Mario Palma/UNESP (Universidade Estadual Paulista)
Toxina de vespa brasileira é esperança para nova classe de
medicamentos anticâncer
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A vespa Polybia paulista se protege contra predadores produzindo um veneno conhecido por conter um ingrediente poderoso contra o câncer. Um estudo publicado nesta terça-feira (01) no Biophysical Journal revela exatamente como a toxina do veneno, conhecida como MP1 (Polybia-MP1), seletivamente mata as células cancerosas sem danificar as células saudáveis. O MP1 interage com lipídios que são anormalmente distribuídos na superfície das células de câncer, criando buracos que permitem que moléculas cruciais vazem.
“Terapias contra o câncer que atacam a composição lipídica da membrana da célula farão parte de uma nova classe de drogas anticâncer”, diz, em comunicado, o autor do estudo Paul Beales, da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
“Esse estudo poderá ser útil para desenvolver novas combinações de terapia, em que múltiplas drogas são usadas simultaneamente para tratar o câncer atacando diferentes partes das células cancerosas ao mesmo tempo”, completa.
Uso clínico
A toxina age contra agentes microbianos maléficos por ruptura da membrana celular bacteriana. O antimicrobiano se mostra promissor para proteger humanos contra o câncer, e ele pode inibir o crescimento da próstata e câncer de bexiga, bem como células de leucemia resistente a múltiplas drogas. Até agora, no entanto, não estava claro como a toxina da vespa destruiria seletivamente as células cancerosas sem danificar as normais.
Beales e o brasileiro João Ruggiero Neto, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), que é um dos autores do estudo, suspeitam que ela pode ter algo a ver com as propriedades únicas das membranas celulares. Nas membranas de células saudáveis, os fosfolipídios são encontrados na membrana interior da célula. Em células cancerosas, no entanto, esses compostos ficam incorporados na célula e se localizam na membrana externa da célula.
"Formados em apenas alguns segundos, esses grandes poros são grandes o suficiente para permitir que as moléculas críticas, tais como o RNA e proteínas, possam escapar facilmente das células”, diz Neto, em comunicado. Segundo ele, a melhoria da permeabilidade das membranas foi surpreendente.
Em estudos posteriores, os pesquisadores planejam alterar a sequência de aminoácidos da toxina da vespa para examinar como sua estrutura pode se transformar em usos clínicos. “Entender o mecanismo de ação desse peptídeo vai ajudar outros estudos a avaliar ainda mais o potencial dele, podendo assim, ser utilizado na medicina”, diz Beales.
Por ser uma toxina seletiva, que ataca as células cancerosas e não as células normais, esse peptídeo tem potencial de ser seguro, mas outros estudos serão necessários para provar isso.
iG
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