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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Brasileiros estão deixando de se vacinar, levados por notícias falsas e falta de informação

Crenças de todos os tipos e relaxamento quanto ao risco de não se imunizar ajudam nesse quadro

Resultado de imagem para vacinação infantil

Para uns, incredulidade e indignação. Para outros, questão de liberdade e decisão individual e particular. Entre os extremos, inúmeros argumentos e questões sobre a gravidade da queda de cobertura vacinal entre os brasileiros. Tanto entre crianças e adolescentes quanto na população adulta e idosa.

Se há quem se preocupe e ande com a carteira de vacinação atualizada quanto às doses necessárias ao longo da vida, há quem tenha dificuldade de se manter em dia por causa do acesso aos locais de vacinação e por serem vítimas do descaso e despreparo de gestores impostos à saúde por força política e não por competência técnica e conhecimento. Há ainda os pais que são contra a vacinação e avisam que eles são os donos dos filhos, não o Estado. Ou seja, eles decidem o que fazer. O que não é verdade, já que o governo tem obrigação de cuidar da saúde pública (de todos os brasileiros) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069/90, com 28 anos de existência, garante o direito das crianças à saúde e torna obrigatória a vacinação.

Isso faz da decisão de não vacinar uma prática ilegal, ainda que exponha uma contradição entre o direito de as famílias ou individual dos pais de decidirem sobre a vida das crianças. No fim, a meta segura é garantir a preservação do interesse público sobre o particular. É saber que se o seu filho ficar doente e provocar ou for meio para contaminar o filho do outro, é o fim do seu direito! O que vale para quem não acredita na vacina, quem tem crença religiosa (ou outra verdade) que o impeça de vacinar ou qualquer outro movimento contrário à imunização. Há quem acredite que o próprio organismo é que tem de reagir à ameça, criar seus anticorpos. Para agravar esse quadro, muito se fala ainda sobre o rumo que o Ministério da Saúde (MS) tomou nos últimos anos ao se tornar uma instituição politizada, ou seja, com os cargos sendo distribuídos em um loteamento político em todas as esferas de governo.

Ciência e Pesquisa
A jornalista Nina de Abreu Carvalho, mãe de Mateus de Abreu Carvalho Neder Silva, de 10 anos, defende ferrenhamente a vacinação, e de todos: “Sou filha de biólogo, pesquisador e sempre me ative para as vacinas preventivas. Milhões são gastos e investidos na busca pela prevenção e cura de patologias clínicas que podem levar, inclusive, ao óbito. Cientistas levaram e levam anos de dedicação e estudos sérios para chegar a grandes invenções que podem nos garantir uma vida com a saúde equilibrada. Sou favorável ao investimento nessas pesquisas e ao uso de vacinas preventivas por acreditar que esse trabalho sério pode me ajudar a prevenir doenças e dar qualidade de vida saudável ao Mateus.”

Convicta, certa dos benefícios e da segurança, não só para o Mateus, mas para a família, Nina diz acreditar que cada uma das vacinas (paralisia infantil, caxumba, catapora, rubéola e tantas outras) “garantiram ao Mateus e a mim uma infância sem imprevistos, que poderiam nos tirar das nossas rotinas de vida saudável e da presença na escola e do trabalho”.

Infelizmente, o Brasil e o mundo estão pautados neste momento por uma discussão que gira em torno de doenças que estavam - ou deveriam estar - erradicadas e que, perigosamente, retornam: febre amarela, sarampo, poliomielite... O conhecimento e o convencimento são as armas mais poderosas, mais do que a força para fazer cumprir a lei, na luta para garantir o bem-estar da saúde de todos, ainda mais num mundo globalizado. É incrível essa discussão mais de 100 anos depois da Revolta da Vacina, insurreição popular ocorrida no Rio de Janeiro no início do século 20, quando a população foi contra a campanha da vacinação obrigatória, posta em prática pelo sanitarista Oswaldo Cruz, contra a varíola. Controlada a situação, é bom registrar que em pouco tempo a epidemia foi erradicada da cidade. As vacinas são seguras e não causam a doença. Os imunizantes induzem o corpo a produzir os anticorpos necessários à proteção.

Era Digital
Para complicar, em plena era digital, surgem novos obstáculos, como as famosas fake news, as notícias falsas publicadas em portais e redes sociais e as inúmeras mensagens de WhatsApp repassadas indiscriminadamente sem confirmar a veracidade das informações, uma boataria on-line sem fundamento que tem impactado, ou pelo menos tornado mais difícil, o cuidado com a saúde no Brasil e em outros países. De acordo com estudo feito pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), as notícias falsas se espalham 70% mais rápidas que as verdadeiras, de forma mais aprofundada e abrangente. É preciso estar atento para identificar, não disseminar e não se deixar levar por dados errados porque não são verdade. Isso é fato.

