Durante o mês de outubro, o Ministério da Saúde promoveu ações para combater a sífilis congênita, que é transmitida da mãe para o bebê
Uma das iniciativas foi conscientizar as gestantes e os profissionais de saúde sobre a importância de fazer o teste que detecta a doença logo no início do pré-natal. Assim, caso o resultado seja positivo, a gestante poderá começar o tratamento imediatamente, evitando o abortamento, a morte perinatal e as sequelas da sífilis congênita.
Dados do Boletim Epidemiológico de 2016 mostram que, entre os anos de 2014 e 2015, a sífilis adquirida teve um aumento de 32,7%, a sífilis em gestantes 20,9% e a congênita, de 19%. Em 2015 foram notificados 19.228 casos de sífilis congênita, uma taxa de incidência de 6,5 por 1.000 nascidos vivos.
A ausência ou a baixa qualidade da atenção pré-natal é um dos fatores de risco mais significativos para a aquisição de sífilis congênita. “O tratamento adequado, iniciado antes de 18-20 semanas de gravidez, independente do estágio da doença materna, apresenta eficácia de quase 100%, ou seja, evita que o bebê nasça com sífilis congênita”, explica a infectologista pediátrica e coordenadora do programa de residência em infectologia pediátrica do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), Márcia Galdino.
Todas as gestantes devem realizar teste sorológico para sífilis na primeira consulta, repetindo o teste no terceiro trimestre (em torno de 28 semanas) e no momento do parto ou aborto. “A repetição do exame é importante, pois muitas mães adquirem a doença durante a gravidez e o diagnóstico é realizado na hora do parto, quando já não é mais possível evitar a doença na criança”.
Márcia conta que um dos desafios no combate à sífilis congênita é a abordagem do parceiro. Segundo a infectologista, um pequeno número desses homens adere ao tratamento junto às parceiras. “É importante acolher e acompanhar também o parceiro no pré-natal, dar orientações sobre prevenção e fornecer o tratamento adequado, evitando possíveis sequelas, a disseminação da doença e a reinfecção da gestante”.
O caso da vendedora M.C.N. (35 anos) é um exemplo da importância da prevenção para mãe e bebê. M.C.N. só realizou o exame para diagnosticar sífilis no quarto mês de gestação e começou o tratamento no quinto mês. Para agravar a situação o parceiro não havia sido tratado. “Embora o tratamento da mãe tenha sido bem sucedido, o objetivo de evitar a sífilis no bebê não foi alcançado. O exame do bebê deu positivo”, conta Márcia.
“Fiquei muito abalada ao ver as consequências para o meu bebê. Ele teve uma crise convulsiva e foi internado na UTI, onde ficou 12 dias. Foi acompanhado por mais um mês em tratamento antes de ter alta”, lembra M.C.N.
O recém-nascido foi tratado adequadamente e ficou sem sequelas durante o acompanhamento, com ótimo desenvolvimento psicomotor. Mas poderia ter sido muito diferente. A infectologista do HFSE alerta que nenhuma criança pode ter alta da maternidade sem o resultado do exame materno.“A identificação da criança começa com a realização do exame materno para sífilis no pré-natal e no momento do parto, pois a maioria nasce sem sintomas. Sem a avaliação materna, as crianças teriam alta sem tratamento, com risco de retornar semanas ou meses depois com quadros mais graves”.
A auxiliar de limpeza, P. F. (33 anos), é casada há quatro anos, tem uma filha de oito e nunca tinha ouvido falar de sífilis congênita. O diagnóstico surgiu durante o pré-natal no Hospital Federal dos Servidores do Estado, quando passou por diversos exames de rotina, só iniciando o tratamento aos seis meses de gravidez.
Terminar a gravidez com tantas incertezas sobre a doença, só aumentaram as dúvidas e a preocupação sobre possíveis sequelas para o filho. Hoje, P.F. reconhece que precisa estar atenta e não imagina deixar de fazer o acompanhamento no hospital. "Saio esta semana já com minha consulta marcada para daqui a um mês. Seguirei à risca o que for solicitado pela médica", revela. Mãe e filho receberam alta no dia 28 de outubro, mas voltam para avaliações e exames de rotina, até que seja comprovada a ausência da doença.
“A maioria dos casos de sífilis congênita resultam de falhas em detectar e tratar a gestante corretamente. O tratamento correto implica na detecção e tratamento precoce da doença, na gestante e seu parceiro, no tratamento adequado na fase clínica da sífilis e no acompanhamento da sorologia na gravidez, após a gravidez até a sua negativação”, sintetiza Márcia.
Oportunidades perdidas quanto ao diagnóstico e prevenção, durante a gravidez, evitando assim a transmissão vertical, trazem consequências terríveis para as crianças. Muitas não chegam a nascer em consequência da natimortalidade e dos abortamentos provocados pela doença. Os estigmas da sífilis congênita tardia, bem como a possibilidade de óbito, malformações e de outras sequelas como a surdez, cegueira e as inerentes ao processo do adoecimento e da internação vividas pelas crianças, evidenciam a complexidade dessa doença que pode ser prevenida e tratada.
Saiba como é realizado o teste rápido de sífilis
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