Análise feita por faculdade de Campinas das partes internas de 26 carros de passeio mostrou a presença de micro-organismos em todos os itens
Espirrar, coçar os cabelos, o nariz, tossir e se alimentar dentro do carro são ações que, de tão comuns, acabam sendo nocivas à saúde. Uma pesquisa feita com 76 partes internas de carros constatou contaminação, em todos os itens, de até 10 mil fungos e bactérias que causam de rinites e micoses até infecções de urina, pulmonares, disenteria e convulsões, principalmente em bebês e crianças.
A análise em 26 carros de passeio foi feita pela Faculdade de Biomedicina da Devry Metrocamp, em Campinas (SP). Para a coordenadora do estudo, bióloga, pesquisadora e doutora pela Faculdade de Ciências de Alimentos da Unicamp, Rosana Siqueira, é preciso reduzir a quantidade desses micro-organismos, só que nem toda higienização minimiza os riscos.
“Às vezes a gente acaba pegando um quadro de infecção, uma febre, um desconforto abdominal, ou até mesmo uma diarreia, e acha que comeu fora. Muitas vezes não. Muitas vezes a gente levou esses micro-organismos pelas nossas mãos. É o que nós chamamos de contaminação cruzada. As pessoas precisam reduzir a quantidade desses micro-organismos nesse ambiente”, diz a bióloga.
Ao longo de cinco meses, os pesquisadores Adriana Oliveira e Helton Silva colheram e acompanharam a evolução das amostras – em diversos meios reagentes no laboratório – retiradas de 26 volantes, 26 câmbios, oito bancos de motorista e cinco cadeirinhas de bebê. “São carros comuns, o nosso, de amigos, parentes, de empresas, que muitas vezes são compartilhados por várias pessoas. Mais novos e mais antigos, com câmbio automático e câmbios normais. Quando é automático, muitas vezes a gente não coloca muito a mão nele, mas foi encontrada uma grande quantidade de bactérias ali”, explica Adriana.
Justo nos itens infantis foi encontrado o maior risco: a bactéria Shigella, responsável por infecções intestinais – com fortes dores abdominais, ulcerações das mucosas, diarreia com muco e sangue -, que é patogênica, afetando pessoas com imunidade baixa e também as saudáveis. “A infecção por esse micro-organismo leva a um quadro de desidratação da criança muito rápido. A criança não está com seu sistema imulonógico totalmente formado. É uma bactéria que abaixo de 1000 já é preocupante. Ela foi encontrada nessa faixa”, alerta Rosana.
“Teve carros em que as mães lavam com frequência o estofamento da cadeirinha, mas o carro não era limpo com frequência. E isso acaba levando para a cadeirinha, mesmo sendo limpa, a gente leva micro-organismo para o bebê. A gente tem que tomar cuidado com o todo”, alerta Adriana. Outro micro-organismo que chamou a atenção foi a presença da bactéria Klebsiella pneumoniae, que tem subtipos que vêm se tornando superbactérias. Nessa pesquisa, no entanto, não foi possível definir se era o tipo KPC.
“Nada me garante que não seja. A gente sabe que tem muitas pessoas que são portadoras, mas que não têm os sintomas. A Klebsiella pneumoniae foi a primeira a adquirir a enzima Carbapenemase [que dá a resistência a antibióticos]. Mesmo que não seja a KPC, é oportunista. As doenças são as mesmas, só a gravidade é que muda”, ressalta Rosana. Além das crianças, o grupo de risco inclui gestantes, idosos e pessoas doentes que estão, por exemplo, fazendo tratamentos intensivos de saúde e acabam mais expostas às bactérias oportunistas, que se aproveitam da fragilidade dessas pessoas.
Mãos e lixinho do carro
A maior contaminação foi encontrada nos volantes e está atrelada à higiene das mãos do motorista, principalmente, segundo o estudo. Rosana também ressaltou o risco de não limpar todos os dias a lixeirinha do carro, aquela que fica presa ao câmbio. Alimentos deixados ali, por exemplo, podem fermentar com o calor e acelerar a proliferação dos micro-organismos, assim como a umidade proveniente de dias chuvosos.
“Muitas vezes a gente consome algum alimento e ele vai ficando ali, vai deteriorando e vai causando micro-organismos ali e vão proliferando cada vez mais. A gente põe a mão e leva para outros locais, pra porta, pro volante, pro câmbio, pra cadeirinha, e até mesmo a criança”, afirma a aluna de biomedicina. Os fungos e bactérias acabam se fixando nos materiais que revestem o interior do carro. Sabe aquele cheiro ruim, de mofo, que às vezes fica no carro? É um indício forte de contaminação.
“Muitas vezes é a presença dos fungos. […]Eles se multiplicam com a umidade e vão liberando os odores, os esporos [estruturas bem pequenas produzidas pelos micro-organismos]. A gente respira e inala os fungos e os esporos, que vão para os pulmões. A gente começa a ter o quadro de tosse, pneumonia, rinite”, ressalta a coordenadora.
Cuidado na limpeza
Manter o ambiente do veículo limpo está longe de depender somente da troca do filtro do ar condicionado ou da lavagem mais superficial no fim de semana. Segundo a coordenadora da pesquisa, o ideal é higienizar uma vez a cada sete dias com aspirador de pó, pano não muito úmido e buscar os produtos próprios para a limpeza de partes internas dos carros, para não danificá-las.
“É importante deixar o carro arejado, deixar secar bem os tecidos para não formar fungos”, diz Adriana. Se a escolha for a limpeza em postos de combustíveis e locais especializados, Rosana alerta para que o motorista opte por um local de confiança. Os equipamentos usados nesses lugares precisam de higiene adequada também, ou poderão piorar na situação.
No caso das cadeirinhas de bebês e crianças, é preciso retirar o tecido e lavar normalmente com a mesma frequência da limpeza do carro como um todo, uma vez por semana. Se o tecido não se soltar, vale procurar empresas especializadas. Não adianta limpar só uma das partes e deixar o restante sem a higienização correta, segundo os pesquisadores.
G1
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