, simplesmente não gravamos porque não estávamos prestando atenção. Outras vezes, é questão de que a pessoa mais velha começa a se preocupar mais com a memória com o passar dos anos, ou seja, presta mais atenção nela. Se aos 20 esquecer o que foi buscar na despensa pode ser normal, aos 70 isso vira um monstro preocupante.
— Se o idoso esquece uma coisinha, já pensa: "Estou demenciando". Ele fica com uma percepção mais aguçada dos acontecimentos. É como alguém sentar do seu lado e dizer que está com sarna e você já sentir vontade de se coçar — diz Senger.
Os estereótipos sobre a velhice não colaboram com a preservação da memória, lembra Mônica Sanches Yassuda, professora da USP. Muitas pessoas, quando atingem a terceira idade, acreditam que vão sempre esquecer e nem tentam exercitar a memória. São crenças negativas também combatidas com treinos.
As alterações mais preocupantes
A situação se torna grave quando a capacidade de guardar informações novas é afetada, como repetir uma mesma pergunta várias vezes em curto espaço de tempo.
— Todos nós, quando atingirmos uma certa idade, vamos ter dificuldades de memorizar uma lista de 10 nomes. Mas se tentamos três vezes, vamos conseguir. No Alzheimer, essa é a alteração principal: por mais que seja exposta àquela informação nova, a pessoa não vai guardar — explica Mônica Sanches Yassuda, professora da USP.
No envelhecimento normal, algumas memórias são estáveis.
— Idosos se saem até melhor do que jovens em provas de vocabulário, nos casos de igual escolaridade, por exemplo. É o "banco de dados" que não perdemos — afirma Mônica.
Mas em quadros de demência, até essas informações se confundem.
Devemos agir em prol do nosso cérebro desde cedo para manter nossa memória íntegra por mais tempo. Além dos treinos cognitivos, que comprovadamente ajudam no envelhecimento saudável e no declínio leve, ficar de olho na alimentação, controlar doenças cardiovasculares, evitar o isolamento social e a depressão e, principalmente, fazer exercícios físicos deveriam fazer parte da rotina de todo mundo.
— Cuidar do cérebro é como cuidar do nosso corpo. A gente pode envelhecer mais rápido ou mais devagar. Tem a parte genética? Tem. Mas nessa a gente não consegue mexer — lembra Senger.
Rosa Maria Medeiros Rodrigues, 62 anos, fez curso de estimulação de memória oferecido no Centro de Comunidade Parque Madepinho (Cecopam) — zona sul de Porto Alegre — por alunas da UFRGS sob supervisão da fonoaudióloga Maira Rozenfeld Olchik. Ela diz que os treinos cognitivos a ajudaram muito:
— Aprendi, por exemplo, que, se a gente vai sempre ao supermercado, deve mudar o caminho — conta.
A aposentada, que trabalhou por 23 anos na área de Recursos Humanos de uma empresa, hoje procura ler muito, fazer tricô e crochê, pintar e participar de atividades físicas no Cecopam.
Zero Hora
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