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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Sepse causa mais de 200 mil mortes por ano no Brasil

Hospital Evangélico adota na rotina de atendimentos o protocolo de sepse quando necessário

Febre alta, calafrios, dificuldades para respirar, fraqueza, pressão baixa, taquicardia, diminuição da quantidade de urina, sonolência e até confusão mental são sintomas característicos de várias doenças, inclusive sepse. Mais conhecida como infecção generalizada, a sepse pode ocorrer também em apenas um dos órgãos e despertar graves reações inflamatórias por todo o organismo.

A detecção da doença nas primeiras horas após o início dos sintomas e o atendimento adequado poderiam evitar mais de 200 mil mortes por ano no Brasil. No entanto, a redução nos óbitos esbarra na superlotação dos hospitais, na falta de equipamentos, medicamentos e laboratórios e na escassez de profissionais da saúde para os atendimentos de urgência.

Segundo o Ilas (Instituto Latino-americano de Sepse), 25% dos leitos de UTIs no Brasil são ocupados por pacientes que desenvolveram a doença, considerada a principal responsável pelas mortes identificadas na unidade. A infecção pode atingir crianças, adultos e idosos de forma grave, mas ainda é pouco conhecida entre a população e, às vezes, negligenciada pela equipe médica. Conforme o instituto, a sepse mata mais que infarto do miocárdio.

“Quase ninguém sabe o que é sepse ou já ouviu falar sobre a doença. É importante que a população saiba o que é para reconhecer os sinais e sintomas iniciais e procurar ajuda o mais rápido possível. Às vezes, o paciente chega ao pronto-socorro tardiamente e, por mais que a equipe adote todos os procedimentos, é difícil controlar a infecção”, explica a coordenadora do Ilas, Mariana Barbosa Monteiro. A enfermeira esteve em Londrina para participar de um evento de capacitação promovido pelo HE (Hospital Evangélico).

Estudo publicado pelo instituto mostrou que em média, dos casos de sepse identificados nos hospitais brasileiros, 55% resultam em óbito. Já nos países desenvolvidos, a mortalidade varia de 20% a 25%. Estima-se que mais de 400 mil casos por ano ocorram no Brasil. No entanto, o cálculo é feito de acordo com os números norte-americanos e já que há subnotificação das ocorrências nos hospitais brasileiros. Neste ano, a OMS (Organização Mundial de Saúde) incluiu a sepse como uma das prioridades no setor da saúde.

“Para melhorar esses índices, precisamos de campanhas públicas, de políticas de saúde e da implementação do protocolo de atendimento nos hospitais. É importante que a enfermagem tenha bastante conhecimento para fazer o encaminhamento precoce, que a equipe médica também esteja bem treinada e toda a equipe multidisciplinar, como fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos, esteja ciente das implicações da sepse”, ressalta Monteiro.

O Hospital Evangélico adota na rotina de atendimentos o protocolo de sepse quando necessário. Na campanha de conscientização “Tempo é vida”, a equipe dissemina as informações entre os próprios profissionais. Em linhas gerais, o protocolo prevê a administração de antibiótico e a coleta de exames já na primeira hora de atendimento. Também é necessário identificar o foco da infecção e encaminhar o paciente o mais rápido possível para um leito de UTI, mas nem sempre há vagas disponíveis.

“Nas primeiras seis horas, há uma sequência de medidas a serem adotadas pelos profissionais. De imediato, a coisa mais importante é iniciar o tratamento com antimicrobiano para eliminar a bactéria. É preciso interromper o crescimento logo no começo porque se permitirmos que a bactéria se multiplique a situação foge do controle”, frisou a médica coordenadora da UTI 2 do HE, Cintia Grion.

A chance de sobrevivência do paciente com sepse diminui 8% a cada hora quando não é administrada a medicação adequada. Ao mesmo tempo em que o combate à doença exige rapidez, também é necessário ter cautela na utilização do antibiótico, conforme lembrou a infectologista do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do HE, Fernanda Barros, durante palestra à equipe de profissionais.

“Uma pesquisa americana apontou que cerca de 70% dos antibióticos são usados de forma adequada. Então temos 30% utilizados incorretamente. Nesses 70%, mesmo quando há a indicação para o uso do antibiótico, ainda é preciso corrigir a dose, o intervalo e o tempo de duração do tratamento. Então, temos essa mortalidade que aumenta a cada hora, mas também existe um uso abusivo. É preciso haver equilíbrio para o uso racional”, alertou. O uso excessivo pode contribuir para o aparecimento de bactérias cada vez mais resistentes.

Na pediatria
Na última semana, o Hospital Universitário de Londrina passou a adotar um protocolo de sepse também para os atendimentos na pediatria. A médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HU e professora de infectologia pediátrica da UEL, Jaqueline Capobiango, destacou que o hospital é um dos pioneiros no programa voltado às crianças. “Para a infância, nós não temos ainda como temos para os adultos um programa sistematizado de abordagem rápida. Agora fizemos a abertura do nosso protocolo no Hospital Universitário baseado no Instituto Latino-americano de Sepse para tentar fazer esse diagnóstico e abordagem o mais rápido possível para a pediatria. Toda a equipe do hospital está recebendo treinamento. Há poucas publicações específicas de sepse em crianças. São muitas vidas que podem ser salvas com intervenções simples, mas em tempo adequado”, comenta.

Para reduzir a mortalidade em todas as faixas etárias, a médica defende que são necessários “recursos humanos, logística de trabalho adequada e equipamentos”. “O que adianta estar em um pronto-socorro que não tem oxímetro? Como fechar o diagnóstico? É preciso ter o mínimo para atendimento rápido, além de treinamento e educação continuada. O paciente que já está internado tem um médico responsável e uma enfermeira que está de olho nele. O problema é a porta de entrada. É aquele paciente que está no pronto-socorro, no corredor do hospital porque não tem leito. Aí é que está fazendo a diferença para diminuir essa mortalidade por sepse no País”, lamentou.

Folha de Londrina

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