Maria de Lourdes de Sousa Maia, coordenadora clínica de Bio-Maguinho/Fiocruz, vinculada ao Ministério da Saúde (MS) e a mais destacada instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina, avisa que “a Fiocruz está preparada para imunizar todos e que a vacina é a melhor medida para controlar doenças. Digo sempre que, mais difícil que se casar é manter um excelente casamento. Mas difícil que conseguir controlar uma doença é manter a doença sobre controle. A vacina nunca fará o mal”, alerta.

Proteção coletiva
Maioria das vacinas do calendário brasileiro exige 95% de cobertura para que a meta de erradicação, controle e prevenção das principais doenças seja alcançada

Desde 2004, o Ministério da Saúde (MS) organiza os calendários de vacinação por ciclos de vida – crianças, adolescentes, adultos e idosos. Segundo relatório recente feito pelo Unicef e Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa de cobertura entre as crianças caiu no Brasil nos últimos três anos. A tríplice viral teve queda de 15%, enquanto a vacina contra a poliomielite caiu 17%. Mas essa tendência também pode ser vista nas demais faixas etárias. Retrato que preocupa porque afeta todos, vacinados e não vacinados. Eva Lídia Arcoverde, coordenadora de imunização da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), explica que não existe um fator único para essa situação: “A baixa vacinal acumulou-se ao longo dos anos, não surgiu agora. No entanto, chegou a um ponto que coloca em risco a nossa população em relação a doenças antes controladas ou eliminadas no país”.

A coordenadora da SES-MG chama a atenção para o fato de pais que não viram determinadas doenças circularem e, por isso, acreditam que não é importante vacinar seus filhos ou acabam deixando para depois. “Tem ainda a questão do acesso à sala de vacina, que geralmente funciona só em horário comercial, quando os pais estão trabalhando. Por isso, é preciso uma revisão dos municípios para atendimento fora do horário, maior flexibilização. Quem sabe um sábado por mês ou estender um pouco a carga horária semanal... São sugestões.”

Quanto às fake news, Eva Arcoverde condena a atitude, já que circulam e põem em descrédito a ação da vacinação. “O pior é que colocam dados de estudos e científicos que dão falsa veracidade e a população acredita.” Quanto à situação de Minas, maior estado em número de municípios, há agravantes para a baixa vacinal como “o difícil acesso de moradores da zona rural, inclusive em informação, e mesmo os que vivem na região metropolitana há quem more em regiões sem posto de saúde e precisam pagar pela condução, e nem sempre têm dinheiro. E pensem nos obstáculos da região Amazônica, a questão da acessibilidade...” Enfim, fato é que cada um enfrenta problemas, mas todos têm de assumir o protagonismo de buscar o melhor caminho para se prevenir contra doenças que têm vacinas à disposição.

Sistema Nominal
Eva Arcoverde destaca os principais focos de luta da vacinação atualmente: “O primeiro é lidar com os grupos antivacina. Apesar de não impactar dentro do nosso estado, há pessoas contra a vacina e que acreditam que ter a doença fortalecerá o sistema imune. Mesmo com a história mostrando que a vacina previne e, caso a pessoa tenha a doença, será da forma mais branda. Em segundo, a informação. Antes, a cobertura vacinal era fundamentada em dados administrativos referentes a doses aplicadas, metodologia que também pode apresentar imprecisões, mas tem menor exigência. Agora, o sistema é nominal, requer dados pessoais que podem afugentar quem não quer informar. A terceira questão que chama a atenção são as campanhas. Temos duas grandes, a da influenza, geralmente em abril, e a de multivacinação (de atualização) em agosto ou setembro, que alerta sobre a importância de todas as vacinas. Alguns reclamam que faltam campanhas para uma doença específica, mas é preciso saber que, epidemiologicamente, não há necessidade. Os postos ofertam 19 vacinas”.

Conforme Eva Arcoverde, tanto as crianças quanto os adultos precisam estar com a vacinação em dia. “O cartão de vacina é um documento. E os adultos têm de se vacinar também e não só levar os filhos. Atualmente, quatro vacinas são recomendadas aos adultos: hepatite B, febre amarela, tríplice viral e dupla adulto (difteria e tétano). Quanto aos pais que não levam os filhos, lembrem-se de que não têm o direito de negar a vacina. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), são vistos como negligentes e sofrerão penalidades. O Estado pode obrigá-los, sim, porque ele não vacina pela proteção do indivíduo, mas pela coletividade. O papel do governo é proteger toda a população. Todos somos responsáveis e responsabilizados.”


Saúde Plena

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